FAMÍLIA ROMANATO

Existem inúmeras formas de se prestar homenagem a uma pessoa : um quadro, um busto, um título, um nome de rua, etc,etc. Mas a prestada a Carlos Romanato, que teve a sua imagem inserida em um bandeira – a bandeira da Mooca -, representando todos os imigrantes que para cá vieram, pode ser considerado sui-generis e inédita.

Carlos Giuseppe Pietro Romanato, nascido em Cereia-Verona-Itália (filho de Ângelo Domenico Romanato e de Cristina Tarocco) casou-se na Itália em 1892 com Brandina Cesaria Maria Alegretti, nascida em Bangoforte-Mantova-Itália (tia do Deputado Derville Alegretti) e logo em seguida embarcaram para o Brasil, aqui chegando no porto de Santos, por intermédio do navio Colombo, em 16 de julho de 1892. Diferentemente da grande maioria dos imigrantes que chegavam de mãos e bolsos vazios, a família Romanato veio para cá com algum dinheiro, que lhes permitiu ter, a princípio, uma vida diferente dos demais.

Inicialmente, o casal foi morar na localidade de Porto Real, próximo à cidade de Rezende (Rio de Janeiro), mas logo se transferiram para a Mooca onde, com certeza, jamais imaginariam que, futuramente, iriam fazer parte importante de sua história. Sapateiro de profissão, mas dotado de um elevado senso empreendedor, aliás, característica da família Romanato, aqui chegando Carlos logo abriu uma sapataria que, mais tarde, se transformou num armazém de secos e molhados, especializado em produtos importados (ele importava queijos, vinhos, azeites e cereais), introduzindo o sistema de cadernetas no Bairro.

Para quem não sabe, esse sistema consistia no seguinte: o freguês possuía um caderninho (caderneta), que ficava em seu poder e ao efetuar as compras no armazém, tinha essas despesas ali anotadas e as pagava geralmente ao final do mês.

Arquivo: Família Romanato
Quatro gerações da família Romanato
Arquivo: Família Romanato

Com o sucesso alcançado pelo armazém, Carlos resolveu ampliá-lo, ali introduzindo também uma cantina e pizzaria: a Cantina Romanato, que se localizava à Rua Javari n° 313, exatamente onde hoje é o estacionamento da famosa Pizzaria São Pedro. Não existem dados oficiais, mas tem-se que a Cantina Romanato foi a primeira pizzaria da Mooca e uma das primeiras da cidade de São Paulo.

Ali tudo acontecia: ali eram realizadas reuniões da Diretoria do Juventus; ali ensaiava a Corporação Musical Carlos Gomes, ensaios esses naturalmente sempre regados pelo melhor vinho italiano importado pelo Romanato; ali era o ponto de encontro dos mooquenses; enfim, era o grande “point” do Bairro. E a qualidade da pizza, então, nem se fala. Só para se ter uma idéia, eram “pizzaiolos” da Cantina Romanato o Rafael e o Ângelo que posteriormente criaram, respectivamente, as Pizzarias São Pedro e do Ângelo (da Rua Sapucaia), sem dúvida as mais famosas pizzarias da Mooca atualmente.

“Lembro também que na hora do almoço o local ficava cheio de gente, muitos empregados do Crespi comiam desde o arroz e feijão até as saborosas massas e carnes preparadas por minhas tias, sempre acompanhadas com um bom vinho e da famosa sopa, onde se molhava o pão”, lembra Edgard Romanato, neto no patriarca Carlos.

E continuando em suas lembranças, Edgard nos conta : “Eu morava no n° 297 da Rua Javari, meus tios e meus avós moravam no n° 303 e ao lado, no n° 313, estava estabelecida a Cantina Romanato A minha casa tinha um grande jardim que minha avó cuidava com esmero, onde se destacavam alem das roseiras e folhagens, um pé de araçá, trazido de Rio Grande da Serra, que era uma fruta amarelinha muito saborosa e desconhecida da molecada da cidade. Tinha também um corredor comprido que dava para o quintal, onde estavam plantadas algumas parreiras com uvas de duas cores e uma grande mangueira. Portanto eu tinha um espaço enorme pra brincar, pois alem da casa em que eu morava, ainda podia ir para a casa vizinha e para a venda, ficando sempre sob os olhos da família.”

Cantina Romanato
Arquivo: Família Romanato
Cantina Romanato
Arquivo: Família Romanato

A família Romanato e em especial o Carlos, se tornaram extremamente conhecidos e com grande prestígio no Bairro graças à qualidade da Cantina, bem como ao excelente relacionamento com a sua clientela, decorrente das facilidades que lhes proporcionava nas compras e, também, por terem ajudando a muitas pessoas, principalmente imigrantes, durante a primeira grande guerra mundial.

Acreditamos não ser necessário dizer que os Romanato tiveram também uma participação importante e prestaram considerável ajuda ao Clube Atlético Juventus.

Um fato marcante na família Romanato foi por ocasião do precoce falecimento aos 26 anos de idade de um seu neto, de nome Alexandre, médico de grande prestígio, formado no Rio de Janeiro, quando o então Presidente da República Getúlio Vargas veio aqui na Mooca visitar a família Romanato e apresentar suas condolências.

O patriarca Carlos veio a falecer em 1945 aos 80 anos de idade e, um ano depois, faleceu sua esposa Brandina. A partir daí a Cantina começou a sofrer um declínio, pois os filhos não se interessaram em assumir a administração e resolveram vendê-la. Mas os novos proprietários não conseguiram manter o mesmo padrão e o estabelecimento encerrou suas atividades.

Edgard Alexandre Romanato, o primeiro neto homem de Carlos, foi quem nos prestou as informações objeto desta matéria. Edgard é, hoje Chefe do Departamento de Processamento de Daos da FATEC – Faculdade de Tecnologia de São Paulo, Lucia Natalicio Romanato e pai de Edgard A. Romanato Junior, médico urologista, com consultório na Rua Oratório 709 e Luciane Romanato Torello, que atualmente mora em Michigan e é gerente da Whirlpool (dona da Brastemp), e também avô de duas netinhas a Julia F. Romanato (filha do Edgard) e da Manuela Romanato Torello (filha da Luciane).

Entrevista concedida em julho/2006

A clã velha dos Romanato, tendo na frente à direita o Nello, ao seu lado, o Rugero e à esquerda o Eduardo. Entre eles, o Carlos Raymundo e segurando a garrafa e com a “pipa” na boca o patriarca C arlos. Em cima, com o charutinho na boca Guido e o último de cima Ernesto, casado com Olga Romanato
Edgard Alexandre Romanato
Arquivo: Portal da Mooca
Carlos Romanato representando os imigrantes, na Bandeira da Mooca
Arquivo: Portal da Mooca