BUZZONE – O ARTILHEIRO

Buzzone
Arquivo: Fernando Galuppo

Quem tiver a oportunidade de conversar hoje com o Sr Wilson Buzzone, diante de sua cultura jamais poderá imaginar que se trata de um ex-jogador de futebol, na verdade não um jogador comum, mas um craque, um dos melhores atletas que atuaram pelo Juventus em todos os tempos.

E essa impressão de “ser muito elitizado para ser boleiro” não é coisa de hoje. Em 1957, quando jogava nas equipes de base do São Paulo F.C. era chamado de “riquinho” durante os treinamentos. “Mas sempre em tom de brincadeira”, ressalta rapidamente o nosso craque.

Sua educação e hábitos realmente eram diferentes de grande parte dos jogadores de futebol dos anos cinqüenta, em sua maioria de origem humilde. Buzzone formou-se no tradicional colégio Bandeirantes. Só o fato de se formar nessa escola já era uma raridade, mas o principal motivo para a brincadeira era que ele costumava ir aos treinos com o carro do pai, um Chevrolet Belair. “A maioria dos profissionais nem tinha carro. Então, de vez em quando, eles pegavam no meu pé”, lembra.

Devido a quantidade de craques que havia na equipe principal do São Paulo, Buzzone (até então conhecido como Wilson) percebeu que dificilmente teria espaço entre os titulares da equipe tricolor. Decidiu, então, aceitar um convite para atuar no Nacional da Capital, transferindo-se logo depois (em 1958) para o Juventus, onde rapidamente tornou-se titular e imediatamente os gols começaram a surgir.

Ao contratá-lo, o presidente do Juventus, Modesto Mastrorosa, além de ter um fazedor de gols no time, vislumbrava a possibilidade de negociá-lo com o futebol do exterior.

Como era e é de praxe, a principal receita do clube era resultante da venda de jogadores.

Após uma semana de treinamento no time principal do Juventus, foi chamado pelo Presidente Mastrorosa para uma conversa em seu gabinete. O atacante terminou o treino e seguiu até o local.

Ao contratá-lo, o presidente do Juventus, Modesto Mastrorosa, além de ter um fazedor de gols no time, vislumbrava a possibilidade de negociá-lo com o futebol do exterior.

Como era e é de praxe, a principal receita do clube era resultante da venda de jogadores.

Após uma semana de treinamento no time principal do Juventus, foi chamado pelo Presidente Mastrorosa para uma conversa em seu gabinete. O atacante terminou o treino e seguiu até o local.

Buzzone como goleiro do Ginásio Paulista (do Pari) em 1954
Arquivo: Reynaldo Rodotá Stéfano
– Meu jovem, sente-se um pouco. Eu observei seu futebol e vi que você tem um grande potencial. Me diga uma coisa : seu sobrenome é Buzzone, é isso ? – perguntou o dirigente ao então Wilson.

– É esse mesmo – respondeu o jogador

– Então, esqueça o Wilson. Você, a partir de agora, se chamará Buzzone

A intenção com a mudança para um nome de origem italiana era, obviamente que, dessa forma, houvesse maior possibilidade de o jogador ser negociado com o futebol europeu. Naquela época, transações para o exterior eram raras.

Clube algum do exterior vai contratar um “Wilson”. Mas, com seu futebol e chamando-se Buzzone, logo, logo você estará num timaço europeu, finalizou a conversa o Presidente juventino.

O jogador que entrou Wilson e saiu Buzzone do gabinete da presidência, estava feliz com a mudança. Ele também considerava seu primeiro nome muito comum.

Buzzone como goleiro do Ginásio Paulista (do Pari) em 1954
Arquivo: Reynaldo Rodotá Stéfano
Em pé: Donald, Nenê, Pando, Clóvis, Julinho, Cassio e o massagista Bianchi.
Agachados: o massagista Elias Pássaro, Zeola, Buzzone, Tâna, Viâna e Lanza (anos 60)
Arquivo: www.miltonneves.com.br

Seu grande momento foi durante o campeonato paulista de 1959, quando foi o quinto maior artilheiro da competição, com 28 gols, sendo incluído pelo jornal esportivo “Equipe” na seleção dos melhores do torneio.

Sua performance e seu novo nome realmente atraiu o interesse do exterior. Em janeiro de 1960, a direção da Fiorentina, da Itália fez uma proposta ao Juventus para contratá-lo. Enviou representante ao Brasil, fechou os detalhes do contrato com a direção juventina e estava disposta e levá-lo imediatamente.

Quem teve a felicidade de ver Buzzone atuar certamente tem a convicção que teria se tornado, na Itália, um ídolo comparável a Mazzola, Julinho Botelho e outros brasileiros que à mesma época tiveram grande sucesso no futebol peninsular.

Mas, graças ao seu excelente desempenho no campeonato paulista, Buzzone havia sido convocado pelo técnico Aimoré Moreira para disputar o campeonato brasileiro de seleções pela seleção paulista, torneio esse que seria realizado em janeiro de 1960. A direção do Juventus pediu, todavia, que primeiramente o jogador disputasse o torneio para depois seguir para a Itália. Acordo fechado, Buzzone foi para a concentração em Atibaia-SP, preparar-se para o torneio. Na competição pretendia jogar seus últimos jogos no Brasil antes de seguir para o Velho Continente.

Em pé: ?, Clóvis, Moraes, Milton, Pando, ?, ?, ?.
Agachados: massagista Bianchi, ? , Luizinho, Buzzone, Joaquinzinho, Bececê e o massagista Elias Pássaro.
Arquivo: www.miltonneves.com.br
Da esquerda para direita: Buzzone, Lima, Clóvis, Pando e Zeola
Arquivo: Fernando Galuppo

Nos treinamentos, o nosso craque conseguiu uma proeza que parecia improvável: colocar o centro-avante Coutinho, companheiro de Pelé no Santos, no banco de reservas.

Dessa forma, a linha de ataque do time titular na estréia contra a seleção baiana, no dia 19 de janeiro de 1960, ficou assim constituída: Dorval (Santos), Chinesinho(Palmeiras) ,Buzzone (Juventus), Pelé(Santos) e Pepe (Santos).

Mas, aquela sonhada estréia no Estádio da Fonte Nova, em Salvador-Bahia, viria a tornar-se uma tragédia e representar o fim de suas pretensões no futebol, que eram altas.

Logo nessa partida de estréia, ao tentar chutar uma bola para o gol adversário, foi violenta e deslealmente calçado pelo quarto zagueiro Nelinho (jogador do E.C Bahia), da seleção baiana fraturando sua perna o que o tirou quase dois anos do futebol. “Foi uma grande pena, pois eu estava numa fase sensacional. Coloquei o Coutinho no banco, o que é um dos maiores orgulhos de minha vida, além de, como o Aymore viria a ser técnico da s seleção brasileira de 1962, eu era nome praticamente certo para disputar a Copa do Mundo naquele ano . O lance acabou com um futuro muito bonito que eu tinha pela frente” – lamenta Buzzone.

Ataque da seleção paulista: Durval, Chinesinho, Buzzone, Pelé e Pepe
Em pé: Grambel (treinador), Julinho, Nenê, Sérgio, Clóvis, Pando, Cassio e o diretor Pucci.
Agachados: Zeola, Carbone, Buzzone, Viana e Neves (1959)
Arquivo: www.miltonneves.com.br
Buzzone sendo homenageado no São Paulo F.C, em companhia de: Jaimão, Roberto Freire, Bibe e Bauer
Arquivo: www.miltonneves.com.br

Depois da cirurgia a que teve que ser submetido, o grande artilheiro nunca mais foi o mesmo, peregrinando por vários clubes. Em 1963 transferiu-se para o Jabaquara (de Santos) e no ano seguinte recebeu uma proposta para jogar no Sport Boys, do Peru, onde ficou por apenas um ano. “Não me adaptei ao país e voltei para o Brasil”, lembra.

Depois disso foi convidado pelo Palmeiras, mas ali ficou durante somente três meses, atuando apenas em uma partida. “Era o time da primeira Academia. Não tive chances com o Filpo Nuñes”, fala, referindo-se ao técnico palmeirense daquela época.

Depois dessa discreta passagem pelo Palestra Itália, transferiu-se para o Bragantino a onde teve uma participação importante colaborando para que a equipe de Bragança Paulista subisse, pela primeira vez, para a divisão de elite do futebol paulista. Em seguida, voltou para o Juventus, onde atuou ao lado dos veteranos Luizinho e Joaquinzinho (ambos ex-corinthianos). Atuou ainda no Saad, em 67, e retornou ao Jabaquara, onde encerrou a carreira em 1969.

– Matéria inserida em setembro/2007

– Colaboraram : Bruno Hoffmann (autor do livro “Eu sou Juventus – O Clube e a Mooca a partir de um gol”) e Fernando Razzo Galuppo.