[su_accordion] [su_spoiler title=”Festa de Arromba – Celina Silva ” style=”fancy”]

FESTA DE ARROMBA 454

Texto elaborado por Celina Silva, filha do radialista,Walter Silva,conhecido como Pica Pau em homenagem ao 454º aniversário da Mooca)

A voz de Waldemar Leopoldo, mais potente do que a sirene do Crespi começa a testar o microfone na cabine de som. “Alô, tessssste” e botando pra tocar marchinhas de bandas militares norte-americanas. É sinal de que o Conde Rodolpho está em festa: Mão-de-onça, Brecha,Tanese, Minhoquinha, Rogerinho Santovito, Zanetti,Andes, Milton, Cosminho, começam a chegar. Festa grená no campo da Javari e no salão a orquestra ensaia o Hino:”Que belo time,que belo esquadrão…pararara…Juventus, Juventus, Nós estamo aqui (sem o “s” mesmo)”.

O som alto acorda o Antenor Burrão que sai buscar pão no Arnaldo, o Fantasma. E a Rua Javari toda desperta. Desde o Clark , passando pela pizzaria San Pedro, na Visconde,até lá na Taquari, perto da farmácia do avô da Soraya Ruffo, grande escritora , sensível porta-voz do nosso bairro.

Ela soube do evento, assim como todo mundo, porque saiu publicado em O Amigo. A galera da Almirante Brasil, Rua dos Trilhos, até as porteiras, na Ana Nery, Ameida Lima, e da Piratininga se preparam pra festança.
Estão chegando ao local o Altemar Dutra, o Mario Zan, o Sivuca, Hermeto Paschoal,Silvana e Rinaldo Calheiros, a Vanusa, Antonio Marcos e Wanderley Cardoso. Jerry Adriani, Jordans, e Jet Blacks virão também.

No Estoril, começam a sair os pedaços de pizza, (o Bimbar só abre à noite). O cheirinho de mussarela derretida já alertam o pessoal da Orville Derby, da Jumana, e até da Conde Prates, para o acontecimento. Os trabalhadores da União chegaram cedo pra presentear o bairro com aquele cheirinho delicioso de café com açúcar saindo pela chaminé.

Os funcionários da Fundição Brasil, da Benacchio, e da ferrovia começam a subir nos ônibus fretados pela Breda para se dirigirem para a festa. Também a turma da rua do Hipódromo, da Distrital deixa as quadras esportivas para correr para a Paes de Barros.

Os corações e as mentes se inspiram nesta data. Maria Adelaide Amaral abre a máquina e começa a escrever. A Táta Amaral também. Já pensam no próximo roteiro que virá depois da grande festa.

Na loja dos Turcos o movimento aumenta. A venda de roupas femininas e de camisas social também.
A Falgetano, a Scatamacchia e a Cry’s calçados começam a vender sapatos de festa, scarpins para o baile, tênis para a gincana da Pepe, sapatinhos brancos para os anjinhos que sairão na procissão.

Eu dou uma passadinha no seu Mario charuteiro, meu caminho para comprar pão no Di Cunto. Sempre paro para trocar idéias, fazer algumas reflexões sobre a vida, a espiritualidade humana e nossos sonhos de uma vida melhor para o bairro, com meu amigo Aníbal, o Babu, da Pepe legal. Por ali, sempre passam o Zé Índio e o Maurício, o Roberto Japonês,e toda a gente que adora bater um papo com o Babu, nosso filósofo idealista de plantão. E também para saber onde será o baile. O Babu sempre sabe de tudo. Está sempre mexendo os pauzinhos para melhorar a vida da Moóca. Acho que ele sempre terá amigos por perto. Ainda mais nesta data!

Toninho Bola Murcha e o Ricardo abrem mais cedo a loja do seu Pepinão. A Cantina San Marco e a Mi Piace e Buonna Sera, vão vender muito mais polpetones e pasta por causa da comemoração.

O Mario Previatto, relojoeiro, nunca vendeu tanto presente, nem no mês de dezembro, quando o Papai Noel passa o dia na loja, ouvindo os pedidos das crianças para o Natal.

Volto com minha bandejinha com sfogliateles de creme e de ricota e bombas de chocolate que trouxe do Di Cunto. Paro mais um pouquinho na Dona Norma, sempre alegre, arrumando a loja. Sorrindo, ela me conta que não vê a hora de ir para a festa. Marinho procura uma camisa de gala. Todas as mulheres se enfeitam na Nair, ou na Adelina, cabeleireiras.

A loja do sr. Olmos fecha bem cedo,para todos poderem comparecer ao evento.

Seu Carilo, a família pé-de-pato, o Zeca, Paulina, dona Otilia, a Nena, (menos o La Barca que está lutando na televisão com o Ted Boy Marino, contra o Carnera), se arrumam para irem juntos.

A turma do Oliveira, o time todo do Parque da Moóca, o goleiro Félix, e até a Miriam Batucada engrossam o movimento na Borges de Figueiredo e na João Antonio para seguirem juntos até a festa.
Hoje, nem o Moderno, nem o Icaraí vão abrir. A Rita Pavone, a Gigliola Cinqueti (com seu Dio Come Ti Amo), terão que esperar para cantar seus sucessos. No Patriarca, ia passar Marcelino Pão e Vinho, mas foi suspenso porque hoje o clima é de alegria. Suspenso também o Romeu e Julieta, porque o dia é de celebrar a vida.

O pessoal do Firmino, do São Judas , Brasilux, Oswaldo Cruz, MMDC, do Pandiá, e até as recatadas mocinhas do Santa Catarina, (enrolando a saia na cintura para ficar mais curta) vão para a Paes de Barros encontrar-se com a galera do Juventus Novo e do São Cristóvão que pela primeira vez estarão vazios, sem precisar atender alguém. A Holandesa fabricou mais sonhos de creme. A Antártica não dá conta de fazer tanta cerveja. E o Arthur Azevedo está todo enfeitado.

Na Pepe, o som das máquinas está infernal. Os carangos todos ficaram envenenados para arrombar a festa. A Metopau, também se apronta e desde a avenida.

No rádio, Walter Silva, o pica-pau grita: “Salve a Moóca, seu bairro tão amado que o viu crescer,e passar pelo Dom Bosco, pelo SENAI, até atravessar a ponte sobre o Tamanduateí e virar o primeiro Disc-jóquei de São Paulo. “A mais bela voz do rádio brasileiro, segundo o Boni, da Globo. Picapau sempre carregou no peito o amor pelo bairro que tanto homenageava e defendia nos microfones por onde passou. José Magnoli, que virou Hélio Ribeiro, também acordou com aquele vozeirão e botou pra tocar Sergio Reis, Joelma, Carlos Lombardi, Trio Esperança, gente do bairro. Silvana, Rinaldo Calheiros, Ari Sanchez, Golden Boys,Marta Mendonça, Silvinha, Eduardo Araújo, e até o Ed Carlos, que vem da Vila Mariana pra prestigiar. Todos vão cantar quando chegar a hora.

Na Canuto Saraiva, no Largo São Rafael, a criançada corre para pegar os últimos santinhos distribuídos pelo Padre Valentim antes da missa. Até os casais de namorados que trocaram carícias, escondidinhos, atrás da igreja. Até o pipoqueiro e o vendedor de amendoins e de tremoços chegaram mais cedo.
Lá no Alto, Na Bom Conselho, todas as mães, da Fernandes Falcão, Cuiabá, Rua do Acre, arrumam seus filhos com as melhores roupas. O pessoal do IAPI, do IAPETEC, da Tobias Barreto, da Oratório e da Mem de Sá, começam a chegar na maior animação.

As normalistas do Colégio, as solteironas por opção e até as faladas porque namoravam dentro de carros, neste dia podem caminhar juntas em direção à festa.

As beatas, ratazanas de sacristia, as verdadeiras esposas, as mães de família, as mulheres que passam a noite no Esso Clube, as que dançam no Tobias Barreto, as virgens, as nem tanto, mas que estão noivas e todas as que vão se casar, hoje podem andar juntas. Moças prendadas, moças feias, velhas bonitas, as bem vestidas, as mal-arrumadas e todas as mal-amadas se encontram hoje para comemorar.

Os homens fiéis às esposas, os fiéis ao trabalho, os leais às partidas; de bocha, de dominó, sinuca, e os que vivem de pijama jogando truco também se vestem para a festa.

A rapaziada que gosta de luz negra, ,os que amam estroboscópica; cuba-libre,jovem guarda, rock balada e a moçada do reggae, do cigarro de índio, do ping-pong tutti-frutti; do Q-Suco, do rabo-de-galo com ovo colorido;do coturno e coca-cola; a turma que gosta de andar com terço e a bíblia; as meninas que bebem no gargalo e as que só tomam Guaraná também vão. Todos juntos.

Somente hoje, os fã-clubes do Sunday, Menphis, Falhas, do A TUCO, se unem para escutar os gatos do SUN 7 tocarem e o Zé Américo cantar “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” pra arrancar lágrimas da gente. Si piange, si ride. Serão lágrimas de saudade, de felicidade, de alegria por termos todos a mesma origem. Nascemos aqui. E mesmo quando partimos, e até quando tentamos fugir, nossa alma continua aqui.

Hei, Jude, Hey Joe! Alô Concetta! Roberta, Ascolta mi! Alô, Alô Terezinha! Ei Bella! Ragazza!
Good Morning Starshine! Oh Sole Mio! Champagne !
Here Comes the Sun! Let the Sunshine In!

Ei Moóca, Acorda! Hoje é Seu Dia!

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Mooca – 461 anos – Solange Colombara” style=”fancy”]

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[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A passagem de Cesar Menotti pelo Juventus – Sergio Agarelli com colaboração de Fernando Galupo” style=”fancy”]

16 de abril de 1969 : estreava no JUVENTUS o renomado jogador argentino Cesar Luiz MENOTTI que, anteriormente, atuara no Rosario Central, Racing, Boca Juniors (Argentina), New York Generals (USA) e Santos (Brasil). Ao encerrar a carreira de futebolista, Menotti passou a ser treinador iniciando no Newell”s Old Boys, passando posteriormente para o modesto Huracan (ambos da Argentina), vencendo o Torneio Metropolitano, o que lhe rendeu uma convocação para treinar a Seleção Argentina, pela qual foi campeão mundial na Copa de 1978.

Sempre que a conversa é futebol, acostumei-me a responder três perguntas em sequência. A trivial: “Pra qual time você torce ?”  e ao ouvirem o substantivo masculino mooquense JUVENTUS, em  um átimo desferem a segunda: “Mas… não torce pra nenhum time…grande ?”. A minha negativa, acrescida da explicação de que jamais sucumbi ao “bulying” pela minha escolha futebolística, remete à pergunta letal  ao prosseguimento da conversa: “ …e você também estava na Javari quando o Pelé fez seu gol mais bonito, em 1959 ?”.  Resposta: “Não, mas estava quando o Menotti fez o gol de bicicleta.” Verdade, eu não estava naquele dia em que Pelé  criou o soco no ar como forma de simbólica de agredir (segundo ele mesmo)  a torcida do Juventus, que, justificadamente,  o apupava por ter quebrado a perna do “half” esquerdo Pando. Mas se lá estivesse, jamais o admitiria, pois não costumo entregar pontos pra inimigos.

O ano era 1969. O terceiro e último ano de meu pai, Sergio Agarelli, como dirigente do futebol profissional avinhado. Um dia, ele me contou, entusiasmado, sobre a contratação que fizera junto ao Santos FC  de um meia direita argentino, chamado Menotti. Ele viria para compor o meio de campo que já tinha os cerebrais Gonçalves, Ferreirinha e Brecha, ou mais à frente, como ponta-de-lança, para servir os lépidos Antoninho, Andes e Frazão.

Em 16 de abril, uma quarta-feira à noite,  lá fomos nós, eu e meus companheiros da CAJU (a primeira uniformizada do Juventus) Angelo, Gigio, Pasquale, Chico  Prisco, Giacomo, Carlão e Valente, ao Parque Antarctica ver a estreia do tal argentino. O jogo, propício para uma travessura. Nosso adversário, a Academia palmeirense, a ser enfrentada em seus domínios. Não os vencíamos há 12 anos. Um tabu mais incômodo do que contra o Santos, que fazia 20 anos que não derrotávamos, pois não haviam santistas na Mooca pra nos aborrecer. Ao passo que palmeristas…

Jogo iniciado, Juventus atacando para o gol das piscinas, e só víamos o argentino de camisa verde (Artime) se movimentar e abrir o “placard”. No banco deles, outro argentino: Don Filpo Nuñes. No nosso, uma figura de peso: Clóvis Nori, o professor.  Eis que a bola chega aos pés do meia estreante que, de primeira, a coloca sutilmente no espaço entre o lateral e o zagueiro esmeraldinos, para a entrada em “facão” do ponta  Frazão. “Dribling” no goleiro Chicão e o empate é decretado. Um dúzia de Juventinos, pulando em meio aos atônitos palmeristas e gritando aos quatro ventos: “Chegou o dia ! “

Volta do intervalo. Não deveríamos ter ficado. Os esmeraldinos começaram a trocar bola e a coisa desandou: 6 a 1. Fim de jogo. Cabisbaixos, de volta à Mooca em ônibus cheio de adversários, com mais uma vergonhosa derrota no lombo. Aquele segundo tempo foi tão humilhante que eles se deram ao luxo de substituir o goleiro titular, Chicão, promovendo a estreia de um goleiro muito jovem,  vindo do Comercial de Ribeirão Preto, chamado Emerson Leão.

Jogo seguinte, na Javari, diante do maior rival. Felicidade máxima: Juventus bate a Lusa do Canindé por 2 a 1. A jogada do gol no Parque Antarctica se repetiu e novamente Frazão saiu consagrado pelos pés inteligentes do “magrão” Menotti.

Novo jogo em casa. Primeiro de maio sem desfiles ou comemorações, afinal era 1969, e a Javari lotada pra ver o  Juventus enfrentar um dos gigantes do trio de ferro, o São Paulo FC.

O jogo já estava no segundo tempo e o São Paulo vencendo por 2 a 1, num lance isolado a bola vem alta para Menotti. Ele levanta a perna num movimento típico de quem vai “matar” a bola e quando sua perna atinge o ápice do alongamento, surge Terto,  ponta direita tricolor, que chuta, proposital e maldosamente, a perna do argentino. Menotti vai ao chão se contorcendo e imediatamente o médico juventino determina a substituição. Milton Buzzeto, o Capitão, mas com um pavio mais curto do que um Sargento, corre para o árbitro e exige a expulsão de Terto. O “Referee” dá de ombros. Manda cobrar a falta e prosseguir o jogo. Bem, aí Milton Buzzeto fez o que todo jogador ou torcedor tem, uma vez ao menos na vida, ganas de fazer: com um  “punch” levou o Sr. Antonio Viug à lona, ou melhor, ao gramado. Resultado: Milton encerrou sua carreira de zagueiro e iniciou a de auxiliar técnico naquele mesmo ano, devido à suspensão pelo ocorrido. Menotti só retornou depois de 45 dias no DM.

O retorno aos gramados foi num jogo em Ribeirão Preto, contra o Botafogo. Lembro que, durante a viagem de ônibus (Pasmem ! Às vezes a torcida ia junto com a equipe !!!), ele ficava isolado em uma poltrona, fumando, ligava uma vitrola portátil e ouvia tangos durante todo o trajeto. Nenhum jogador , diretor ou mesmo técnico tinha  coragem de perturbá-lo. “El Flaco” (O Magro) dava a impressão de ser um lobo solitário.

Chegou enfim, o dia 5 de julho, dia da volta à Rua Javari do décimo primeiro argentino a vestir o manto avinhado. O Juventus, do meia Brecha, versus São Bento de Sorocaba, do seu irmão e volante Brida.  Menotti inaugura o “score” com uma bela cobrança de falta pouco antes do intervalo. No segundo tempo, o Juventus amplia e triplica a diferença. Mas o melhor veio aos 23 minutos: bate e rebate na grande área beneditina e a bola subiu, encobrindo o meia argentino. Este, no bico direito da pequena área do Setor 2, gira com rapidez surpreendente e salta para uma bicicleta perfeita superando o goleiro Alberto. Festa total na Javari. Repetição do gol em todos os canais de TV. E assim “El Flaco” fechava, com bicicleta de ouro, sua fugaz participação naquela difícil  década, quando o Moleque Travesso teve que lutar contra o rebaixamento em mais da metade dos campeonatos disputados e ao mesmo tempo erguer sua Sede Social no Alto da Mooca.

Cesar Luiz Menotti vestiu a camisa grená  por 8 vezes e fez 2 gols. Foram 2 vitórias, 2 empates e 4 derrotas durante a campanha de 1969. Por estar contundido, não participou da épica vitória juventina sobre o Palmeiras na rua Javari, por 1 a 0 (“Enfim chegou o dia de verdade !!!”), que encerrou o  tabu  mas, como todos nós, participou da invasão de campo quando a partida terminou.

O Juventus foi seu último clube como jogador pois seu “passe” ficou preso  por ter ele voltado à Argentina antes do encerramento do contrato. Segundo ele, por motivos familiares. Em 1978,  logo após a Copa do Mundo, meu pai, embora ainda aborrecido pela forma com que Menotti deixou  o Clube e mesmo  inconformado pelo fato dele ter preterido “El pibe de oro” Maradona naquela Copa,  sugeriu ao Presidente do clube, José Ferreira Pinto Filho, a liberação do passe do ex – atleta platino como forma de reconhecimento ao seu feito na conquista do Campeonato Mundial de Seleções, o que foi aceito pelo conhecido Napoleão da Mooca.

Pra terminar, mais uma curiosidade sobre Menotti: Após a malfadada estreia pelo Juventus em 1969,  Menotti só retornou ao Estádio Palestra Itália como técnico do Boca Juniors pela Libertadores da América de 1994. O placar do jogo ? Novamente 6 a 1 para o Palmeiras !!!

Texto de Sergio Valdez Agarelli (somente um Juventino) com a colaboração do jornalista Fernando Galuppo.

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A Mooca de ontem e a Mooca de hoje – Euclydes Barbulho” style=”fancy”]

Muitos nos perguntam: – O bairro da Mooca está mudando? Esta sendo para melhor ou para pior?

Para quem não conhece sua história podemos responder que a Mooca viveu várias fases desde sua fundação. No inicio quando se construiu a ponte sobre o Rio Tamanduateí ela era uma floresta habitada por índios. Aos poucos os jesuítas foram construindo casas o que deu seu nome indígena: Mo = construir e Oca = casa.

Com o passar do tempo as terras da Mooca foram adquiridas por famílias abastadas para suas fazendas, sítios ou chácaras como a da família Paes de Barros.

Em 1867, foi inaugurada a Estrada de Ferro São Paulo Railway (Estrada Santos a Jundiaí) para encaminhar o café produzido no oeste da Província para o Porto de Santos trazendo as industrias para o bairro.

Em 1875, Rafael Aguiar Paes de Barros, que possuía muitas terras no bairro, como criador de cavalos, abriu o Clube Paulista de Corridas de Cavalo: o Prado (atual Jóquei Clube). Passando o bairro a ser também um centro de lazer onde os mais abastados vinham assistir as corridas e apostar nos cavalos. Com a industrialização e esse centro de lazer, a Mooca fervilhava com comércio ativo durante a semana com os operários e nos finais de semana com a elite que vinha ao Prado.

O bairro realmente parecia uma cidade do interior, nos fins de semana havia na Rua da Mooca, da esquina da Rua Visconde da Laguna até a Avenida Paes de Barros o vai e vem das pessoas (footing) onde os jovens ficavam conversando com os amigos na calçada e as jovens passeando no meio da rua. Era uma era romântica, os jovens sempre de terno e gravata e as jovens com seus melhores vestidos. Daí saíram muitos casamentos.

O Carnaval de rua acontecia da Avenida Paes de Barros até as porteiras com desfile de carros. Era costume as famílias deixarem as portas das casas abertas para facilitar a entrada de alguma vizinha e à noite levavam as cadeiras para fora e ficavam conversando e as crianças brincando nas ruas.

A cidade foi crescendo e transformando com ele os bairros incluindo a Mooca. A grande movimentação de bondes, ônibus e carros terminou com o footing e o carnaval de rua, vieram as duas grandes guerras e com elas primeiro um boom de crescimento, logo depois crise, paralisando a cidade e o bairro.

As famílias, como acontecia tradicionalmente, agora só se reuniam nos fins de semana para saborearem o macarrão da “mama”. Mas ainda sabiam receber os ilustres visitantes que aqui chegavam. Quem vinha morar no bairro logo fazia novas amizades.

Dizem que não há mal que nunca termine e nem bem que nunca se acabe, assim o bairro tipicamente operário passou a ser um bairro prestador de serviços, classe média, com três universidades, muitas empresas prestadoras de serviço, e ainda algumas fábricas que resistiram à mudança. Ainda moram muitas famílias italianas e de outras nacionalidades antigas que dá a tranqüilidade que um bairro precisa para ser semelhante a uma cidade do interior.

Podemos dizer que essa era a Mooca de ontem, a de hoje, passados apenas cinco anos de quando escrevemos o livro Mooca 450 anos – Passando pelo Túnel do Tempo e fizemos uma análise da situação, mudou e mudou muito.

Algumas coisas até melhoraram com a chegada de restaurantes e barzinhos nos quais podemos fazer nossas refeições e nos relaxarmos nos fins de tarde, sem precisar nos deslocarmos para outros bairros. Em compensação, o bairro passou a ser a “bola da vez” na questão imobiliária. Hoje há espigões crescendo em todos os locais permitidos, com muitos já com seus moradores e com o atravancamento da Avenida Alcântara Machado (Radial Leste) os carros da região Leste que também sofreu um grande desenvolvimento, os motoristas se desviam pela Rua da Mooca para atravessar a cidade causando congestionamento de mais de hora para se chegar ao Parque D. Pedro II.

Ontem o bairro era limpo, o asfalto era razoável, havia um mínimo de mendigos em suas ruas.

Hoje há sujeira em toda parte, há casas invadidas cheias de lixo, há mendigos espalhados por todos os cantos. Veja o caso da Creche Ninho Condessa Marina Crespi na Rua João Antonio de Oliveira com Rua Javari e dos Trilhos. Era para ser construído um prédio. A sociedade se mobilizou e conseguiu tombar o mesmo, que é de uma arquitetura valiosa. O que aconteceu? No outro dia da publicação os denominados “sem teto” invadiram o imóvel quase o destruindo, levando lixo para suas dependências e adjacências e tirando o sossego de quem mora em suas imediações.

A violência aumentou em todos os lugares, inclusive na Mooca, mas como ainda seus moradores participam com as autoridades dos CONSEGs (Conselho de Segurança Comunitário) os números são pequenos, mas não nos deixam mais ficar sentados na porta de casa conversando, passear à noite mesmo em ruas iluminadas.

A Mooca é um dos bairros com menos áreas verdes e as poucas que tem a Prefeitura está querendo vender para construir mais prédios.

Eu faço um apelo às entidades da Mooca: vamos lutar para termos um bairro querido por todos, termos mais segurança, mais higiene, mais atenção das autoridades, caso contrário seremos apenas mais um bairro nesta grande cidade que é São Paulo.

Euclydes Barbulho

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Ecos da minha Rua – Wilson Natale” style=”fancy”]

(Uma ré na Curva do tempo)
A velha Mooca se desfaz. Está virando cinzas. Parou por uns anos e voltou a verticalizar-se. E o trânsito intenso expulsou crianças e adultos das ruas.

Ando pelas imediações onde morava e identifico uma ou outra casa contemporânea dos meus tempos de criança, de juventude e mesmo de idade adulta.

Como estará a “minha” rua, o “meu” quarteirão? Só há uma maneira de saber. Indo até lá.

Longe por uma década espantei-me ao ver as mudanças que sofreram a rua e o quarteirão.

Desapareceram as casinhas térreas geminadas, os sobradões, as casas com jardins de rosas, onde em um canto sempre havia camélias ou um romanzeiro e portões encimados por arcos de madeira ou ferro, suportando primaveras floridas. Eram casas construídas em terrenos de 20m. X 50m que, além do jardim, tinham um quintal imenso onde sempre havia lugar para uma hortinha, um galinheiro e um pé de goiaba ou ameixas. Foram-se as habitações coletivas (duas a três casas no mesmo terreno) e os cortiços, onde os imigrantes se espremiam em minúsculos quartos e cozinhas. Até a minha casa desapareceu, dando lugar a um alto edifício. O mesmo aconteceu com a maioria das habitações do quarteirão. Outras foram demolidas dando lugar a novas casas.

Mas, como em um passeio desses a gente nunca está só, Dona Memória começa a me atiçar com seus “Veja!”, “Olha!”, “Recorda!”, “Lembra!”…

E eu lembrei a rua quando tinha paralelepípedos (O asfalto veio somente em meados anos 60). No quarteirão ainda havia dois pedestais de lampiões de gás – ficaram lá, também, até meados dos anos 60 quando foram recolhidos. Lembrei a iluminação elétrica, com suas lâmpadas incandescentes em postes bem espaçados, o que obrigava a maioria dos moradores a manter uma luz no alto da fachada de suas casas, para compensar.

Lembrei de todas as casas, construídas entre os anos 10 e 30, em que o ocre predominava. Restaram duas dos anos 20, na esquina. Talvez ainda existam porque passaram de residências a bares. E a venda e os dois bares que eu conheci, no meio do quarteirão, já haviam desaparecido no tempo em que eu ainda morava lá.

Desapareceu o que restara do cimento que cobria a velha calçada, onde se podia ver nos remendos, iniciais, datas e a marca das patas do Leão – um cachorrinho vira-latas que pertencia a D. Anunziatta. Em um daqueles remendos estava o meu garrancho: Ciccio-1963. Estava lá, em 1998, quando me mudei.

Não é mais a minha rua, nem o meu quarteirão. Tudo limpo, asfalto e calçadas impecáveis; prédios com fachadas agradáveis, recuados do meio-fio, com jardins projetados. Tudo lindo, com “ares” de classe média alta… Mas, na rua não há vida. Um ou outro transeunte.

De repente, a minha rua e o meu quarteirão renasceram como num passe de mágica. Era a saudade que se manifestava…

Desde as cinco horas da manhã a rua já estava acordada. Além do cheiro do café passado na hora, sentia-se o cheiro da comida. Eram as marmitas sendo preparadas. As geladeiras ainda eram um luxo para poucos. Tudo era feito na hora ou no dia.

Na calçada ainda estavam as latas vazias de óleo ou de tinta que serviam como latas de lixo. Latas que o lixeiro esvaziava na madrugada.

Na rua, a vida também acordava. Lá vinha a velha perua Dodge, do seu Feliciano – o português da padaria, a entregar pães nos dois bares e nos domicílios. São inesquecíveis os seus pães-doces e suas broas de milho. E, desde as seis horas a rua era inundada pelo som das vozes dos homens e das mulheres que iam para o trabalho; pelo som dos rádios; falatórios em portões, falatório e bate-boca no cortiço, onde todos queriam usar o único banheiro ao mesmo tempo. Choro de crianças com fome, mulheres batendo panelas, gritando: “Olha a hora!”

E Diva, a cantora de ópera (era professora de canto). Nunca soube o seu verdadeiro nome. Creio que ninguém na rua sabia ou se lembrava mais. Era “la Diva”. E Diva todas as manhãs “aquecia” a sua voz cantando árias da Tosca ou da Traviata. Quando ela cantava a Ave Maria, conseguia fazer até a criança mais traquinas e malcriada emudecer e dizer como os adultos: “Stupendo!”

Crianças ocupavam a rua por turnos. Era por causa das aulas do Grupo Escolar: primeira turma, das oito as onze; segunda turma, das onze às duas; terceira turma, das duas às cinco. Pelas seis da tarde, todos os “anjinhos” estavam unidos, fazendo mil estripulias pela rua…

E os visitantes habituais iam chegando. Lá vinha o Giaccomo verdureiro, com a sua carrocinha, a oferecer verduras e legumes; e vinha o seu Farid , o turco vendedor de tecidos e que, na verdade não era turco e sim Judeu Sefarad. Logo atrás, vinha o “amolador” de facas e tesouras, tocando a sua flautinha de pan.

Eram tantos os visitantes…

O Totó (Antonio) vendendo seus “biglietto” de loteria – um “mirréise u gasparino”! A D. Assunta que fazia “pasta” como ninguém – mas só por encomenda – vinha fazer as entregas de Cannelloni, Rondelli, Cappelletti, Lasagne. Seu Arrigo vinha vender Foccazza e Risollis, feitos por sua mulher (deliciosos). “Nonno” Deodatto vendia doces. Vinha com seu cestinho de vime, coberto com um pano de saco muito branco, gritando pela rua: Sfogliatelle! Taralli! Cannollis! Adultos e crianças “babavam” quando ele chegava.

Como em uma miragem vejo o Tonino, il vesghietto (Toninho, o vesguinho) “pilotando” a sua carrocinha-geladeira com os peixes comprados ao Mercadão.

Ecoa pela minha cabeça a velha cantilena, no dialeto napolitano, com que ela chamava a freguesia:

“U pesce! Venit’a cumprà, signò! U pesce fresc’! La sarda! Venit’a cumpra, signò! A cumprà oggi, ch’i dimani nun ce ne veng’! A cumprà! Signo, a cumpra!”

“O peixe! Venha comprar senhoras! O peixe fresco! A sardinha! Venha comprar senhoras! Comprar hoje, que amanhã eu não virei! Venha comprar! Venha comprar, senhoras!”

Também apareciam lá na rua alguns meninos, com tabuleiros presos por uma tira ao pescoço. Eles vinham vender pirulito, quebra-queixos; amendoins torrados, salgado ou doce; cocadas pretas ou brancas.

Cinco da manhã o dia-a-dia do povo da minha rua começava…

Seu José abria a venda uns quinze minutos mais cedo, pois sempre havia alguém precisando de algo para completar a marmita.

Seu Alcides e o Seu Carlino, desde as cinco, estavam com seus bares abertos, vendendo o pão e leite e os “pingados” aos solteiros que iam para o trabalho, ou então, uma cachacinha para “esquentar o frio”

Nunziatta, às sete horas, abria a porta de sua casa à espera de alguém para um corte de cabelo, uma tintura, ou para fazer as unhas e um pouco de fofoca.

Otilia, a costureira estava também, desde as sete da manhã, com as janelas abertas, pedalando a máquina de costura.

Dona Mercedes, entre a arrumação da casa e a lavagem da roupa, lia para algumas “clientes” a “buenadicha” no Tarô. Dizia-se cigana de Andaluzia, mas na verdade ela era das Ilhas Canárias. Ela era muito boa nesse mister, pois sempre tinha muita gente a procurá-la. E Dona Mercedes também fazia “magias”, tudo de acordo com o Livro de São Cipriano…

Menos pretensiosa, D. Margherita benzedeira, quase centenária, benzia caxumba, malocchio (mau-olhado), quebranto, bucho virado, cobreiro. E recitava rezas para curar ou aliviar doenças do corpo e da alma. Homeopata intuitiva fazia chás, garrafadas e mezinhas.

E lá ia o seu Nicola, fazer sua “banca” de jogo de bicho em uma mesinha do bar do Carlino. Volta e meia uma Radiopatrulha parava em frente ao bar e dois Guardas desciam e entravam. Saiam logo depois de fazerem “uma fézinha”…

E na rua sempre aparecia um ou outro vigarista a aproveitar-se da ingenuidade e solidariedade napolitana.

Alguns vendedores napolitanos compravam mercadorias na Rua 25 de março, no Brás ou Bom Retiro e vinham para as ruas “napolitanas” vender o seu “peixe”. Vinham com uma história de “imigrante que, sem encontrar um emprego está se desfazendo das coisas que trouxe da Itália”.Contavam com lágrimas nos olhos, “que a penúria era tanta que estava vendendo as peças de enxoval da pobre esposa.” Abriam uma mala grande que ainda continha os selos do navio, da alfândega de saída e de entrada no país e mostravam colchas adamascadas, da Toscana, jogos de sala, cama e mesa em puro linho, bordados em “punto d’Assisi” ou adornados com rendas da Bélgica. Desfiavam o seu drama e decadência em dialeto napolitano, atiçando a saudade e o sentimento de solidariedade das napolitanas sensíveis . Vendiam tudo. A vista. E nunca mais voltavam. E pelas etiquetas que eles nem se davam ao trabalho de tirar da mercadoria, descobria-se a farsa (As peças que eles mostravam abertas não tinham etiquetas). Às vezes esses “mascalzoni” eram reconhecidos em outras ruas das imediações, usando da mesma cantilena. E ai, o “pau comia” feio. E levavam vassouradas, pedradas e xingos. Corriam para nunca mais voltar à região.

E a rua tinha os seus pecados e segredos: Imaginem vocês! O Elio e a Menna vivendo juntos há vinte anos e não são casados! Isso é imoral! E a Leda? Você soube? Dizia que passava a noite cuidando de uma senhora idosa e doente, lá na Consolação. E a verdade, ela “cuidava” de muitos rapazes, num puteiro em Santa Efigênia. E a Betina, com aquela carinha de santa, que dizia trabalhar das seis à meia-noite em uma tecelagem do Brás é na verdade uma cadela! É “táxi-girl” de um “Dancing”, lá na Av. Ipiranga…

Ah! A minha rua! Nela, eu, crianças brincando , blasfemando e cantando.

Os meninos: Pula-carniça, futebol, andas ou muletas, bola de gude, jogo de botão, carrinho de rolimã, pipa, “capuscetta”, iô-iô, pião. Meninas: Pular corda, amarelinha e caracol, diabolô, passa-anel, bambolê e as cirandas infinitas: “Cirandeiro, cirandeiro, oh! A pedra do seu anel, brilha mais do que o Sol…”

Meninas brincavam de “Estátua”, meninos brincavam de “Como está, fica!”; meninas cantavam “Senhora dona Sancha, coberta de ouro e prata…”; meninos recitavam “Vaca amarela, cagou na panela. Quem falar primeiro, come toda a bosta dela…” Meninos e meninas brincavam de esconde-esconde: “Balança caixão! Balança você! Dá um tapa na bunda e vai se esconder!…”

E as “Advinhas”? Advinha! Advinha! Advinha o quê? Uma coisa amarela na noite se vê! E onde é que está? No Céu está e no mar também! O que é? O que é? Já sei, sei, sei! Então diz o que é! É a Luaaaaaa!…

Desde o amanhecer até as dez da noite, a rua vibrava com os sons da vida. Sons que eram interrompidos pelo sono. Mas sempre havia um outro dia. Um amanhã que poderia parecer como tantos outros passados, mas que não era. Sempre havia algo novo e, por mais insignificante que fosse, era um acontecimento. Vivia-se a vida no aconchego e no calor humano…

E a “minha” rua vai se desvanecendo. As vozes do passado se calam e o silêncio quebra a curva do tempo.

Hoje, a rua não é mais minha. É só mais uma entre as tantas desta cidade. Uma rua de prédios lindos com jardins projetados, cercados por grades de ferro-batido encimadas por uma cerca elétrica e câmeras de segurança. Ali, a gente não pode mais ir entrando na casa dos outros, gritando: “Com licença”!

A rua de agora se fechou em fortaleza. Da “minha” rua ficaram apenas os ecos do passado…

Wilson Natale

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Poemando a Mooca – Soraya Ruffo” style=”fancy”]

Não é de São Paulo, esta saudade.
Não é do barulho, nem tampouco dos paralelepípedos…

A saudade que vem latejada, é da Mooca…
do que eu fui quando ali morava, de todas as possibilidades que vi nascerem nesse bairro…

Saudade de mim mesma, de coisas que vivi e nunca mais esqueci, porque a Mooca é uma marca de nascença.
É como se morar na rua dos trilhos, na rua Javari e no largo São Rafael, fosse fonte de vida.

Não é de hoje a saudade…
Não é de coisas que passaram: é de pessoas, de cheiros, de vozes…de respirações.

A saudade que tenho agora é a dimensão exata do meu amor pela Mooca.
Quem sabe se voltar seria o começo de tudo?

Soraya Ruffo

(nascida na Maternidade Santa Terezinha, “crescida” na rua Javari, “adolescida” na rua dos Trilhos e na Ararigboia.
Virei mãe na Ezequiel Ramos e me esqueci de quem eu era, quando sai do meu bairro…QUERIA MUITO VOLTAR…)

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Festa de arromba 454 – Celina Silva” style=”fancy”]

(Homenagem aos 454 anos da Mooca)

A voz de Waldemar Leopoldo, mais potente do que a sirene do Crespi começa a testar o microfone na cabine de som. “Alô, tessssste” e botando pra tocar marchinhas de bandas militares norte-americanas. É sinal de que o Conde Rodolpho está em festa: Mão-de-onça, Brecha,Tanese, Minhoquinha, Rogerinho Santovito, Zanetti,Andes, Milton, Cosminho, começam a chegar. Festa grená no campo da Javari e no salão a orquestra ensaia o Hino:”Que belo time,que belo esquadrão…pararara…Juventus, Juventus, Nós estamo aqui (sem o “s” mesmo)”.

O som alto acorda o Antenor Burrão que sai buscar pão no Arnaldo, o Fantasma. E a Rua Javari toda desperta. Desde o Clark , passando pela pizzaria San Pedro, na Visconde,até lá na Taquari, perto da farmácia do avô da Soraya Ruffo, grande escritora , sensível porta-voz do nosso bairro.

Ela soube do evento, assim como todo mundo, porque saiu publicado em O Amigo. A galera da Almirante Brasil, Rua dos Trilhos, até as porteiras, na Ana Nery, Ameida Lima, e da Piratininga se prepara pra festança.

Estão chegando ao local o Altemar Dutra, o Mario Zan, o Sivuca, Hermeto Paschoal,Silvana e Rinaldo Calheiros, a Vanusa, Antonio Marcos e Wanderley Cardoso. Jerry Adriani, Jordans, e Jet Blacks virão também.

No Estoril, começam a sair os pedaços de pizza, (o Bimbar só abre à noite). O cheirinho de mussarela derretida já alertao pessoal da Orville Derby, da Jumana, e até da Conde Prates, para o acontecimento. Os trabalhadores da União chegaram cedo pra presentear o bairro com aquele cheirinho delicioso de café com açúcar saindo pela chaminé.

Os funcionários da Fundição Brasil, da Benacchio, e da ferrovia começam a subir nos ônibus fretados pela Breda para se dirigirem para a festa. Também a turma da rua do Hipódromo, da Distrital deixa as quadras esportivas para correr até a Paes de Barros.

Os corações e as mentes se inspiram nesta data. Maria Adelaide Amaral abre a máquina e começa a escrever. A Táta Amaral também. Já pensam no próximo roteiro que virá depois da grande festa.
Na loja dos Turcos o movimento aumenta. A venda de roupas femininas e de camisas social também.

A Falgetano, a Scatamacchia e a Cry’s calçados começam a vender sapatos de festa, scarpins para o baile, tênis para a gincana da Pepe, sapatinhos brancos para os anjinhos que sairão na procissão.

Eu dou uma passadinha no seu Mario charuteiro, meu caminho para comprar pão no Di Cunto. Sempre paro para trocar idéias (fazer algumas reflexões sobre a vida, a espiritualidade humana e nossos sonhos de uma vida melhor para o bairro), com meu amigo Aníbal, o Babu, da Pepe legal. Por ali, sempre passam o Zé Índio e o Maurício, o Roberto Japonês,e toda a gente que adora bater um papo com o Babu, nosso filósofo idealista de plantão. E também para saber onde será o baile. O Babu sempre sabe de tudo. Está sempre mexendo os pauzinhos para melhorar a vida da Moóca. Acho que ele sempre terá amigos por perto. Ainda mais nesta data!

Toninho Bola Murcha e o Ricardo abrem mais cedo a loja do seu Pepinão. A Cantina San Marco, a Mi Piace e Buonna Sera, vão vender muito mais polpetones e pasta, por causa da comemoração.

O Mario Previatto, relojoeiro, nunca vendeu tanto presente, nem no mês de dezembro, quando o Papai Noel passa o dia na loja, ouvindo os pedidos das crianças para o Natal.

Volto com minha bandejinha com sfogliateles de creme e de ricota e bombas de chocolate que trouxe do Di Cunto. Paro mais um pouquinho na Dona Norma, sempre alegre, arrumando a loja. Sorrindo, ela me conta que não vê a hora de ir para a festa. Marinho procura uma camisa de gala. Todas as mulheres se enfeitam na Nair, ou na Adelina, cabeleireiras.

A loja do sr. Olmos fecha bem cedo,para todos poderem comparecer ao evento.

Seu Carilo, a família pé-de-pato, o Zeca, Paulina, dona Otilia, a Nena, (menos o La Barca que está lutando na televisão com o Ted Boy Marino, contra o Carnera), se arrumam para irem juntos.

A turma do Oliveira, o time todo do Parque da Moóca, o goleiro Félix, e até a Miriam Batucada engrossam o movimento na Borges de Figueiredo e na João Antonio para seguirem juntos até a festa.

Hoje, nem o Moderno, nem o Icaraí vão abrir. A Rita Pavone, a Gigliola Cinqueti (com seu Dio Come Ti Amo), terão que esperar para cantar seus sucessos. No Patriarca, ia passar Marcelino Pão e Vinho, mas foi suspenso porque hoje o clima é de alegria. Suspenso também o Romeu e Julieta, porque o dia é de celebrar a vida.

O pessoal do Firmino, do São Judas, Brasilux, Oswaldo Cruz, MMDC, do Pandiá, e até as recatadas mocinhas do Santa Catarina, (enrolando a saia na cintura para ficar mais curta) vão para a Paes de Barros encontrar-se com a galera do Juventus Novo e do São Cristóvão que pela primeira vez estarão vazios, sem precisar atender alguém. A Holandesa fabricou mais sonhos de creme. A Antártica não dá conta de fazer tanta cerveja. E o Arthur Azevedo está todo enfeitado.

Na Pepe, o som das máquinas está infernal. Os carangos todos ficaram envenenados para arrombar a festa. A Metopau, também se apronta e desce a avenida.

No rádio, Walter Silva, o pica-pau grita: “Salve a Moóca!”, seu bairro tão amado que o viu crescer,e passar pelo Dom Bosco, pelo SENAI, até atravessar a ponte sobre o Tamanduateí e virar o primeiro Disc-jóquei de São Paulo. “A mais bela voz do rádio brasileiro”, segundo o Boni, da Globo. Picapau sempre carregou no peito o amor pelo bairro que tanto homenageava e defendia nos microfones por onde passou.
José Magnoli, que virou Hélio Ribeiro, também acordou com aquele vozeirão e botou pra tocar Sergio Reis, Joelma, Carlos Lombardi, Trio Esperança, gente do bairro. Silvana, Rinaldo Calheiros, Ari Sanchez, Golden Boys,Marta Mendonça, Silvinha, Eduardo Araújo, e até o Ed Carlos, que vem da Vila Mariana pra prestigiar. Todos vão cantar quando chegar a hora.

Na Canuto Saraiva, no Largo São Rafael, a criançada corre para pegar os últimos santinhos distribuídos pelo Padre Valentim antes da missa. Até os casais de namorados que trocaram carícias, escondidinhos, atrás da igreja. Até o pipoqueiro e o vendedor de amendoins e de tremoços chegaram mais cedo.

Lá no Alto, Na Bom Conselho, todas as mães, da Fernandes Falcão, Cuiabá, Rua do Acre, arrumam seus filhos com as melhores roupas. O pessoal do IAPI, do IAPETEC, da Tobias Barreto, da Oratório e da Mem de Sá, começa a chegar na maior animação.
As normalistas do Colégio, as solteironas por opção e até as faladas porque namoravam dentro de carros, neste dia podem caminhar juntas em direção à festa.

As beatas, ratazanas de sacristia, as verdadeiras esposas, as mães de família, as mulheres que passam a noite no Esso Clube, as que dançam no Tobias Barreto, as virgens, as nem tanto, mas que estão noivas ,e todas as que vão se casar, hoje podem andar juntas. Moças prendadas, moças feias, velhas bonitas, as bem vestidas, as mal-arrumadas e todas as mal-amadas se encontram hoje para comemorar.
Os homens fiéis às esposas, os fiéis ao trabalho, os leais às partidas de bocha, de dominó, sinuca, e os que vivem de pijama jogando truco, também se vestem para a festa.

A rapaziada que gosta de luz negra,os que amam estroboscópica, cuba-libre,jovem guarda, rock balada e a moçada do reggae, do cigarro de índio, do ping-pong tutti-frutti; do Q-Suco, do rabo-de-galo com ovo colorido;do coturno e coca-cola; a turma que gosta de andar com terço e a bíblia; as meninas que bebem no gargalo e as que só tomam Guaraná, também vão. Todos juntos.coisa rara.

Somente hoje, os fã-clubes do Sunday, Menphis, Pholhas, do A TUCO, se unem para escutar os gatos do SUN 7 tocarem e o Zé Américo cantar “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” pra arrancar lágrimas da gente. Si piange, si ride. Serão lágrimas de saudade, de felicidade, de alegria por termos todos a mesma origem. Nascemos aqui. E mesmo quando partimos, e até quando tentamos fugir, nossa alma continua aqui.

Hei, Jude, Hey Joe! Alô Concetta! Roberta, Ascolta mi! Alô, Alô Terezinha! Ei Bella! Ragazza!
Good Morning Starshine! Oh Sole Mio! Champagne !
Here Comes the Sun! Let the Sunshine In!

Ei Moóca, Acorda! Hoje é Seu Dia!

Celina Silva

Obs do Portal da Mooca : Celina Silva é filha do radialista Walter Silva, mais conhecido como Pica Pau, cuja história encontra-se na seção “Famílias e Personalidades” do Portal da Mooca

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Não se acaba mais em pizza como antigamente – Wilson Natale” style=”fancy”] (Antes, tudo acabava em pizza caseira…)

Em agosto de 2009 recebi um e-mail do amigo Luiz S. Saidenberg. O conteúdo da mensagem era sobre a cidade de Nápoles e sobre pizzas. O título era bastante sugestivo: “Em Nápoles, tudo acaba em pizza”.

Bastou ler o artigo e a minha memória adormecida levou-me aos tempos da minha infância e adolescência na Mooca. Lá se vão… Deixa pra lá! Foi entre os anos 50 e 60.

Na minha cabeça, ouço as vozes de mamãe, vovó e vovô. Fragmentos de diálogos, em dialeto napolitano, transportam-me à velha mesa da nossa cozinha. Cozinha perfumada com o cheiro das “pizze” (pizzas) que assavam ao forno…

Minha mãe aponta para mim e diz à vovó: “Chista creatura magna come fosse l’ultima volta in vita! Dio Santo!” (Este moleque come como se fosse a última vez na vida! Deus Santíssimo!)

Vovó rindo, colocando mais uma pizza sobre a mesa, diz: “Lascia stare, Annamarì. Che magne! A lui piace na pizza fatta dalla nonna.” (Deixa pra lá, Annamaria. Que coma! Ele gosta de uma pizza feita pela vovó) Rindo, ela coloca mais um pedaço no meu prato. E eu vou devorando.

Vovô olha para mim e cai na risada, dizendo: “La Madonna, ué! Come magna chist’animale! – ri mais ainda – Che mange! Pizza nunn’è nu peccato. È na indulgenza!” (Eta, Nossa Senhora! Como come este animal! Que coma! Pizza não é um pecado. É uma indulgência!).

E eu passei anos, todo o sábado, devorando pedaços e mais pedaços de “indulgências”.

Pizzas!… Com a lembrança desperta, a memória acena para o meu arrependimento. Arrependimento por não ter guardado entre as tantas receitas que gosto o “segredo” da massa da “nonna”. Uma massa fina, elasticidade perfeita, macia e com bordas crocantes…Adorava ver vovó fazendo a massa de pizza. Ficava ali como se a minha presença agilizasse a feitura da massa. Olhava a “nonna” com “uocchii pezzenti” (Olhos pidonhos). Mas amassa precisava ser sovada e ficar em descanso até crescer ao ponto de ser manuseada.

Eu lembro então, que a massa era a finalização da pizza.

A feitura começava na quinta-feira, quando íamos ao Mercadão comprar a peça mozzarella (fatiada era mais caro), encontrar orégano, o mais fresco possível (tinham mais sabor), “ulive grecce” (azeitonas gregas) e ver se o preço do “alice” (Aliche) estava acessível.

Na sexta-feira, idas às várias feiras-livres para comprar tomates moles (maduros, quase esborrachando). Compravam-se no mínimo quatro quilos.

Tomates que à tarde eram lavados, cozidos em água quente, depois, esmagados com as mãos e passados por uma peneira, para tirar a “pellecchia” (pele) indigesta e as sementes. Em um enorme caldeirão, colocava-se azeite em abundancia e fritavam-se alhos esmagados, cebola ralada, uma colher de orégano ou “rosmarino” (alecrim) – ia do gosto de cada um, sal, uma pitada de pimenta do reino ou pimenta vermelha. Depois o caldeirão era cheio com o sumo dos “pommodori” (tomates) e pelo menos, duas colheres de extrato de tomate para dar mais cor e uma colher de açúcar, para tirar a acidez. O molho ficava “appurando” (cozinhando) por horas, em fogo baixo, até reduzir-se o conteúdo à metade do caldeirão. De vez em quando era mexido com uma colher de pau. E, de vez em quando, para testar o ponto, molhava-se nele um pedaço de pão e provava-se. Pronto o molho, colocava-se em potes herméticos e reservava-se.

A consistência do molho no ponto era quase uma “mousse”. E os discos de pizzas não eram “pincelados” com molho, como hoje em dia. Enchia-se uma concha grande e despejava o molho no centro da pizza e espalhava-se com uma faca…

No sábado à tardinha, vovó abria a massa, uma a uma, com as mãos, rodava a pizza no ar para que ela adquirisse a forma circular. Ajeitava as massas nas formas de folha de flandres e as levava ao forno quente. Depois de um tempo, ela retirava as massas, colocava o molho, a mozzarella, o orégano,rodelas de tomates, as azeitonas e um fio de azeite e as massas voltavam ao forno. Pronto! As pizzas napolitanas estavam prontas para assar! Vez ou outra meu avô queria uma pizza Margheritta. Então, vovó ia ao fundo do quintal pegar algumas folhas de “basilisco” (manjericão). A pizza era a mesma. Apenas substituía-se o orégano pelo “basilisco”.

Enquanto elas assavam, mamãe arrumava a mesa. O vinho para os adultos. A jarra com suco de vinho (dois copos de vinho, um de açúcar e, o resto da jarra era completado com água gelada), o azeite, os copos e os pratos – que só serviam para apoiar os pedaços de pizza. Comia-se a pizza com as mãos. O quarto de uma pizza era dobrado ao meio, como um sanduíche e um pedaço simples era enrolado e enfiado na boca.

E o dia acabava em pizza! Ver um pouco de TV, mais tarde tomar banho e dormir. E enquanto o sono não vinha eu pensava no almoço de domingo. Seria Lasagna à bolognesa? Cappelletti? Gnocchi? Que surpresa nos fará a nonna amanhã?…

Pizza!… E pensar que só havia a pizza napolitana e a sua irmã mais nova, a de “alice”… Ai, a Rainha Margheritta di Savoia virou pizza e ganhou o mundo, e, o mundo ganhou novos sabores de pizzas.

E o Reino da Itália acabou em pizza, a ditadura do Duce (Mussolini) acabou em pizza e a Republica Italiana, com seu entra-e-sai de governos que sempre acabam em pizza, dia desses também vai acabar em pizza.

No Brasil – principalmente em Brasília – é politicamente correto, tudo acabar em pizza…

E as pizzas caseiras acabaram em pizzas encomendadas às cantinas e “deliveries”.

E eu, espero que o mundo termine em pizza. Assim, eu morro feliz!

Wilson Natale [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”O verdadeiro aroma da Mooca – Rubens Ramon Romero” style=”fancy”]

Muitos forasteiros, e outros visitantes do bairro da Mooca, diziam na década de sessenta que estas áreas tinham um cheiro característico. Comentavam que, atravessando as ruas principais do bairro, entrava pelas narinas um odor de alho frito no azeite e de molho de tomate com manjericão, misturando-se com o do café e do açúcar, provavelmente da torrefação e do refino da União.

Falavam do cheiro de fumo usado na fabricação de cigarros, que saía das altas chaminés da Souza Cruz, na Rua do Oratório. Outros dissertavam sobre o cheiro da Mooca identificando-o como cheiro de fumaça, referenciando-se aos trens que passavam pela Rua dos Trilhos.

Na década de setenta, a observação era de que carros barulhentos, sons ruidosos das buzinas e sirenes, misturando-se aos cheiros dos pastéis de feira, perfumes baratos, desodorantes vencidos, mais o cheiro de gente, misturado ao odor da gordura dos churros (das madrugadas, após os bailes de formatura), feitos pelo falecido Toninho da Rua Ana Nery, acrescentado pelos cheiros de molhos de tomates das macarronadas, mais os queixumes do dialeto moquense, de “orra meu!”, manifestava-se um odor sonoro, característico ao bairro.

Um cronista de um jornal de São Paulo, também antigo, dizia que a Mooca cheirava a fritura. Argumentava que o bairro era quase todo de casas baixas, existindo somente alguns sobrados, e que ao passar pelas calçadas antigas sentia-se o cheiro de temperos no feijão, o molho que refogava as macarronadas das famílias, bifes fritos em frigideiras e doces caseiros. Recordava até do “crostoli”, um doce feito com massa e frito no óleo, e polvilhado com açúcar em cima.

Hoje, com o intuito de ampliar a verticalização na Mooca, os novos escritórios de engenharia desenvolvem empreendimentos que trazem o cheiro da mata (por meio de uma essência aquecida que exala o odor), sons de pássaros (eletrônicos), carros circulando e efeitos de amanhecer e anoitecer (por meio de um jogo de luzes) em sua composição.

O cheiro que conheci, e sinto até hoje na memória, um cheiro mais gostoso e agradável, eles não conseguem reproduzir: o cheiro do sanduíche “Bauru de Carne” do bar do Aníbal (na esquina da Rua Itapira com Visconde de Parnaíba), misturando-se com o odor do malte da cerveja, servido nas mesas colocadas nas calçadas, o jogo do patrão e soto, os gritos, todos fumando sem parar, blasfemando e trocando insultos, encerrado em risos e fraternos abraços.

O cheiro atraente e inconfundível… das pipocas… do “machadinho”, aquele doce duro e delicioso (o doceiro quebrava o caramelo com a machadinha), e o algodão doce… vendidos na porta da escola (Grupo Escolar Eduardo Carlos Pereira).

O perfume delicioso que vinha da fábrica de chocolates Gardano. O cheiro do pão fresquinho. Cheiro de chuva caindo no chão seco, fazendo enxurrada, antecipando a enchente, à Rua Coronel Cintra e imediações.

Ainda hoje sinto na memória olfativa o cheiro de doces feitos com coco, das fábricas nas travessas da Rua do Hipódromo e da Rua Bresser. O odor da pitanga (no pé na casa da minha tia, na Rua Visconde de Parnaíba), da bananeira ao lado (a qual deu o apelido à vizinha). Cheiro de frutas do Mercado Municipal, misturando odores de cajus, maracujás, goiabas, resultando: um cheiro único, especial. Cheiro de saudade. Cheiro que ficou impregnado nas minhas lembranças. Cheiro da minha infância.

Mas o mais gostoso que eu trago na memória gustativa é o da macarronada de todos os domingos. O perfume do molho espalhava pela casa, inseridos nos bicos dos pães cortados, ocos, forrados com o miolo, impedindo que vazasse. Essa alquimia italiana minha esposa nunca conseguiu fazer igual, após muitas tentativas em achar qual tempero faltava. Talvez faltasse o cenário das ruas: a conversa que se jogava fora, junto aos vizinhos, sentados com o espaldar das cadeiras encostado aos peitos.

Esse é o cheiro da Mooca, o aroma da saudade, que muitas vezes nos traz um sentimento melancólico infinito, ligado pela memória a situações da separação desse bairro. Nos traz lembranças de experiências e determinados prazeres já vividos, que exala o verdadeiro perfume da Mooca: “Emana a combinação do frescor da lavanda e gerânio associado ao citrus da bergamota, petitgrain e limão e nuances anizadas. O corpo aromático composto de cardamono, cuminho e basilicão são enriquecidos por base amadeirada de sândalo, patchouli, o calor do musgo de carvalho e a sensualidade do musk”.

Perceba, leitor, pelo olfato, na leitura deste capítulo, a emanação volátil do perfume suave e agradável, do aroma marcante da Mooca, e a fragrância da saudade. Esta sim verdadeira. Marca olfativa da Mooca dos meus amores dos meus odores. Sinta este odor, e perceba, ele é da Mooca antiga… dos anos 60… do Perfume Lancaster!

Rubens Ramon Romero

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Memórias políticas da velha Mooca – Antonio Roberto Fava” style=”fancy”]

Tese mostra como adhemarismo e janismo mimetizaram práticas adotadas pelo PCB e desfiguraram um dos berços do sindicalismo paulista

Talvez uma alusão à histórica Praça Vermelha da antiga União Soviética, a capital de São Paulo também teve a sua Praça Vermelha, reduto do Partido Comunista Brasileiro, no bairro da Mooca, zona Leste da cidade. Berço do sindicalismo paulista da primeira metade do século 20, ali a força política e ideológica dos moradores era tão grande que nas eleições de 1947 o partido obteve 34% dos votos válidos, elegendo três dos quinze vereadores comunistas. No entanto, naquele mesmo ano, o partido começou a dar sinais de fragilidade e de não resistir às pressões externas e à ilegalidade, decretada em maio daquele ano.

Vista parcial da Mooca, com o Cotonifício Crespi em primeiro plano, em foto do início do século 20: bairro passa por processo de “desindustrialização” a partir de 1950 Se antes a Mooca era um dos bairros mais importantes da cidade, a partir dos anos 50 passa por um processo de “desindustrialização” com o conseqüente abandono e degradação. Antes, porém, a Mooca detinha a maior concentração industrial, principalmente indústrias têxteis e de alimentos. Era um bairro que concentrava grandes populações de imigrantes italianos (maioria), espanhóis, portugueses e “hungareses” – como são chamados, ainda hoje, os imigrantes oriundos da Europa centro-oriental, russos, lituanos, ucranianos, iugoslavos e húngaros. “Por conta dessa variedade de origens, a Mooca foi um dos bairros mais heterogêneos da cidade de São Paulo”, diz o professor de história Adriano Luiz Duarte, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Um exemplo disso deu-se com a criação, ainda em meados de 1945, dos Comitês Democráticos e Populares, sob inspiração do recém-legalizado Partido Comunista. O pesquisador explica que inicialmente esses comitês deveriam funcionar como núcleos para agregar simpatizantes e potenciais eleitores do partido. No entanto, com o envolvimento nas questões específicas dos bairros, rapidamente esses comitês se transformaram em referência tanto para os pedidos de moradores quanto eletricidade, pavimentação, escolas, postos de saúde, quanto de centros de atividade social, onde eram ministrados cursos de alfabetização de adultos, corte e costura e marcenaria.

Seu imenso espólio organizacional era avidamente disputado por partidos e políticos locais. A Mooca, com quase 100 mil habitantes, era o bairro mais populoso da cidade de São Paulo, além de possuir o maior colégio eleitoral, com mais de 30 mil eleitores. Os maiores beneficiados com a “extinção” do PCB eram duas figuras conhecidas no cenário político nacional: Adhemar de Barros e Jânio Quadros.

“Adhemar havia montado com o seu PSP (Partido Social Progressista) uma sofisticada máquina partidária em cada bairro da cidade de São Paulo. Possuía um diretório distrital, nomeando um juiz de paz e um subdelegado de polícia. Estes nomeavam os então chamados inspetores-de-quarteirão, de modo que todo o bairro fosse esquadrinhado e conhecido em minúcias”, explica Duarte, que acaba de defender tese no IFCH sobre Cultura popular e cultura política no após-guerra: redemocratização, populismo e desenvolvimento no bairro da Mooca, 1942-1973, sob orientação do professor Michael Hall.

Segundo explica, essa azeitada máquina era capaz de mobilizar todas as atividades onde pudesse manifestar a sua influência, assim como conhecer todas as demandas e todos os descontentamentos da população do bairro. Além disso, toda a máquina clientelista – dos pedidos de emprego às demandas por melhorias urbanas – devia passar pelas instâncias do partido.

“O curioso é que, ao menos no bairro da Mooca, a máquina partidária do PSP foi criada a partir de uma série de organizações locais, como clubes de futebol, associações culturais, clubes de dança, entre outras atividades sociais. Quer dizer, o PSP se aproveitou da capilaridade dessas organizações e se constituiu como partido político operando de modo semelhante ao que já fizera, no recém-passado, o PCB”, observa Duarte.

Jânio Quadro, por sua vez, iniciou sua carreira política como vereador em 1947. Iniciou sua trajetória política percorrendo os bairros mais distantes da cidade, colhendo seus problemas e suas carências e depois apresentando-as na tribuna da Câmara. De 1947 a 1952 Jânio foi construindo sua imagem como uma espécie de paladino da periferia e, em suas andanças, seus principais interlocutores eram as chamadas Sociedades Amigos de Bairro. Essas organizações, surgidas em cada vila da cidade, eram herdeiras diretas dos comitês democráticos e populares de inspiração comunista. “Ou seja, tanto o adhemarismo quanto o janismo cresceram no vácuo deixado pela ilegalidade do PCB, disputando e dando continuidade ao clamor de reivindicações da população”, explica Duarte.

O janismo, por exemplo, consolidou suas bases operando por dentro das mesmas organizações já existentes do bairro – clubes de futebol, associações culturais das colônias e clubes de dança. A atuação de Jânio e Adhemar na Mooca revela que as condições específicas dos bairros da cidade eram decisivas para que se pudesse compreender o que se costuma denominar-se populismo. “Atribuir o sucesso eleitoral desses líderes populistas unicamente ao seu carisma pessoal, é, no mínimo, um equívoco”, diz Duarte.

Ambos se sustentavam por meio de sofisticadas redes de contatos com organizações locais que mediavam o seu carisma junto aos eleitores. O contato direto, a partir dessas associações locais com moradores do bairro, segundo Duarte, foi inspirado, evidentemente, nas práticas dos comunistas, com os quais disputavam espaço.

Verifica-se ainda que Adhemar e Jânio, a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) também alcançaram expressiva organização no bairro da Mooca. Mas, de acordo com pesquisador, a UDN nunca conseguiu ser muito popular, uma vez que era identificada como o “partido do fraque e da cartola”, como a denominavam. “De fato, não parece ser a composição social que diferencia a UDN do PSP ou o janismo; a diferença talvez estivesse num difuso sentimento de superioridade expresso pelos seus integrantes e, por conseqüência, na disposição de se envolver nas árduas disputas locais”, avalia o professor.

Eram freqüentes as contendas, ainda que veladas, apenas na base da provocação. Nesse contexto, os opositores da UDN a rebatizaram de “Unidos Destruiremos a Nação”, ao que respondiam acusando o PSP de “Picaretas Sempre Picaretas”.

A relação desses políticos com moradores da Mooca foi reduzida a uma relação meramente clientelista em que a moeda de troca era o voto. “Essa interpretação é equivocada por dois aspectos: primeiro porque os moradores da Mooca jogavam com políticos negociando as suas solicitações, como melhorias para o bairro. A relação era uma via de mão dupla. Parte do sucesso de políticos como Jânio e Adhemar estava na negociação direta entre os políticos e as classes populares de bairros periféricos.

Fonte : Jornal da Unicamp – Edição 190 – 16 a 22/09/2002

ANTONIO ROBERTO FAVA

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Moleque Travesso – Fabio Chiorino” style=”fancy”]

“Mas você não vai assistir ao jogo do Palmeiras?”, perguntou meu pai, incrédulo. “Hoje, o Juventus é a prioridade”, expliquei com serenidade. Se o Palmeiras vencesse seu jogo contra o São Caetano, garantia matematicamente sua ida às semifinais do Campeonato Paulista. Se o Juventus derrotasse o Guarani, afastava de vez o risco de rebaixamento. Não titubeei. Botei a camisa do moleque travesso e me dirigi ao estádio da Javari para acompanhar o dramático embate.

Deixemos o purismo de lado. Quem torce pelo Juventus, quase sempre também torce por outro time. Mas se você mora na Mooca, é obrigação acompanhar o desempenho do Juventus e, sempre que possível, ir aos jogos. Isso não é tarefa fácil, pois, como o estádio não tem iluminação, os jogos normalmente acontecem no meio da semana, em horário que todos costumam estar no trabalho. Quando o calendário ajuda, sobra um jogo numa manhã de domingo ou num sábado à tarde, como foi neste caso..

Comigo estavam o também palmeirense Rafael e o são-paulino Leonardo, que desde sempre moram no bairro. Mas existe uma lei tácita entre os torcedores do Juventus. Uma vez dentro da Javari não se pergunta, muito menos se celebra resultados de outros times. Desta forma, alguns poucos torcedores foram merecidamente vaiados quando comemoram o resultado parcial de 2 a 0 para o Palmeiras, anunciado pelo sistema de som.

Tudo indicava que seria uma tarde inesquecível. A torcida organizada Ju Jovem estava lá, o placar eletrônico funcionava perfeitamente e era possível ver jovens sujos com cara de Cinema da USP gravando um provável documentário. Logo aos 3 minutos de jogo, o zagueiro do Guarani foi chutar, a bola rebateu em Kanu e a bola entrou no gol campineiro. Aos 27, o mesmo Kanu, o atual craque do Juve, sofreu um carrinho no meio de campo e o juiz corretamente expulsou o jogador do Guarani. Fomos para o intervalo com o placar favorável e um homem a mais. Desta forma, para garantir os meus cannoli, nem me importei em enfrentar uma grande fila que tradicionalmente se forma ao redor de Seu Toninho.

Mas nem tudo era doce naquele sábado. O Guarani, que também corre sério risco de cair para a segunda divisão, voltou engajado a reverter a situação. Empatou aos 11, de cabeça, e virou a partida aos 34, num bate-rebate dentro da área. Até mesmo as irritantes meninas que gritavam durante todo o jogo como se estivessem num show da Xuxa desanimaram. Sem saber se apoiava ou elegia os culpados, a torcida do Juventus não arredava pé. Quando o adversário estava mais próximo do terceiro gol do que o Juve do empate, o juiz marcou falta na entrada da área do Guarani. O relógio apontava 47 minutos do segundo tempo. Dedimar bateu com categoria, tirou da barreira e empatou o jogo: 2 x 2. O estádio explodiu em euforia. Emocionados, velhos e garotos se abraçavam. Pais jogavam seus filhos para o alto.

Um minuto depois, Marcos Vinícius ainda perdeu um gol feito, acabando com a esperança de uma virada histórica. O juiz deu o apito final e os mais de 3 mil torcedores deixaram o estádio felizes com a reação, mas extremamente preocupados com o futuro. Semana que vem, o Juventus enfrenta o São Paulo. Se perder, praticamente dá adeus à elite do futebol paulista e retorna momentaneamente ao ostracismo. Enfrentando a lógica, o Juventus respira por aparelhos. Resta-nos a Copa do Brasil, o caminho mais curto para a Taça Libertadores da América. Já estamos na 2ª fase do torneio e vencemos o jogo de ida, contra o Náutico, por 2 a 0. Os mais otimistas acreditam que, se tudo der certo, no final de 2009, estaremos no Japão, disputando o mundial interclubes. Se a sorte não estiver ao nosso lado, voltaremos à estaca zero, ostentando com orgulho a camisa grená com o “J” no peito.

O Juventus se encontra à margem de um cenário preenchido por transações milionárias, interesses de empresários, emissoras de TV, jogadores ambiciosos. Talvez seja por este motivo que o clube sobrevive e continua a cativar os torcedores do bairro. Não me arrependi de ter deixado o Palmeiras em segundo plano, neste sábado. A Javari foi o primeiro estádio que fui na vida. Levado pela mão por meu pai e acompanhado por meus irmãos e minha vó Marché. Na época, xingar o juiz sem sofrer censura, cantar os hinos criados pela torcida e aprender a quebrar a casca sem perder o amendoim eram rituais de passagem. É o que pretendo fazer quando tiver os meus filhos. Sei bem que é só uma visão romântica. Mas é daquelas que seria uma estupidez abdicar.

Fabio Chiorino

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Homenagem a Guido Piva – J.R. Consoli” style=”fancy”] Foi-se o poeta…
calaram-se os versos
que ficaram flores!
O vento passou e
levou as cores,
para enfeitar o infinito…
A Mooca chora
em preto e branco!
Vai poeta maior…
segue o seu caminho de luz,
vai versejar para as estrelas,
contar histórias pra lua,
sussurrar nos seus ouvidos
seus poemas coloridos.
Vai vivapoesiaviva Guido!…

J.R.Cônsoli [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Na Mooca – Ulysses Mourão” style=”fancy”]

Na Mooca tenho a família
que nunca ira me deixar;
os amigos que aqui eu tenho,
não são os “belos da Mooca ” que ficarão lá,

O céu da Mooca tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Na Mooca tenho a família
que nunca irá me deixar.

Minha Mooca tem pizzarias
Que tais não encontro eu cá;
Na javari e parque da Mooca,
Mais prazer encontro eu lá;
Na Mooca tenho a família
que nunca irá me deixar.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem antes comer pizza e beber vinho com a família;
Que nunca irá me deixar…

Ulysses Mourão

(Filho do Jacaré que jogou no Parque, Juva e foi do Pepe Legal)

 [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Mooca dos 60, 70 -Adilson Zotovici” style=”fancy”] Já faz mais de quarenta, cinqüenta
Anos que não voltam mais
Mas que minha memória alenta
O reviver desses tempos imortais
Tempos de que nada se lamenta !

Tempos de “ Pandiá “
Na esquina da Paes e a Jumana
Em que nesse lugar hoje há
Grande prédio com vista bacana…
Bom joguinho de bola era lá !

Dona Sara, nossa diretora
Preocupada com nosso bem-estar
Chamava nossa genitora
Pois da época era peculiar
O respeito com a professora !

Brasilux, MMDC, Osvaldo Cruz !
Entre outras também memoráveis
Foram fontes do saber e de luz
De momentos sutis e notáveis
Que em nosso “Ser” ainda reluz

Patriarca, Imperial , aliança !
Um cinema em cada canto,
Cada matinée, uma festança
Em cada “fita” um encanto
Alegrando o adulto, a criança !

Mas o tempo passava ligeiro
Nova fase se iniciava
Em que cada menino faceiro
Mesma escola noturna cursava
Pra trabalhar quase que o dia inteiro

Encarar o “ busão vinte e oito “
Pra na Praça Clóvis descer
Correr de lado a lado, afoito
E um justo salário receber
Já aos “quatorze”, bem antes dos “dezoito “

Os fins de semana chegavam
Nos bailinhos de “ pró-formatura “
Nas garagens “ Pic Ups” tocavam
LPs do Ray Coniff com candura
E os casais, juntinhos, dançavam !

Na “Oratório” ou no “Mac da Natal”
Entre outros, “Flamingos” e “Sun Sete”
Tocavam de forma genial
Som dos Beatles que ainda nos remete
A divagar naquele belo astral

Em tudo encontravamos graça
Até mesmo nas confusões
Em cada rua, cada praça
Com as gincanas das televisões
Por brincadeira, ou até por pirraça !

Pizzaria do Alberto ou Romanato
De aliche , muzzarela , calabreza
Não importa qual fosse o prato
Mostravam com toda clareza
Que a união da família era fato !

Oh Mooca tão tradicional
Do Brasil tens o justo respeito
Por seres internacional
Pelos bons filhos que tens feito
“ bairro-cidade” perfeito afinal !

Adilson Zotovici [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Do Mascate ao empreendedor – Uma família da antiga Mooca – Rachel Mizrachi” style=”fancy”] “A Mooca nasceu de um antigo caminho de tropeiros do século XVIII, através do loteamento de chácaras limitadas pelo Clube Paulistano de Corridas de Cavalos, freqüentado pela aristocracia paulistana do período. Nos anos de 1920, a região era servida por uma linha de bonde de tração animal e pela Estrada de Ferro São Paulo Railway, que partia da Estação da Luz. O traçado da ferrovia atravessava a terra paulista facilitando o escoamento do café das fazendas entre Jundiaí e Santos. O tempo exigiu a construção de pontes sobre o Rio Tamanduateí (1872-1875), unindo o bairro ao Cambuci e ao Ipiranga.
No programa urbanístico regional, uma área ajardinada – o Parque D. Pedro II – integrava a várzea do Carmo à cidade. Em 1877, quando a Central do Brasil incorporou a São Paulo Railway, as chácaras de José Seabra e Bento Pires de Campos, nas várzeas do Rio Tamanduateí, foram valorizadas e loteadas[1].

O projeto urbanístico de 1891, que pavimentou o antigo eixo – a rua da Mooca – integrava a várzea ao centro da cidade. Em 1898, as obras de aterro e aprofundamento do leito do Tamanduateí favoreceram a implantação de ferrovias e fábricas, transformando a Mooca em parque industrial e operário.

A expansão da lavoura algodoeira no interior definiu a função têxtil do bairro, constituindo o expressivo Cotonifício Crespi, no ano de 1897. Ao lado das tecelagens, a Cia. Antártica Paulista, a Calçados Clark (1905), a Lorenzetti (1923) e a Cia. União dos Refinadores (1929) se instalaram no bairro. Residências simples e geminadas, construídas em torno das indústrias foram as moradias dos imigrantes italianos e espanhóis, primeiros trabalhadores dessas fábricas. A população de São Paulo, que em 1812 era de 31.885 habitantes, passou, em 1910, a 375.439 habitantes. As condições de vida e trabalho do imigrante-operário, no período, não eram boas. A inexistência de leis trabalhistas permitia que os trabalhadores ficassem à mercê das arbitrariedades patronais. A labuta de 16 horas diárias levava o operário a se alimentar e dormir nas dependências das fábricas. A presença de mulheres e de crianças nas fábricas favorecia mecanismos de exploração e rebaixamento dos salários. Parte dos imigrantes instalaram-se também em cortiços com péssimas condições de salubridade, ou em vilas operárias, construídas pelos industriais. A do Conde Crespi atendia somente aos trabalhadores qualificados.

Viver em bairros como a Mooca, Brás, Bom Retiro, Belém, Cambuci e Liberdade, próximos à Estação de Ferro Santos-Jundiaí, nas cercanias da Hospedaria dos Imigrantes, foi escolha natural da maioria dos imigrantes italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses (maronitas, muçulmanos e judeus), japoneses e outros, a partir dos últimos anos do século XIX. A entrada sucessiva de imigrantes da mesma origem favoreceu a formação de comunidades étnicas, onde valores, costumes e tradições típicas se fortaleciam, transformando as regiões citadas em verdadeira “babilônia” de crenças. Conquanto o grande número de igrejas revelasse uma maioria de católicos, mesquitas, sinagogas, templos budistas e centros-espíritas atendiam às necessidades espirituais de italianos, espanhóis, portugueses, sírio-libaneses, judeus e outros grupos de imigrantes que somando-se aos migrantes nacionais, tornaram a Baixa-Mooca um bairro-étnico por excelência.
……….
Nas ruas da Baixa-Mooca dos anos de 1950, a pequena circulação de automóveis permitia brincadeiras da criançada, sobretudo as partidas de futebol. Era comum a presença de verdureiros, peixeiros, carvoeiros, amoladores de facas e tesouras, pequenos ambulantes vendendo as spholiatelas, bijus e pedaços de pizzas. A despreocupação com o perigo e a segurança era geral, reveladas pelas portas destrancadas das moradias, fechadas somente ao anoitecer.

Até a chegada da Televisão, o rádio era o entretenimento diário das mães, envolvidas com as intermináveis e melosas novelas da Rádio São Paulo. A TV Tupi, a do indiozinho, nos envolveu desde o início, especialmente quando começaram as programações infanto-juvenis. O Sítio do Pica-Pau-Amarelo, diariamente apresentado pelo casal Júlio Gouveia e Tatiana Belinky, encantava-nos assim como, aos domingos, o esperado Teatro de Juventude. Desenhos do Tom & Jerry, do Pica-Pau e de outros, em branco e preto, junto com as revistas em quadrinho (compradas ou trocadas) completavam os momentos de lazer. Além desses programas, sessões Zig-Zag nos cines Santo António e Roma na Alcântara Machado, a Radial Leste. Não somente o Repórter Esso levava nossos pais para a frente da TV, mas as operetas e os clássicos da TV de Vanguarda, no antigo canal. Nos anos de 60 como adolescentes, tivemos o privilégio de momentos alegres e inesquecíveis como da construção de Brasília, amplamente divulgada pela imprensa mundial, pelas conquistas dos campeonatos mundiais de futebol, pelos festivais da musica popular brasileira e pelos bailes de formatura que embalaram as primeiras conquistas e namoros. A vivência das crianças se alternava entre a casa e a rua, espaço recreativo das famílias da Mooca, no período. A trabalhosa limpeza dos assoalhos encerados e a preocupação das mães em preservá-los, transformava a rua quase sem movimento de carros, em espaço aberto e livre. Futebol com bolas de meia, nos jogos com de bolas de gude, tampinhas, Bafo (bater figurinhas com as mãos) e o pião, jogado com maestria e precisão, eram as brincadeiras mais comuns dos meninos. Confeccionar e empinar pipas ou “capuchettas” era questão de criatividade e destreza. As competições envolviam a maioria das crianças da Coronel Cintra e adjacências, depois de findas as aulas do Brincar de casinha, confeccionando roupinhas para as bonecas, cozinhando, imitando nossas mães, eram atividades que nos envolviam, por horas. Pular corda, brincar de se esconder, de roda, pular amarelinha e jogar pedras (cúbicas e cuidadosamente escolhidas), eram as brincadeiras das meninas, nas portas de suas casas. Freqüentemente chamadas pelas nossas mães para compras e alguns afazeres domésticos, nós meninas, sentíamos certa inveja das livres e movimentadas brincadeiras dos meninos.

As dramáticas e divertidas enchentes do Tamanduateí
A instalação de novos estabelecimentos fabris e o aumento das moradias fizeram com que as regulares enchentes do Rio Tamanduateí se tornassem catastróficas. No verão, nos dias das grandes chuvas, as ruas da Baixa-Mooca paravam, à espera da elevação do nível do rio. Enquanto a água não atingisse a Rua da Mooca, as aulas prosseguiam. Barcos do Corpo de Bombeiros ajudavam as crianças a chegar ao Grupo Escolar Eduardo Carlos Pereira e ao Firmino de Proença. As aulas eram interrompidas quando não havia mais condições de passagem. Em casa, assistíamos à preocupação de nossos pais.
Assim que as águas baixavam, as famílias procediam à limpeza dos porões e de suas casas, cansadas de esperar pelos carros de limpeza da Prefeitura. Nesse momento, famílias se irmanavam e a solidariedade era total. A força da água e o seu refluxo, depois de horas e até dias, nos mantinha atentos e curiosos, e não impedia que divertidas brincadeiras nascessem nas ruas cheias de lama. Depois da limpeza, as aulas recomeçavam e a rotina voltava. A regularidade das catástrofes em bairro próximo ao centro da cidade trouxe enormes transtornos às autoridades municipais, que se preocupavam em desobstruir bueiros, enquanto os projetos de canalização do rio não se efetivavam.

A partir da década de 50, projetos de vias aéreas expressas foram concretizados. A atual Avenida Alcântara Machado, a Radial Leste, terminada em 1957, interligou o centro da cidade aos bairros da região leste, em expansão. A antiga rua Mem de Sá, travessa da rua da Mooca, dividida pela Radial Leste, separou a Mooca do Brás.
Essas e outras transformações alteraram a configuração do bairro e a decisão de seus moradores. Famílias dos primeiros imigrantes transferiram-se para outros locais, em especial ao Alto da Mooca, Brás, Belém e Ipiranga.

Autora: Rachel Mizrahi
Trechos do livro Do Mascate Ao Empreendedor – Uma Família Da Antiga Mooca

[1] Maria Vaz Rodriguez (coord). Memória e História. Secretaria da Cultura do Município de São Paulo. São Paulo: Divisão de Iconografia e Museus, 1987. [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A Javari é logo ali – James Scavone” style=”fancy”]

Estádio charmoso,futebol retro e ótimas opções para o antes e o depois.
Ir a um jogo no estádio do Juventus virou balada.

James Scavone

Não era jogo do meu Corinthians, nem do São Paulo e do Palmeiras dos meus amigos.Era jogo do Juventus ontra o Barueri,marcado para as 11h. de domingo. Sete amigos,torcedores do trio de ferro paulista, resolveram pela primeira vez ir ao estádio juntos. Isso só poderia acontecer na Rua Javari para torcer pelo segundo time do coração de todo paulistano: o Juventus.

Às 8h30,seguimos direto para a padaria Di Cunto, uma lenda da Mooca. Entrei com uma camisa do Juventus. Queria que viessem a mim com os punhos fechados dizendo “Forza, Juventus”. Ninguém veio.

Barriga forrada, resolvemos ir dali a pé até a Javari. Sentamos na arquibancada. Assim que o juiz apita, começam as piadinhas. O jeito de um dos jogadores do Juventus lembra o boleiro de fim de semana.Logo ganha da gente o apelido de Churrasco. A torcida ao redor parece não ligar. Fora um ou outro, ninguém conhece direito os jogadores. Ouvimos o sotaque ítalo-paulistano em cada comentário. Há um sentimento de camaradagem entre os sessentões.

A melhor chance do Juventus no primeiro tempo sai no finalzinho. Mas o atacante escorrega e revolta a torcida. A trapalhada foi o assunto da espera pela segunda etapa. Festa de arromba, de Erasmo Carlos, abre o show do intervalo seguida de outras da Jovem Guarda. Me infiltro em um grupo de torcedores. Digo que vou escrever sobre o Juventus,um deles conta que tem um escritor que fica sempre atrás do gol torcendo como um louco. É Ignácio de Loyola Brandão, fada Javari.

O jogo no segundo tempo segue morno, e nós levamos 42 minutos para explodir de emoção. Não porque saiu um gol.Mas porque uma pomba resolveu descarregar sua carga bem na cabeça de um dos nossos.Piada para o resto da vida.

Depois da pomba, o juiz apitou o fim da partida. Fuçamos um olhando para o outro enquanto o estádio se esvaziava. Aquele time-amante, segundo lugar em nossos corações, tinha realmente seu encanto. Fomos ao Bar do Elídio, outra tradição da Mooca, e brindamos ao Juventus, ao futebol e às mulheres. No dia seguinte, minha pele me lembrava da falta de protetor solar. Estava da cor da camisa do Juventus.

Obs : Na mesma matéria, o autor também apontou seis razões para ir à Javari :

1) Amigos corintianos, palmeirenses, santistas e são-paulinos podem torcer lado a lado, e pelo mesmo time – o Juventus, é claro.

2) Antes do jogo, traçar umas bisnagas, doces e pães da padaria Di Cunto uma lenda da Mooca.

3) No estádio do Juventus,fica-se muito próximo do campo. Ao contrário de outros estádios,jogadores, técnicos, juiz e bandeirinhas ouvem o que você grita.

4) No intervalo,coma o canoli, iguaria doce vendida nos corredores da Javari pelo mesmo homem há anos.

5) É possível trombar nas arquibancadas com freqüentadores ilustres da Rua Javari, como o locutor Osmar Santos e o escritor Ignácio de Loyola Brandão.

6) Depois do jogo, esperar o domingo passar no Bar do Elídio, com decoração futebolística, que tem chope e acepipes inesquecíveis.

Obs : Matéria publicada na Revista Vip de abril/2008

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Sinto saudades da Mooca – Hugo Linzmaier” style=”fancy”]

SINTO SAUDADES DA MOOCA
QUE MARCOU A MINHA VIDA!

QUANDO VEJO RETRATOS,
QUANDO SINTO CHEIROS,
QUANDO ESCUTO UMA VOZ,
QUANDO PESQUISO O PORTAL,
QUANDO ME LEMBRO DA MOOCA…

EU SINTO SAUDADES!!!

SINTO SAUDADES DE AMIGOS
QUE NUNCA MAIS VI,
DE PESSOAS COM QUEM
NÃO MAIS FALEI OU CRUZEI…

SINTO SAUDADES DA MINHA INFÂNCIA,
DA MINHA PRIMEIRA PAIXÃO,
DA SEGUNDA, DA TERCEIRA, DA PENÚLTIMA
E DAQUELAS QUE AINDA VOU TER,
SE A HARMONIA DO UNIVERSO QUISER…

SINTO SAUDADES DO PRESENTE,
QUE NÃO APROVEITEI DE TODO,
LEMBRANDO DO PASSADO
E APOSTANDO NO FUTURO…

SINTO SAUDADES DO FUTURO,
QUE SE IDEALIZADO,
PROVAVELMENTE NÃO SERÁ
DO JEITO QUE EU PENSO QUE VAI SER…

SINTO SAUDADES
DE QUEM ME DEIXOU
E DE QUEM EU DEIXEI!

DE QUEM DISSE QUE VIRIA
E NEM APARECEU…

DE QUEM APARECEU CORRENDO,
SEM ME CONHECER DIREITO…

DE QUEM NUNCA VOU TER
A OPORTUNIDADE DE CONHECER.

SINTO SAUDADES DOS QUE SE FORAM
E DE QUEM NÃO ME DESPEDI DIREITO!

DAQUELES QUE NÃO TIVERAM
COMO ME DIZER ADEUS…

DE GENTE QUE PASSOU
NA CALÇADA CONTRÁRIA DA MINHA VIDA
NA MOOCA
E QUE SÓ ENXERGUEI DE VISLUMBRE.

SINTO SAUDADES DE COISAS QUE TIVE
E DE OUTRAS QUE NÃO TIVE
MAS QUIS MUITO TER!

SINTO SAUDADES DE COISAS
QUE NEM SEI SE EXISTIRAM.

SINTO SAUDADES DE COISAS SÉRIAS,
DE COISAS HILARIANTES,
DE CASOS, DE EXPERIÊNCIAS…

SINTO SAUDADES DOS LIVROS QUE LI
E QUE ME FIZERAM VIAJAR!
ESCREVER TAMBÉM!
SOBRE A MOOCA!

SINTO SAUDADES DOS DISCOS QUE OUVI
E QUE ME FIZERAM SONHAR.

SINTO SAUDADES DAS COISAS QUE VIVI
E DAS QUE DEIXEI PASSAR…
SEM CURTIR NA TOTALIDADE.

QUANTAS VEZES
TENHO VONTADE ENCONTRAR
NÃO SEI O QUE…
NÃO SEI ONDE…

PARA RESGATAR ALGUMA COISA
QUE NÃO SEI O QUE É
E NEM SEI ONDE PERDI…

VEJO O MUNDO GIRANDO
E PENSO QUE PODERIA ESTAR
SENTINDO SAUDADES EM ITALIANO,
ALEMÃO, POLONÊS, PORTUGUÊS…

MAS QUE MINHA SAUDADE,
POR EU TER NASCIDO NA MOOCA OU NÃO,
NÃO IMPORTA, AQUI EU VIVI…
SÓ FALA PORTUGUÊS ITALIANADO,
EMBORA, LÁ NO FUNDO, POSSA SER
POLIGLOTA.

ALIÁS, DIZEM QUE COSTUMA-SE
USAR SEMPRE A LÍNGUA PÁTRIA,
COM SOTAQUE DO BAIRRO,
ESPONTANEAMENTE.

QUANDO ESTAMOS DESESPERADOS…
PARA CONTAR DINHEIRO…
FAZER AMOR….
DECLARAR SENTIMENTOS FORTES…

SEJA LÁ EM QUE LUGAR DO MUNDO
ESTEJAMOS.

EU ACREDITO QUE UM SIMPLES “IU TE AMO”
“ICH LIEBE DICH”. “SEHNSUCHT”
OU SEJA LÁ COMO POSSAMOS TRADUZIR
SAUDADE EM OUTRA LÍNGUA,
NUNCA TERÁ A MESMA FORÇA
E SIGNIFICADO DA NOSSA PALAVRINHA.

AINDA MAIS QUANDO DIZEMOS:
“TENHO SAUDADES DA MOOCA”.

TALVEZ NÃO EXPRIMA CORRETAMENTE
A IMENSA FALTA QUE SENTIMOS
DE COISAS OU PESSOAS QUERIDAS.

E É POR ISSO
QUE TENHO MAIS SAUDADES DA MOOCA…

PORQUE ENCONTREI DOIS VERBETES
PARA USAR TODAS AS VEZES
EM QUE SINTO ESTE APERTO NO PEITO,
MEIO NOSTÁLGICO, MEIO GOSTOSO,
MAS QUE FUNCIONA MELHOR
DO QUE UM SINAL VITAL
QUANDO SE QUER FALAR
DE VIDA E DE SENTIMENTOS.

ELES SÃO A PROVA INEQUÍVOCA
DE QUE SOMOS SENSÍVEIS!

DE QUE AMAMOS MUITO
O QUE TIVEMOS NA NOSSA MOOCA…

E LAMENTAMOS
AS COISAS BOAS QUE PERDEMOS
AO LONGO DA NOSSA EXISTÊNCIA
NA NOSSA MOOCA E
NA NOSSA AUSÊNCIA.

HUGO LINZMAIER

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A Mooca e seus 452 anos – Euclydes Barbulho” style=”fancy”] A queridinha da cidade, que desperta ciúmes em alguns como se pode ler em seus artigos, por possuir um dos menores índices de criminalidade e que ano após ano os vêm diminuindo, por ser, como cidade do interior, uma grande família, com seus hábitos italianados apesar de abrigar gente vinda de todas as partes, está completando em 17 de agosto de 2008 seus 452 anos.

A Mooca é um bairro que está se preparando para o futuro procurando preservar o que tem de tradicional como o tombamento pelo Compresp de todos os armazéns históricos da Rua Borges de Figueiredo e entre eles o prédio do Moinho Santo Antonio; melhoria no Monumento Histórico a Anchieta na Avenida Paes de Barros com a retirada dos postes que ficavam em sua frente; com o re-calçamento de ruas e avenidas, como a Paes de Barros, com a demolição de velhos armazéns e casas e a construção de conjuntos habitacionais e prédios de moradia, alguns de primeiro nível.

Até a velha Avenida Henry Ford está sendo projetada para ser uma das modernas avenidas com remodelação completa em seu leito carroçável, hoje intransitável, e que poderá abrigar os barzinhos da moda com mesas do lado de fora e musica ao vivo, além de casas de espetáculos, cinemas,etc. Lá não há residências cujos moradores poderiam ser incomodados e será o acesso ao grande Shopping Mooca.

Há ainda, na parte de trás dos armazéns o desvio da linha férrea que atendia e ainda atende alguns armazéns e que agora poderá, num projeto turístico futuro, fazer viagens de dia ou noturnas levando a população aos barzinhos, teatro, cinema e ao shopping que está sendo construído onde era a antiga fábrica da Ford.

A Mooca ainda têm muitos problemas como o “imbróglio” do Shopping Capital que torcemos para que as autoridades e o polêmico proprietário do mesmo cheguem num ponto viável a todos, principalmente aos moradores da Mooca.

O trânsito, pelas vias do bairro, está começando a ficar complicado pelo aumento da frota de veículos e sem planejamento de melhoria do transporte urbano e das vias de comunicação. Com o crescimento da construção de prédios e casas a população mooquense deverá aumentar e se continuar sem planejamento, sem nada ser feito, o trânsito deverá piorar e muito.

Mas a Mooca, para ocupar essa posição privilegiada conta com a participação ativa de seus moradores através de entidades que procuram sua melhoria tanto na segurança como na vida cultural e melhoria da comunidade como, por exemplo, a Associação Comercial de São Paulo – Distrital Mooca, os CONSEGs Alto da Mooca, Mooca, Belém, Brás, a AMO a Mooca, os Rotarys da região e outras que estão sempre ouvindo seus ativos moradores procurando minimizar ou sanar os problemas que podem aparecer.

E assim nossa querida Mooca está completando 452 anos cada vez melhor.

Parabéns “bella”, “bello”, ativos moradores da Mooca.

Euclydes Barbulho
Escritor – Autor do Livro Mooca 450 anos – Passando pelo Túnel do tempo [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Rua Javari: ainda há poesia no futebol – Luiz Fernando Bindi” style=”fancy”]

Luiz Fernando Bindi
Oi, gente! Tudo bem?

No último sábado, dia 7 de abril, resolvi fazer um programa que muitos classificariam como sendo de índio: fui assistir Juventus e Olímpia pela Segunda Divisão do Campeonato Paulista.

Por 5 reais, comprei um ingresso nas antigas e tradicionais arquibancadas do Estádio Conde Rodolfo Crespi, a famosa Rua Javari, no ainda mais tradicional bairro do Mooca.

Estacionei defronte à Pizzaria San Pedro (com mais de cinqüenta anos de bairro). Eu havia chegado às duas da tarde e o jogo começava às três, pois não há refletores na Javari e as partidas têm que terminar antes de escurecer.

Com tempo de sobra, pus-me a observar, o olho direito, geógrafo e o esquerdo, jornalista, as pessoas que começavam a se aglomerar em frente ao acanhado portão de madeira que praticamente separa a rua do gramado.

Primeira constatação: a média etária da torcida juventina é bastante alta, certamente ultrapassando os 50 anos. De pessoas mais jovens, um menino de dez, doze anos, acompanhando um visivelmente emocionado avô, e mais umas quinze pessoas entre vinte e trinta anos.

Quando faltavam vinte minutos para a três da tarde, por volta de setenta torcedores se aglomeravam à espera da abertura do portão. E ele se abriu, com os guardas chamando os torcedores pelo nome e me olhando como a dizer: “esse eu não conheço” e os orientando a passar pela catraca eletrônica (algo deslocada naquele ambiente anos 60).

Lá dentro, um cheiro de poesia, de grama seca sob o sol forte, de saudade (um tio-avô meu foi o sócio número 1 do Juventus) e de absoluta paixão pelo futebol.

Sentei na arquibancada branca e grená (capacidade para 196 torcedores, diz uma placa preta com letras amarelas) e esperei o jogo começar, sempre observando a torcida que chegava.

A organizada do Juventus (a Ju-Jovem), brinca-se, cabe numa Kombi. Mas ela chegou barulhenta, uma romântica charanga, entoando nomes de jogadores desconhecidos com uma paixão há tempos esquecida. Realmente, ela é formada por jovens, que não ultrapassam os vinte anos. Fico pensando: nas brincadeiras da segunda-feira, terão eles coragem de admitir que torcem para o Juventus da Mooca?

A partida começou, muito boa e bastante disputada. Meus olhos eram de um simples observador, já que não torço para nenhum dos dois times. Mas ao ver o amor construindo-se à minha frente na figura de um senhor de seus setenta anos, que gritava palavrões em italiano e dizia que não xinga “jogadô do Juventos”, comecei, sem me dar conta, a torcer pelo time grená.

No fim do jogo, quando o Juventus fez o gol da vitória aos 47 do segundo tempo, me peguei pulando e abraçando ‘seu’ Irineu, o italiano que xingava na sua língua natal.

Na saída, esperando em frente à porta de madeira cor de vinho, estava o menino de uns doze anos que acompanhava o avô. Flâmula na mão direita e caneta na mão esquerda, ostentava um brilho que só o puro amor pode trazer aos olhos de uma pessoa. É… como o futebol é lindo

Obs :Luiz Fernando Bindi faleceu em 22/07/2008

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”O adeus de Rafael Cardamone, o embaixador da Mooca – Geraldo Nunes” style=”fancy”]

O homem que levou a Mooca à televisão e deu ao bairro projeção nacional morre aos 78 anos.

Rafael Luongo Cardamone fazia cara de durão quando visitava os administradores regionais da Mooca para encaminhar as reivindicações do bairro. Era a lâmpada de um semáforo apagada há vários dias, a falta de policiamento ou de varrição nas ruas, a demora na coleta do lixo. Raluca, apelido que deu a si mesmo com as iniciais do nome, era pau para toda obra quando o assunto dizia respeito à Mooca. Depois em casa, escrevia em lágrimas suas poesias e depois as distribuía via fax para os amigos. Às vezes telefonava para colher opiniões sobre os versos que fazia. “Ficou bonito ou não?” Perguntava. Claro que ninguém iria contrariá-lo. Eram versos lindos de fato. Na década de 1960 comandou a escuderia Pepe Legal que participava da Gincana Kibon, um programa de TV comandado hora por Hélio Ansaldo, hora por Raul Tabajara ou Murilo Antunes Alves, mas sempre na Record.

A produção pedia coisas do tipo: uniformes da Estrada de Ferro São Paulo Railway, medalhas ou troféus de algum campeão brasileiro, comendas honoríficas de paulistanos ilustres e outras coisas mais. Quem trouxesse primeiro ganhava pontos e os vencedores doavam os prêmios a instituições de caridade. Certa vez, Raluca precisou subir na torre de uma igreja para capturar uma coruja em plena luz do dia, tudo para vencer a gincana e colocar a Pepe Legal no podium e a Pepe Legal sempre vencia.

O sucesso era grande, moradores de outros bairros queriam de algum jeito a participar. Gente do Brás, do Ipiranga, da Vila Prudente queria fazer parte da escuderia. Certa vez o grupo musical The Jordans visitou a Inglaterra e aconteceu um encontro informal com os Beatles. Um dos integrantes da banda brasileira que também é da Mooca vestia uma camiseta da Pepe Legal e as fotos foram publicadas em jornais, fazendo com que a escuderia se tornasse conhecida no Brasil todo.

Foi então que os representantes dos estúdios Hanna & Barbera, detentora da marca Pepe Legal, procuraram a escuderia e todos acharam na Mooca que algo de ruim pudesse acontecer. Pepe Legal era um herói dos desenhos animados, um cavalinho branco, de chapéu, revólver e cartucheira. Certamente cobrariam royaltties pelo uso indevido do nome e todos já preparavam uma explicação, mas na verdade o que ouviram foi elogios e agradecimentos por terem tornado o personagem do desenho, marca famosa e líder de audiência. A Pepe Legal virou uma febre e durou enquanto o programa de gincanas da TV Record esteve no ar. Restou como lembrança da época, o rosto do cavalinho esculpido no Monumento a Anchieta, localizado entre a Avenida Paes de Barros e a Rua dos Trilhos.

Raluca, também era considerado o embaixador dos Estados Unidos da Mooca pelo fato de dizer a todos que se o mundo fosse dividido, não em países, mas em bairros, a paz estaria consolidada. “Sim, porque as distâncias seriam maiores e não haveria como invadir as terras alheias sem incomodar a vizinhança”. Rafael Cardamone foi um dos primeiros a chamar a Mooca de nação, por isso era o embaixador. Para enaltecê-la dizia “Bairro é bairro, Mooca é Mooca, nada se compara.

Rafael Cardamone já vinha sofrendo há algum tempo. Primeiro fora operado de diverticulite, doença de políticos como Fidel Castro e Tancredo Neves. Depois passou a sofrer com a hipertensão, até que o coração se recusou a bater no último 30 de março. Raluca, que também era poeta, partiu. Tomara a Deus que um dia vire nome de rua, na Mooca, é claro.

Geraldo Nunes, escritor e jornalista, apresenta na Rádio Eldorado AM – 700 kHz o programa São Paulo de Todos os Tempos, aos sábados 21 horas com reprises no domingos às 6h e às 12hs.

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Herança que fica – Bernadete Toneto” style=”fancy”]

O Cotonifício Crespi fechou as portas em 1967. Foi a primeira fabrica da Mooca. Depois vieram outras: Armazéns Matarazzo, Grandes Moinhos Gambá, Casa Vanordim, Tecelagem Três Irmãos, Andrauss Cia. Paulista de Louças Esmaltadas, Fábrica de Tecidos Labor, Frigorífico Anglo, Máquinas Piratininga, Alumínio Fulgor e Companhia União dos Refinadores, todas localizadas na parte baixa do bairro, onde as terras eram mais baratas, e próximas à linha dos trens da São Paulo Railway.

A proximidade com a ferrovia tinha uma razão prática: facilitar o embarque e desembarque de mercadorias. Seus motores hidráulicos eram propulsionados por água advinda de reservatórios localizados no Alto da Mooca. A estrada de ferro também trazia os operários italianos, portugueses, espanhóis e os “hungareses”, como eram chamados os imigrantes da Europa Central e Ocidental. Era gente de diferentes sotaques, que chegava para “fazer a América”, atraídos pelo sonho de trabalho farto.

Os operários da Mooca viviam em casas geminadas, sem jardim e com pequeno quintal nos fundos. As portas e janelas davam diretamente para a rua, e de dentro das casas se ouviam as conversas dos vizinhos, o pregão do verdureiro e vassoureiro , as brincadeiras das crianças e as brigas nos bares.

Quando iam e vinham das fábricas os trabalhadores costumavam visitar um capelinha próxima as orfanato feminino Cristóvão Colombo. Era o oratório que daria o nome à rua, próximo à rua da Mooca e à avenida Paes de Barros. Comunistas e anarquistas rezavam, pedindo as bênçãos da Madona para seu trabalho e suas famílias.

Adélia abre os olhos. Uma lagrima furtiva embaça os óculos. Como se voltasse de um tempo que é agora, termina a conversa:

– A Mooca mudou. Cresceu, já não há mais fábrica, não tem mais apito chamando

para o trabalho. Mas tudo continua igual, sabe? Ainda tem vendedor na porta, tem caminhão que vende gás, tem o moço que vende pão na carrocinha. Aqui quem nasce operário morre operário, com gosto para trabalhar.

Bernardete Toneto

Trecho do livro “Casa de Taipa – O bairro paulistano da Mooca em livro-reportagem”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Ma perche a Mooca ta ficando vertical, bello ? – Ana Luiza Puzzovio” style=”fancy”]

Má perche a Mooca tá ficando vertical bello ??

Mi dá arrepiu passá pelas rua da Mooca e vê todas casinha antiga no chom, derrubada pra subirem aqueles prédio tudo grandi.

Má che tristeza, que paura , estão acabando com a nossa Mooca.

Aquela Mooca romântica,

Aquela Mooca tradicionale,

Aquela Mooca que tutti personi se orgulhava de olhar, de sonhar, de viver.

É vero !!! quem mora na Mooca não habita,… quem mora na Mooca vive seu bairro,… sente seu bairro, respira seu bairro, mas agora….tanto prédio construído…tanta casinha destruída e noi tutti…..piangendo insieme.

Che paura, non’e possibile que nessuno fare niente.

Per favore, não destruam a nossa Mooca, deixem o que resta de romântico continuar, não deixem que a Mooca se torne um bairro VERTICAL.

Per favore, salvem a Mooca.

M aior que tudo na vida,

O amor que sinto pelo meu bairro,

O nde passei minha infância,

C riei meus dois filhos e,

A mei intensamente…

Ana Luiza Puzzovio

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Sou da Mooca meu! – Valdir Terezzino” style=”fancy”] Meu, que aperto no peito é esse quando falamos da Mooca ?
Meu, porque o coração acelera quando falamos do orgulho de sermos da Mooca ?
Meu, porque chega a doer quando estamos fora Mooca ?
Meu, porque relutamos tanto em sair da Mooca ?
Meu, o que significa isso ?
Meu, que magia é essa ?
Meu, que sentimento maravilhoso é esse ?
Meu, que bom ter nascido na Mooca…
Meu, que bom estar vivendo na Mooca…
Meu, que bom seria morrer na Mooca…

Valdir Terezzino
(Vadico) [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”O dia que virei torcedor do Juventus – Rodrigo Herrero” style=”fancy”]

Quando uma partida de futebol transcende a mera prática do esporte

Estava um sol de rachar. Era por volta das 15h10 quando desci do ônibus na avenida Radial Leste, principal via que liga a zona leste ao centro, num ponto no cruzamento com a rua do Hipódromo, na Mooca, bairro charmoso por sua história e orgulhoso pelo seu povo. É até chamado por alguns de “República da Mooca”. Era domingo, 15 de janeiro, depois de amargar dois anos na série A-2, era estréia do Juventus no Campeonato Paulista, já que a partida da primeira rodada contra o São Paulo fora adiada, em virtude do tricolor ter entrado de férias mais tarde por causa de sua conquista no Japão.

O adversário daquele dia de calor incrível era o São Bento. Atravessei a Radial e caminhei pela pacata rua do Hipódromo, de suas casas velhas e comércios fechados, até chegar à rua dos Trilhos. Entrei na rua Visconde de Laguna e avistei um maior movimento de pessoas. Virei à direita: estava na mitológica rua Javari, de tantas histórias e reverências. Endereço que guarda o simpático estádio Conde Rodolfo Crespi, casa dos juventinos.

Pisando meus chinelos na calçada daquela rua sentia o clima caseiro. “Espera só um pouquinho que eu vou ali em casa e já volto”, dizia um senhor de idade avançada, com a camisa de cor grená do Juventus. Era um lugar que as pessoas não andavam mais de um quilômetro até o estádio. Sua ligação com o time é, acima de tudo, por causa do bairro, assim como é para os times do interior que encarnam o nome da cidade e representam suas cores por todo o estado. Ali, no pequeno bairro de imigrantes, que um dia foi repleto de indústrias e operários, toda a história e satisfação daquele povo vem do seu bairro e de seu representante pequeno, o Juventus, que enfrenta (e vence) os irmãos mais poderosos do chamado trio-de-ferro. Acho que minha simpatia por esse clube deve-se ao fato de ser o único estádio a ter jogo na zona leste (a fazendinha do Corinthians não é utilizada em jogos de profissionais). Sinto satisfação nisso, afinal, eu moro no “lado leste” da cidade.

O clima familiar e de amizade é tão grande que o bilheteiro nem me pediu o RG para bater com a carteira de estudante da pós-graduação que eu lhe entregara. Disse que não precisava. Surpresa, pois no Morumbi, na semana seguinte, o rapaz de lá quase me xingou quando eu apenas entreguei a carteira. As pessoas passam de um lado para o outro, conversando, confraternizando. Todos se conhecem. Até por isso, me senti um pouco estranho ali. Havia anos não visitava o estádio. Ia muito quando a Copa São Paulo de Juniores realizava jogos ali. Meu primeiro jogo num estádio fora na rua Javari: São Paulo 7×0 Volta Redonda. Nem me lembro o ano, mas sei que eu era garoto e meu pai estava junto, numa das raras vezes em que ele foi comigo para o campo.

Tirei uma foto da fachada do estádio e resolvi procurar uma cerveja num posto de gasolina que ficava no fim da rua, nem 300 metros distante. Entrei na área de conveniência com um ar condicionado geladíssimo. Já estavam dois homens conversando e bebericando. Peguei uma long neck, sentei numa cadeira e esperei alguém do posto atender, já que num tinha caixa. Logo depois apareceu o frentista: “Vocês fiquem à vontade aí, porque a pessoa do caixa não veio hoje. Para pagar vocês falam comigo depois”. Após saciar minha sede naquele calor infernal, deixei a garrafa na mesa e fui pagar o frentista. Ele nem conferiu se eu tinha bebido apenas aquela cerveja, perguntou apenas o que eu tinha consumido e disse o valor. “Bom jogo”, desejou ao despedir-se. Respondi sua confiança e cortesia com um “bom trabalho” e voltei para o meu destino.

Entrei no estádio e fiquei na parte coberta. Nem posso chamar de numerada, pois não há bancos, apenas o cimento duro. Essa área estava repleta. O resto da arquibancada vazia. Alguns torcedores organizados do Juventus atrás de um dos gols e uma meia dúzia de fanáticos de Sorocaba com algumas faixas do clube azul. Já estava quase na hora do início da partida quando o Juventus entrou em campo, ovacionado pelos presentes. Resolvi apoiar também. Após alguma espera apareceu o São Bento, vaiado e xingado, como todo visitante, pela torcida da casa.

A partida começou e eu, com o radinho ligado no ouvido acompanhando o Palmeiras contra o Marília, me motivava mais com o jogo que via do que com o que ouvia. Desliguei o rádio e só o ligava para saber como estava o placar. Logo no começo da peleja na zona leste o volante Alê, ex-São Paulo, abriu o marcador com um belo gol, que ele nunca fez no tricolor, dada a sua fraca condição técnica. A rua Javari virou uma festa só. Gritos e aplausos misturaram-se aos cantos da torcida organizada do time. No segundo tempo, o Juventus perdeu vários gols, mas acabou ampliando com um tento de pênalti anotado pelo centroavante Wellington Paulista.

Mas aí a síndrome de vira-lata de Nélson Rodrigues passou a afligir o time da casa e sua torcida. Alguns começaram a reclamar do número de gols perdidos e do recuo excessivo, quando o São Bento diminui, com Genílson, através de um pênalti. A pressão prosseguia e a alegria se transformou em desespero. Eu mesmo já estava agoniado, não agüentava mais aquele calvário toda hora que a bola chegava na área juventina.

Até que, aos 48 minutos da etapa final (o juiz tinha dado 4 de acréscimo) uma bola na área do clube da capital e o gol de cabeça (feito por Jeci) tomado no fim transformara a festa em tristeza e amargura. “Eu não falei? Sabia que isso ia acontecer. É sempre assim”, lamentava um jovem torcedor. Mas o jogo ainda não havia acabado e mais uma peça estava para ser pregada na história do futebol. Aos 49 minutos aconteceu uma falta na intermediária de ataque do Juventus. A partida podia ter acabado ali, mas o árbitro esperou o desenrolar do lance. Resultado: bola na área do São Bento, bate e rebate, bola na trave, goleiro no chão e num dos rebotes o zagueiro da casa Max Sandro encarnou o papel de redentor e enfiou para as redes.

Aos cinqüenta minutos acontecia a glória suprema. Os atletas reservas invadiram o gramado, a torcida foi a loucura. Parecia final de campeonato. Ninguém acreditava no que acontecia naquele acanhado campo. Ali o árbitro encerrou a peleja e o que se viu foi uma pequena briga no campo entre os jogadores das duas equipes e a torcida berrando “Juventus, Juventus”, quando um senhor que estava trás de mim na arquibancada disse: “A justiça foi feita”.

Provavelmente não foi o pensamento do São Bento. Mas, naquele dia épico do futebol mais simples, meio varzeano, que não aparece na mídia, o Moleque Travesso realizava mais uma de suas proezas. E, na lógica de seu torcedor que via seu time voltar à primeira divisão, era mais que justo o Juventus vencer no seu bairro. Quase uma imposição, uma necessidade. E como nesse esporte a lógica fica a cargo da imprevisibilidade, e a justiça nem sempre se reflete no placar final, ao menos naquele momento aquela frase, mais um pedido, fazia sentido.

Rodrigo Herrero

Revista eletrônica Rabisco
www.rabisco.com.br

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Ai que saudades que eu tenho… – Alcides Barroso Garcia” style=”fancy”]

Ai que saudades que eu tenho
Do bairro onde eu nasci
Do morro coberto de amoras
Do lar Barroca onde cresci

Ai que saudades que eu tenho
Do canto apaixonado do sabiá
Do canto melodioso do tico-tico
Do canto debochado do bem-te-vi

Ai que saudades que eu tenho
Dos amigos que lá deixei
Das peladinhas de rua
Dos jogos de dama e xadrez

Ai que saudades que eu tenho
Da água pardacenta do lago
Dos pulos e das cambalhotas
Do vôo do canzil sobre o charco

Ai que saudades que eu tenho
Do som continuo das rãs
Do som estridente dos grilos
Do som da coruja da noite

Ai que saudades que eu tenho
Do canto do garnisé
Do latir do vira lata
Do cabrito a ruminar

Ai que saudades que eu tenho
Da lenta passagem do isoso
Da velhas regando as flores
Das mães cuidando do lar

Ai que saudades que eu tenho
Das festas de São João
Das quermesses e dos cricos
Das rezas e das procissões

Ai que saudades que eu tenho
Dos encontros “casuais”
Dos rapazes sonhadores
Dos romances sensuais

Ai que saudades que eu tenho
Dos sambas e das marchinhas
Das cabrochas e dos passistas
Dos pierrôs e das colombinas

Ai que saudades que eu tenho
Das bisbilhotices das velhas
Dos calouros desafinados
Dos atletas “embebedados”

Ai que saudades que eu tenho
Das ruas movimentadas
Das casas sem grades e muros
Das prosas e das serenatas

Ai que saudades que eu tenho
Das lindas moças operárias
Das saias rodadas de chita
Das cinturas bem apertadas

Ai que saudades que eu tenho
Dos meus tempos de estudante
Dos contínuos e serventes
Dos meus mestres impacientes

Ai que saudades que eu tenho
Dos filmes do faoeste
Dos soux cara-pintadas
Dos soldados cara-pálidas

Ai….

De Alcides Barroso Garcia (Cidão)

Extraído do livro “Mooca, berço dourado”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A barroca e o tchipum – Alcides Barroso Garcia” style=”fancy”]

Já se aproximavam os anos cinqüenta.

Vou pedir licença para desviar o assunto, e contar um caso que aconteceu comigo e dois amigos. Um deles era meu primo Tim, que falava “trigue”, invés de tigre.

Entre os sete e onze anos, eu chegava da escola, tirava o uniforme, composto de uma caça curta e camisa branca, ficava descalço e me mandava correndo para a rua. Quase sempre levava um pedaço de pão e um pouco de sal. Juntava-me a outros “capetinhas” e íamos para a barroca. Só não ia para a barroca, aos sábados e domingos. Nesses dias eu me transformava em engraxate,

Deixe-me explicar primeiro o que era barroca. A barroca era uma área muito grande de propriedade da Companhia de Terrenos Parque da Mooca. Essa área pegava a parte direita de quem sobe a Av Paes de Barros e ia até os Armazéns Gerais no Bairro do Ipiranga. Os armazéns ladeavam a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, e quase sempre estavam envolvidos por incêndios criminosos. A barroca avançava também de um lado em direção à Vila Prudente, e terminava no lado oposto, exatamente na Várzea do Glicério, também conhecida por Ilha dos Sapos. Quatro quintos da área eram cobertos por uma rica vegetação e algumas correntes d’água. Um quinto estava tomado pelos campos de futebol dos times de varzeanos. Dali saíram craque como os irmãos Pinga da Portuguesa de Desportos, Oswaldinho do Juventus e do Palmeiras, Vitor do São Paulo, que se tornaria o mais implacável marcador de Pelé, o clássico e estilista Zinho da Lusa, Adhemar e Diógenes do Juventus e do São Paulo e Corinthians, Rodrigues do Palmeiras e da Seleção Brasileira, etc.

No meio da rica vegetação natural, encontravam-se com relativa facilidade; amoreiras , ameixeiras, goiabeiras, maracujazeiros, sementes de Maria-pretinha, riachos infestados de rãs e lambaris, cobras de várias espécies e tamanhos, tatus, preás, canários da terra, pintassilgos, bem-te-vis, sanhaços, sabiás uma e laranjeiras, rolinhas, beija-flores de várias cores, papas-capim, andorinhas com o dorso e asas azuis, cardeais, raras patativas, bigodinhos, bandos de pardais, curruíras do brejo, chorões, tesourinhas, bicos-de-lacre, piriquitinhos verdes, avinhados, azulões, tsius, tico-ticos, galinhas que haviam escapado de algum galinheiro e que chocavam na relva, gambás, que muitos confundiam com raposas, urubus atrás de carniça e até gaviões em busca de camundongos. Para pegarmos alguns desses pássaros usávamos de vários estratagemas. Os tsius e bico-de-lacre pagávamos com visgo que esfregávamos nos galhos próximos a sementeiras. Os tico-ticos pegávamos com arapucas, e os papa-capins e pintassilgos, com gaiolas com alçapões falsos. Costumávamos fazer um buraco no chão, de mais ou menos quarenta centímetros de cada lado, e ali deixávamos os pássaros aprisionados. Cobríamos os buracos com galhinhos secos que espetávamos nas beiradas. Lateralmente cavávamos um pequeno túnel, e por ali enfiávamos o braço, soltando o pássaro. Dentro do buraco colocávamos uma canequinha com água, alpiste e um pouco de quirera. Quando no final da tarde íamos apanhá-los, às vezes éramos surpreendidos por pequeninas cobras que entravam no buraco, não se sabe por onde. Encontrava-se também ali, uma espécie de amora jamais vista em outro lugar: a amora italiana. Diferentemente de outros tipos de amora, ela quando madura e ao ponto de ser colhida e comida, ficava amarela. Era tão gostosa que era muito difícil achar um pé virgem. Para camuflá-la, chegávamos ao ponto de cobri-las com outra vegetação. Havia também uma espécie de maracujá roxo extremamente delicioso. Era menor que uma bola de tênis, mas tinha tantas sementes dentro que pesava mais que os grande maracujás de casca amarela. Naquele lugar só não se encontrava sal para tempero, por isso eu e meus amigos tínhamos o hábito de levar um pedaço de pão e uma porção de sal. Não posso me esquecer também, das tajuranas, ou como queiram, içás. Costumávamos comer as “bundinhas” desses insetos. Para quem não sabe, içá é a fêmea alada da formiga cortadeira. Depois das chuvas, elas apareciam às dezenas. Ali ficávamos até anoitecer , e por incrível que possa parecer, tínhamos até sobremesas. De quando em quando, um caminhão da firma Chocolates Gardano descarregava e deixava no chão, centenas de barras de chocolates com falhas na embalagem. Era só escolher e comer. Também os fabricantes de cigarros costumavam descarregar pacotes de cigarros com defeitos. Lembro-me até de três marcas famosas. Aspásia, Fulgor e Macedônia.Eu “abasteci” meu pai vários anos com aqueles cigarros. Cheguei inclusive, a vendê-los picado nos bares e salões de sinuca. Não posso me esquecer ainda das laranjas. Na época da colheita, uma fabrica de sucos não me recordo o nome jogava caminhões e caminhões de laranjas levemente estragadas. Ficávamos horas e horas escolhendo as mais perfeitas. Também cheguei a vendê-las pelas ruas do bairro. Na verdade, apesar de pobre, eu nunca tive problemas com dinheiro. Eu sabia como ganhá-lo. Às vezes eu corria o bairro puxando uma carrocinha, e só voltava quando ela estava cheia de garrafas e latas vazias, que eu vendia no ferro velho do espanhol Bartolo. Bartolo era legal e sempre me pagava mais . Outras vezes auxiliava o seu Luiz, um negro muito educado que era dono de uma banca de jornais na Rua Fernando Falcão, vendendo a Gazeta e A Folha de porta em porta. Com os “trocados” que eu ganhava vendendo os jornais, eu comprava velhos Gibis (revistas de aventuras em quadrinhos) Meus heróis preferidos eram o Tocha Humana, o Homem submarino, o Capitão América e o Brucutu, montado em seu dinossauro Dino. Eu também gostava do detetive Dick Tracy e do vistoso topete de Ferdinando. Seu Luiz era comunista , quem não era na época?, E cuidava do clube Paz, que estava localizado na Rua do Oratório, perto do antigo cemitério que ficava na esquina da Rua da Mooca com a Juvenal Parada. Diziam que o local era mal- assombrado, mas eu passava por ele sem dar bola. O Clube Vasco da Gama transformou o antigo cemitério em seu campo de futebol. Quando era feito um bonito gol, os impressionáveis, ou seriam gozadores? Diziam que era obra dos espíritos. Perceberam por que? Deixemos os espíritos e voltemos ao Paz.Às sextas-feiras eu saia da escola e parava nesse clube para jogar pingue-pongue. Foi lá que aprendi a dar cortadas nas bolinhas. Quem joga pingue-pongue, sabe que estou falando. Continuemos com as brincadeiras.

Quando não estávamos envolvidos com as “peladas”, estávamos montando arapucas ou atirando com estilingue, e quando não estávamos fazendo nada disso, íamos dar mergulhos ou armar alguns covos na “prainha”, um córrego de água límpida e cristalina, muito concorrido. Na época de calor íamos à noite para essa “prainha” e ficávamos horas fisgando rãs. As cobras-d’água, com o dorso amarelo e costado verde e cinza eram nossas companheiras. Disputavam conosco palmo a palmo, essas presas valiosas. Ainda bem que elas não eram venenosas. Para vocês terem uma idéia como eram bons aqueles dias, nosso pais quando nos viam voltar cedo demais, achavam que estávamos doentes ou tinha acontecido algo de anormal.

Num dia de calor intenso fui à barroca nadar no Tchipum, uma lagoa funda e de água barrenta muito procurada por crianças e marmanjos . Como disse antes, estavam comigo o Tim, que era meu primo, e o Zé Calabrês. Não é preciso dizer que o Zé era descendente de italianos. Ficamos um longo tempo brincando naquela água barrenta, e quando saímos, as nossas roupas tinham desaparecido. Eram simples vestimentas. Cada um de nós usava somente uma calça curta e uma camisa com um bolsinho. Cuecas do tipo samba-canção só eram usadas por homens e meninos ricos.

Perto da lagoa, um pouco mais acima, começava o Bairro da Vila Prudente. Quase sempre encontrávamos alguns moleques daquele bairro e a coisa sempre terminava em briga. Levava vantagem quem estivesse em maior número. Até que era legal. Eu gostava de uma briguinha saudável. Aquilo nunca tinha acontecido antes. Apesar de sermos moleques de rua, tínhamos vergonha de que nos vissem pelados, ora ! Sabem como resolvemos o problema ? Arrancamos diversas folhas de mamona, amarramos todas elas com cipó bandeira e improvisamos uma proteção. Enlaçamos a cintura, demos um nó na frente e voltamos para casa ao escurecer. Paramos por uns momentos no alto do morro que circundava o campo do União Democráticos, e avistamos ao longe, centenas de vaga-lumes ajudando a Lua a iluminar as moitas e poças d’água.Dali era possível ouvir o coaxar dos sapos e das rãs. Já era noite, quando entramos na Rua Bixira. Foi aquela gozação ! Parado defronte ao bar do Zezinho, conhecido por suas freqüentes brigas por Bar do Faroeste, que ficava na esquina da Rua Madre de Deus, estava o Chupin, um grande gozador. Chupin, com sua fala mansa, tirava “sarro” de todo mundo. Quando nos viu, começou a gozação .

– Hei! Vocês aí peladões !

– De onde estão vindo ?

– Cadê o Tarzan e a Chita ?

– Cadê a Jane ? Ficou fazendo sopa ?

O Zé respondeu com inúmeros palavrões. Enquanto andávamos acelerados, continuamos ouvindo as gozações.

Depois de uns meses demos o troco numa garotada da turma do morro, como eram conhecidos os moradores daquela parte da Vila Prudente. Estávamos em seis, quando avistamos de longe, quatro garotos vindos pela encosta do morro em direção ao Tchipum. Um deles, que parecia ser o mais velho e mais forte, vinha movendo um carrinho de pedreiro cheio de verduras e frutas. Começamos a nos aproximar arrastando-nos pela erva rala que cercava o fosso. Quando nos viram, já era tarde. Por incrível que pareça, o mais forte era o mais covarde. Saiu da água rapidamente e pôs-se a correr na frente dos outros, desaparecendo num piscar de olhos. Os demais fizeram o mesmo. Eu convenci meus amigos para deixar as roupas e me apropriei do carrinho. Viemos vendendo pelo caminho as verduras e frutas, e dividimos o dinheiro em partes iguais. O carrinho ficou com o Chiquinho, que deu ao pai que era verdureiro por profissão. Seu Chico relutou inicialmente, mas acabou ficando com ele.

Texto extraído do livro “Mooca, berço dourado”, de autoria de Alcides Barroso Garcia, o Cidão

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Os amici qui si fôro – Guido Piva” style=”fancy”] In memoria aos amico da Móca,
quitanta sodadi mi dá.
Io falo só di rizo…
ma tê ora qui non dá…
A genti vá lembrando,
da Móca, dos amici…
di tutto qui si passô por lá.
I tê ora…nem ti falo!
in mezzo di alegria,
vem as coza di tristeza,
qui nem quiria mai falá.
Ma la vita… Ah! la vita,
as veiz, nos faiz churá.

Contudo…nó importa,
cum cirteza, essis amici,
ondi iston von iscuitá,
e cum chôro, ô senza chôro,
quarqué dia istamo lá.

Lembrê do bambino Danié,
o Issa me feiz pensá,
o Imon me veio a mente,
giunto…o Silvio da Radiá…
O Juá, tutti per tutti,
o Pepe, o Marcelo,
o Pinóquio, o Ronardo,
o Carmelo da mecânica…
di tutti elis, fui lembrá.
Me lembrê do Brucutu,
do Luizone, e do Cabrá
(qui lá no Pepe fui gostá)
Mi lembrê di tantos otro,
ma di lembrá, io vô pará,
giá nó posso mai falá :
Só vô dizê pra terminá:

“Amici! Me aguardi mai un poco,
io també…vô aí aparecê…
e aí si…noi vamo cunversá.”

GUIDO PIVA
MAI CUNHECIDO COME
PIMPINELLO RIZONI

Nota do Portal da Mooca :
Amico Guido: e voce fu mesmo si giuntá con elis e tutti nois qui aqui ficamu estiamo com muita saudade. Un grande abbraccio.
Conheça mais sobre este poeta mooquense, na página de “Famílias e personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Festa di San Gennaro – Guido Piva” style=”fancy”] Numa nótte di sitembro
Numa bruta chuvarada,
Pasqualino, io, e Nino
Cuma fómi di leone,
Fumo comê o macarrone
Na festa di San Genaro…

É paisá…io nem ti falo,
Lá, dancemo a tarantela,
Bebemo molto vino,
Comemo a sardela
Cum cipôla e biringela.

Orra meu!… Qui festa!
Qui sbórnia a fatto o Nino!
Si parecia um bambino
Cum o aventá du pizzaiolo.
Pasqualino, mezzo pazzo,
Canto La traviatta
Enzima dum barri.
Qui nó piangiô, tevi qui ri
Di tanta paliaciata.

…Io, nó a fatto nada.
Fique rindo a Marinela,
Qui cantava tutta bela,
Cum os ólhios para me :

“San Genaro…San Genaro…
eis aqui o Pimpinello…
Faça a grazia por favore
De me arrumá um bom marito”

Sabe Paisá…
Io non sô perquê du fatto:
Ma, uno rato disgraciato
Entro por suo vestito,
E Marinela desmaiô.
Sua paio marcriado
Me a fatto de curpado,
E aí…o pau quebrô.

…Sabe paisá, io non te falo:
Io, o Nino e o Pasqualino,
Mai o paio di Marinela,
Si quebramo tutta a cara…
Fumo fazê a tarantela
No xilindró du seo dotore.

Qui vergonha…paisá!
Ma, non tê molta importânzia,
La festa é buona memo,
Noi, até giá cumbinemo,
Di outra nótte vortá lá.

Carlos Guido Piva

Poema extraído do livro “Orra Meu! O canto da Mooca”
Escrito por Carlos Guido Piva

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”História verídica de um torcedor – Willian Cipullo” style=”fancy”]

Naquela tarde de outono paulistano, um dia qualquer da semana do ano de 1992, com fome e cansado de procurar apartamento para morar, resolvi relaxar um pouco tomando uma cerveja e comendo um salgado no Elídio Bar, boteco tradicional daquela região da Paes de Barros, conhecido reduto de esportistas e torcedores. A cerveja ia durar o tempo que um outro freqüentador
qualquer levaria para beber uma cerveja igual a minha, decidi. Escolhi aquele senhor magro debruçado no balcão do fundo, boa pinta, bigodinho bem aparado, cerveja à sua frente, colarinho digno no copo, uma lingüiça portuguesa meio comida no pratinho branco, o guardanapo de papel, engordurado e coberto de farelos de fritura. Comia e bebia com silenciosa majestade de quem um dia foi rei. A expressão de seu rosto marcado era uma mistura de nostalgia e nobreza, própria dos grandes guerreiros do passado. Eu conhecia aquele rosto. É ele, tenho certeza. Fui em sua direção: “Eu não sei se o senhor
é quem eu estou pensando, mas se o senhor for, me deve um autografo com dedicatória, porque eu sou Juventus por sua causa”. O homem virou o rosto lentamente em minha direção, olhar intrigado, como que tentando entender alguma coisa. Silêncio absoluto no bar, quebrado pelo garçom do boteco, que gritava com a indignação de quem, como eu, queria ver uma injustiça reparada : “É ele mesmo! E ninguém hoje em dia se lembra mais dele! É ele mesmo! É o Brecha do Juventus! É o Brecha do Juventus!”. Vi a expressão do velho craque se modificar. Ele abriu os braços e me abraçou como quem
abraça um amigo que não vê há muito tempo. Aplausos. Sorrisos. Parecia uma festa.

Conversamos horas a fio sobre momentos de sua carreira. Já era noite alta quando nos despedimos, com um abraço demorado e agradecimentos mútuos. Saí andando, leve como quem acabou de lavar a alma, assoviando, justificado e feliz da vida. Já ia longe, quando uma voz me chamou, meio
esbaforida. Parei e olhei para trás. O velho Brecha, com uma corrida bastante lépida para a sua idade, aproximou-se e ainda ofegante, entregou-me um papel. “Isso é para você. Agora não te devo mais nada”, disse ele, com um sorriso maroto. Era um pedaço de papel de embrulho, tornado guardanapo depois de
cortado a faca pelo garçom do boteco. Nesse pequeno pedaço de papel, que eu guardo com carinho até hoje, estava escrito a mão : “Ao amigo William, uma lembrança de um juventino”, o garrancho autografando, perfeitamente legível : ” Moacir Bernardes Brida – Brecha”.

William Cipullo

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A Limonada – Julio Jules Domingues” style=”fancy”]

Se te derem limão, faça uma limonada.

Nos anos 50 ainda que em seus números finais a coisa andava preta pelo lado da minha família.

Papai adorava alimentar com nosso leite os cavalos do Jóquei Clube… Daí qualquer dinheiro que pintasse lá em casa ia para uma barbada, e não era de nenhum circo.

A molecada da Juvenal Parada, lá perto da rua dos Trilhos, cada dia inventava um meio de ganhar dinheiro, eu não poderia ser diferente.

Bolinha era uma revista que na época o best seller da meninada. E foi de lá que tirei a idéia da limonada.

Havia um pé de limão no fundo quintal do porão que a gente morava, o Seu Maneco sempre de olho para ninguém apanhar limão sem ordem dele.

Depois de uma semana de conversação consegui uma meia dúzia do precioso fruto para minha empreitada.

Uma jarra, herança da falecida avó Paulina Zanotti para sempre lembrada.

O açúcar, ultimo que restava peguei na esperança de depois comprar um quilo na venda lá da rua Oratório (não consigo lembra-me do nome do dono de lá)

O gelo Dona Iracema me deu, ainda que um tanto desconfiada.

O calor que fazia na certa iria colaborar para o bom andamento dos negócios.

E de uma da tarde até as quatro, em que pese a alta temperatura daquela tarde de céu de Brigadeiro, os únicos a tomar a limonada fora meu irmão m,ais novo, o Beto Boca e eu.

Até que surgiu um cara com uma pasta, perguntou o preço, e pediu uma, já um tanto quanto caliente.

E perguntou se era ali que morava o Sr. Fulano de Tal.

Orgulhoso respondi que era meu pai, ele me olhou assim meio ressabiado e pediu mais uma e outra mais.

Eu já me via como um novo Matarazzo.

Lá pelas tantas depois de acabar com minha limonada sacou de um cartão e me deu, no cartão os seguintes dizeres:

Lojas Sangia

Hermínio Piumatti

Cobrador

-Avisa o Paschoal que estive aqui.

-E as limonadas, ainda arrisquei.

– Quando eu receber o que seu pai me deve eu debito a conta. E lá fui eu com meus apetrechos de aprendiz de comerciante para o porão.

Quando meu pai chegou a noite pediu café, (era a única coisa que restara na despensa) tive que confessar a falta de açúcar, e entreguei o cartão do tal.

Na Mooca tinha um cara que fabricava uns cintos de couro natural, antes, bem antes de isso ser moda, sei apenas que tinha uma filha de nome Maria José, e um filho José Maria, pois foi com este cinto que apanhei pacas.

Julio Jules Domingues, o Tchubé

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Velha Mooca – Carlos Armando Capuzzo” style=”fancy”] No tempo de criança feliz
batendo bola nas ruas,
subindo e descendo
junto com os sinos de São Rafael.
A falta d’água não afetava
a alegria de viver cada momento.
com amigos de vários lugares.

Oswaldo Cruz foi o grupo
Firmino de Proença o colégio
colegas e professores inesquecíveis
que nunca mais encontramos.

Os bailes de sábado
as “minas” eram lindas
sempre uma nova paixão.
A pizza do Estoril consagrava os aniversários,
os “The Good Boys” sempre unidos
amizade pura e leal,
comunhão de pensamentos e sentimentos.
Os Beatles e a Jovem Guarda
ídolos de uma época,
o futebol de Pelé e da Academia
marcaram para sempre a grande década.

A juventude transformou, conquistou,
quebrou os tabus, venceu,
mostrou ao mundo que a PAZ e o AMOR são o grande negócio.
Carregamos hoje no coração uma imensa saudade,
mas o importante é não esquecermos
e praticarmos no nosso dia a dia
tudo aquilo em que acreditávamos.
Carlos Armando Cappuzzo (Kanycta) [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Carta Paulistana nº 1 – Walter Silva” style=”fancy”] Sabe, vocês não estavam
Tinham indo não sei pra onde
Santos, Guarujá, sei lá…
Então, eu olhei em volta e vi
Esta cidade.
Vazia cidade, vazia de gente, vazia de vocês.
Vi, por exemplo, à direita,
Lá no alto, Santana. Longe, linda vazia
Vi a serra da Cantareira, verde, ainda.
Vi nuvens querendo roubar a serra só para si.
Vi à esquerda, a Bela Vista.
Vocês não sabem porque ela se chama Bela Vista.
É que a vista é bela mesmo. Há o morro dos ingleses.
Lá, fincaram de propósito um pedaço da Inglaterra pros gringos usarem nos fins de dias paulistanos.
É linda. Lá há também os sobrados de ontem e as cantinas de sempre.
Os negros e os italianos, vivendo a mesma paz.
Olhei em frente e vi o alto da Lapa. O Jaraguá.
Um Pão de Açúcar sem Urca.
Um monte de torres de televisão, árvores de aço, mandando São Paulo por aí .
Vi a Anhanguera, aceitando os passos de novos bandeirantes que, porque não sabem, não procuram, fogem.
Vi ao lado, bem atrás, a zona leste.
As chaminés olhando para o alto, procurando mais lugar para subir.
Vi a Mooca cheia de ruas cheia de homens que só trabalham.
Vi as crianças que não viajam e talvez não viajaram nunca, porque precisam jogar bola para outros tri.
Olhei para baixo e vi o asfalto da avenida que no carnaval é pisado pelas sambistas e no meio do ano é acariciado pelas rodas dos automóveis.
Olhei e vi São Paulo. São Paulo, vazia de paulistas e paulistanos, que apenas se servem desta terra que continua dando.
Um dia eles irão. Irão e verão o verão de Santo Amaro, Zona Sul, com as árvores verdes, sinais vermelhos para a tristeza.
E me verão aqui, vigiando tudo isto e amando isto tudo.
Muito obrigado. Assinado, edifício do Banco do Estado.

Walter Silva (1972)

Conheça mais sobre a história desse eterno mooquense em “Famílias e Personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Coisas legais de São Paulo, parte 3: Rua Javari – Paulo Cesar Martin” style=”fancy”]

O Campeonato Paulista de futebol começa agora em janeiro. Até aí, nada de especial…
Mas o início do Paulistão significa a volta dos jogos do Juventus na Rua Javari. Para quem gosta da soma futebol + gastronomia, ir a um jogo no pequenino estádio Conde Rodolfo Crespi, não mais que 4 mil lugares, e depois da partida comer num dos restaurantes da vizinhança é um dos programas mais legais que um ser humano pode fazer!

Para os desavisados, o Juventus é um dos clubes mais tradicionais de São Paulo. Sempre teve um time profissional de futebol, mas nunca teve torcida. A não ser os mesmos 200 heróis que sempre vão aos jogos na Javari, entre eles o Serjão, o clássico presidente da “poderosa” Ju-Jovem.

O apelido do time é Moleque Travesso porque às vezes costuma surpreender os grandes Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.

Essa pequenez do time de futebol garante o romantismo das partidas no reduto italiano da Mooca. O estádio da Rua Javari foi inaugurado em 1929 numa região povoada de fábricas e conserva o mesmo aspecto daquela época.

Quem está do lado de fora, mal percebe que se trata de um campo de futebol. Dentro, em dia de jogos, o difícil é se concentrar nas partidas, geralmente de baixo nível técnico.O mais divertido é observar a reação dos fanáticos juventinos que se espalham pelas arquibancadas ou atrás dos gols. A coleção de “figurinhas carimbadas” no estádio garante boas risadas. No final do ano passado, fui com alguns amigos da época de “Notícias Populares” assistir Juventus x Nacional pela Copa Estado de SP, num sábado à tarde. O time da Mooca ganhou de virada de 2 a 1.
Como não tinha nenhum representante de qualquer setor da imprensa (o jogo não foi nem filmado), o técnico do Juventus, Roberto Brida se justificava com os torcedores diretamente na arquibancada.
Antes de ir para o vestiário, ele parou pra explicar que o time passou sufoco porque estava desfalcado de 5 titulares…
Esse é apenas um detalhe do que pode acontecer na Rua Javari… Tem que frequentar para acreditar!
PIZZA

Depois do futebol insólito é a hora da comida. Dois lugares exatamente ao lado do estádio garantem o delírio de quem está com fome.

O primeiro é a Pizzaria São Pedro, que fica Rua Javari, 333 (o estádio é no número 117). Muitos amigos consideram a melhor pizza de SP.

Difícil eleger a melhor pizza da cidade, mas a da São Pedro está no Top 5. As melhores: mussarella (fenomenal!), momana (aquela com queijo e aliche) e, para quem não está namorando, a pizza de alho. Detalhe: o alho é jogado cru sobre a pizza! O fone da São Pedro: 6291-8771.
ESFIHA

A outra delícia próxima à Javari é a Esfiha Juventus (não podia ter outro nome).

Casa estilo classe média, sempre lotada, a Juventus tem a melhor esfiha de queijo desta cidade! Só não se esqueça de pedir também a esfiha de carne e uma porção de charuto de repolho.

Aos poucos, através dos tempos, se descobre que tudo que sai daquela cozinha é foda! Mas a esfiha de queijo é inesquecível! Comece por ela. A Esfiha Juventus fica na rua Visconde de Laguna, 152, a menos de uma quadra do estádio (fone: 6096-7414).

AGENDA DA JAVARI
Na primeira fase do Paulistão 2004, o Juventus faz três partidas em seu campo. Sempre contra os times médios e pequenos. Contra os clubes grandes, os jogos são sempre em estádios maiores por problemas de segurança. Se bem que, em 1981, o Juventus armou um rolo e obrigou o São Paulo a jogar na Javari, que lotou de tricolores e juventinos disfarçados (como este corintiano aqui). Empate em 0 a 0.

Paulo César Martin, o PAULÃO, é jornalista e produtor do Garagem (www2.uol.com.br/garagem/colunas/paulao.html)

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Mooca 448 anos – Raluca” style=”fancy”]

Aquela Mooca de antanho, com suas fábricas de macarrão, seus teares do operário tecelão…

Aquela Mooca mais recente, com suas fábricas de bebidas, de açúcar e de café, de automóvel e de caminhão…

Aquela Mooca dos passeios dominicais na avenida, dos corsos nos carnavais e do fantasiado folião…

Aquela Mooca folclórica, aquela não existe mais.

Hoje, é a Mooca dos prédios, dos apartamentos funcionais.

São edifícios altos, com áreas de lazer e piscinas, com comodidades sem iguais.

A Mooca de hoje é mais moderna e atualizada, com biblioteca, teatro, clubes de recreação, universidades e hospitais.

A Mooca de hoje, contudo, continua hospitaleira, recebendo de braços abertos a todos os seres mortais.

Raluca

Vale a pena você conhecer um pouco mais deste Mooquense apaixonado pelo bairro na página “Famílias e Personalidades”

t [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Bateu Saudade! – Wilson Focássio” style=”fancy”]

Morando fora da cidade de São Paulo há mais de 8 anos, de quando em vez volta na nossa Mooca para visitar a família. Era Domingo, 23 de maio. O clima estava ameno. Caminhei, serenamente, pela Rua Canuto Saraiva, até alcançar a Largo São Rafael. Lá, vendo a igreja que me acolheu nos primeiros passos da vida e também na adolescência assiste, como fazia na mocidade, a missa das nove. O padre evidentemente não é mais o mesmo mas, vi, com alegria muitos semblantes conhecidos que minha memória registrava como pessoas que conheci na juventude.

Senhoras de cabelos grisalhos esboçam sorriso franco e sereno. Jovens, como os da minha época, embalavam músicas que soavam com harmonia e a missa foi, na verdade, uma “festa” de lembranças.

Casa cheia, vi que o mooquense, não arreda o pé da fé e da esperança de dias melhores para si e para a população.

Para quem nasce, vive e se forma na Mooca, não há no mundo nenhuma catedral mais bonita do que a Igreja de São Rafael. Porque além das paredes físicas ela contém todo um aconchego emocional que a faz mais bela e mais carinhosa.

Não pude assistir a missa com a concentração que o ato exige, pois estava mais atento às pessoas, muitas das quais conhecia, pelo menos de vista, e minha atenção ficou ai. Mas, depois que todos se foram, com a igreja vazia, fiz minha “missa” particular e lá orei pelo Brasil para que possa ter o destino de pátria do evangelho, pelo nosso Estado para que haja justiça social, pelo nosso município para que possa vivenciar momentos de mais tranqüilidade e, finalmente para a mooca e os mooquenses, para que sejam felizes como feliz foi o carinho que recebi na missa quando o padre nos incentivou a abraçar o irmão do lado. Só quem foi da Mooca e agora vive longe dela é que pode entender com que emoção ora escrevo para os queridos leitores deste conceituado jornal. Na minha cidade estou iniciando um movimento para fazer uma associação dos ex – moradores da Mooca. Vai ser uma festa…aguardem notícias.

Wilson Focássio

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”O maior mico da minha vida foi na Mooca – Silmara Pezzoni Annunciato” style=”fancy”] Belôs! Ma nem me vão acreditá o chi me acunteceu na Móca!! E mi adiscurpa perquê me tô falando ansim, perquê té ogi chi me alembro, me fico cum reiva e cuando me dá nas venta parlo na língua inqui sô nata (Ma che dúvida? Mocanhêz, Madonna mia!)

Ma té alora me dá nas venta de uma tar de Sandra, amica mia, chi si eu tivesse um pao di macaron na mano i ela aqui alora na mia frente, lê metia na cabeça senza pensare niente!

Bom… agora já me respirei um poco e tou me acarmando, ansim vou recuperando a seconda língua mia.

Em meados da década de 1980 (Ufa! Já me tô falando curto de novo), em minha adolescência não perdia uma festa. Apesar de meu pai carcamano, de sangue mezza calabres e mezza napolitano, me manter trancada em casa a sete chaves, criatividade para burlar as regras não me faltava.

Certa vez aconteceu, porém, que por algumas semanas seguidas nenhum convite eu tive, e já estava me sentindo a mais esquecida das garotas do bairro.

E, de repente, justo no mesmo maledeto dia, apareceram três programas diferentes. Um aniversário de colega de escola, outra festa na família e o convite de um paquera para ir na domingueira do Juventus. Que martírio foi isso para mim! Não sabia qual escolher.

Eis que me aparece a maledeta da Sandra, me chamando para ir num aniversário com ela, uma festa com o tema dos anos 60, lá no salão do Vasco da Gama na Rua da Mooca.

Era o quarto convite para a mesma noite. Que desgraça! Mas mal eu sabia ainda que desgraça maior estaria por vir.

Tentei rejeitar o convite da Sandra, porém ela quase chorou implorando para eu ir com ela. Afinal, seu pai, como todo bom carcamano nascido e criado na Mooca, era muito severo e qualquer “pêlo em ovo” representava uma ameaça à virgindade da filha; e se eu não fosse, ela não conseguiria arrumar uma desculpa para poder ir à festa.

Muito isperta quela disgraziata (!) começou a falar dos rapazes lindos que iriam naquele maledeto aniversário com brilhantina nos cabelos, e ainda me fazendo sonhar com os trajes típicos que nós duas estaríamos vestindo, iguais aos da Olívia Newton John no filme “Grease – Nos tempos da Brilhantina”. Esse filme era a coqueluche da época, e, na ilusão de uma garota de 14 anos, em poucos minutos já imaginava que naquela festa eu encontraria o “John Travolta” da minha vida.

Ansim, Sandra me levou para “os embalos do domingo à noite”.

Passamos aquela semana inteira nos telefonando quinhentas vezes por dia para tratarmos de detalhes de nosso traje dos anos 60, e combinarmos as manobras que faríamos para que nossos pais não desconfiassem que estávamos indo a uma festa, pois, com certeza, se soubessem não permitiriam.

Reviramos os guarda-roupas de nossas mães e tias. Foi nossa semana de glória.

Para nós duas, tudo se passava como se fosse a festa do século!

Chegou o grande dia. Nosso plano começou a entrar em ação.

Conforme minuciosamente tramado, ela disse aos pais que viria na minha casa fazer um trabalho de escola que deveria ser entregue na segunda-feira. Meus pais foram numa festa de família e eu, como uma filha muito estudiosa e aplicada, não poderia ir com eles pois, infelizmente, eu tinha que ir na casa da Sandra fazer o trabalho escolar. Meus pais mal saíram, a Sandra entrou, tirei o telefone do gancho para não receber chamadas dos pais dela. E começamos a nos produzir em alto estilo para a festa.

Nossa euforia subiu na estratosfera! Deu tudo certinho!

Saia rodada, meia soquete e sapato baixo, laço de fita na cabeça, maquiagem copiada de revistas de época, simplesmente tudo, nos mínimos detalhes, perfeito para sermos as garotas-sensação da festa.

Pegamos o ônibus José Higino, na porta da minha casa e descemos uma quadra antes do salão Vasco da Gama na Rua da Mooca.

Quando estávamos na esquina do salão… eu me recordei de algumas maluquices que ela vez por outra aprontava e tive que lhe fazer a pergunta fatal:

– Sandra, você foi convidada para a festa? Por quem?

E exibindo a expressão de uma santa que acabara de sair do convento ela me respondeu:

– Não.
– Quem é a aniversariante

E ela meneando a cabeça, disse com os lábios semi-fechados: – Não sei. Um conhecido meu comentou comigo.

Ma nessa ora(!) me quiria ischiafar quela filha dium cane! Só num garrei ela pelos cabelos perquê me tive tanto trabalho pra arrumá quela cabeleira toda! Ma me segurê ela pelos braço e dice:

– Má só alora me conta questo absurdo! Perquê num me dice antes?
– Ma non me fica ansim! Ocê nem me perguntou, qui curpa io tenho?

Roxa de raiva eu falei: – O qui vamu fazê numa óra dessa? Ói só pra mim, vestida deste jeito, nem me posso ir pra outra festa agora! Bom… já qui num tem mais jeito, vamu enfrente e lá ocê me explica direitinho essa istória.

Fiz então ela me prometer que entraríamos na festa o mais discretamente possível e ficaríamos num canto meio escuro sem fazer alarde para ninguém desconfiar que éramos penetra. Nosso sonho de sermos as garotas sensação da festa em segundos foi por água abaixo.

Mal demos dois passos adiante, vimos vários rapazes na porta do salão, aglomerados de forma a obstruírem parcialmente a entrada. E agora!? O que fazer?

Combinamos então que entraríamos de cabeça erguida e pé firme, pois certamente eles iriam mexer conosco, mas não daríamos bola, faríamos de conta que os rapazes da porta não existiam. Assim não despertaríamos ciúmes nas meninas da festa e a aniversariante não se daria conta de nós duas. E assim fizemos.

Ao passarmos pela porta do salão, dito e feito, os rapazes mexeram conosco, e quanto mais fingíamos que eles não estavam lá, mais e mais coisas provocantes nos diziam. Eu já tinha ficado roxa, amarela, vermelha, verde, um arco-íris inteiro, mas não perdi o rebolado, e segui adiante com pose da garota mais pernóstica e difícil que poderia existir.

Ao entrarmos, para nossa maior decepção, o salão ainda estava vazio e a terrível constatação foi imediata: além de penetras, éramos as primeiras a chegar.

Um daqueles rapazes, com ar inconformado, me seguiu sem desistir. Eu fazia de conta que ele não estava lá e apertava o passo, e ele também; ia pra direita e ele também; mudava a direção e ele também. Até que no meio do salão ele me cutucou nas costas e me segurou pelo braço.

Nesse momento não tive outra alternativa a não ser parar, virar e olhar para ele; aproveitei a deixa para, com muito desdém, indagar o porquê que ele tanto insistia em me importunar. Ele me respondeu:

– Só quero saber quem você é.
E eu falei bem grosseiramente, objetivando que ele desistisse de vez da paquera: – Não é da tua conta.

Sem se intimidar, o pretenso “John Travolta”, ainda me segurando por um braço para eu não fugir, me estendeu a outra mão para me cumprimentar:

– Prazer! Sou o aniversariante.

Se na porta do salão eu já tinha ficado um arco-íris inteiro, a essa altura eu não tinha mais cor para exibir na face; eu só desejava ser um avestruz e matar a Sandra. Porém, completamente sem graça tive que levar a cabo aquela E os amigos deles atrás de nós, fazendo gozação aplaudiram fazendo coro: “Aeeee!!! Conseguiu!”.
O aniversariante não deixou passar em branco os meus desaforos, com muita classe pergunto
– Só por curiosidade… quem te convidou ?
– Foi minha ami… – Olhei para o lado, para atrás, virei 360 graus duas vezes e a disgraziata da Sandra tinha desaparecido completamente e eu gelada da cabeça aos pés levei quase 5 minutos para completar a palavra – …ga.

Pedi desculpas e lhe disse que eu iria localizar minha amiga e iria embora. Para minha maior surpresa, ele foi muito gentil e me deixou a vontade para eu permanecer na festa.

Quase uma hora após é chi quela maledeta da Sandra me sai do esconderijo, como se nada tivesse acontecido e ainda nem fazia idéia quem estava fazendo aniversário.

Orra meu!!! Ma me fala si non é pra lê metê o pao de macaron nas venta??!!!! Ela só me iscapô perquê nosso plano final deu certo:

Apesar dos trancos e barrancos, fomos a sensação da festa!

P.S. Belô! Per favore, si ocê for quelo aniversariante, me convida pra próxima festa, perquê acuela foi belíssima e inesquicibile!

Silmara Pezzoni Annunciato (*)
(*) Advogada, jornalista e poetisa desde os 12 anos. Nasceu na Mooca em 03/10/1967, onde cresceu e viveu três décadas, vindo depois a transferir residência para Florianópolis/SC em 1999. É fundadora da Sociedade dos Poetas Advogados de Santa Catarina (www.poetasadvogados.com.br).
Pertence à quarta geração de mooquenses. Seus bisavós, após saírem das colônias italianas nas fazendas de café em Ribeirão Preto/SP, fixaram-se na Mooca. Francisco Anunziatto, bisavô de linhagem paterna, morou na R. Visconde de Parnaíba, tinha carro de tração animal e comercializava frutas importadas nas regiões mais abastadas da cidade.
O avô paterno, Miguel Anunziatto (que também assinava Annunciato), filho caçula, foi o único dos 4 irmãos nascido no Brasil; criado nas colônias, só falava e escrevia em italiano até os 12 anos, era leitor do jornal “Fanfulla”, editado em língua italiana, e repassava as notícias da Europa para vizinhos e parentes; tinha o ofício de sapateiro, que na época se tratava de profissão muito valorizada; ele fazia sapatos por encomenda, vindo depois a abrir uma loja de sapatos artesanais de confecção própria em sua casa situada na Rua Natal, em 1966; essa rua logo se tornou uma referência comercial no ramo de sapatos na cidade. Com o advento das indústrias de calçados, os artesãos perderam seu espaço no mercado e os sapateiros ficaram restritos a consertos.
Seu avô materno, Silvio Garcia Pezzoni, dentista, tratou dos mooquenses na última quadra da Rua da Mooca, nas décadas de 1940 e1950.

“A história de meus antepassados, de minha infância e minha vida ficou nos passos dados no paço Mooca”. [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Tudo fica íntimo na Rua Javari – Ignácio de Loyola Brandão” style=”fancy”]

Ignácio de Loyola Brandão é um dos mais importantes escritores brasileiros não só da atualidade, mas de todos os tempos. Costumeiramente, era visto assistindo jogos do Juventus, sentado atrás de um dos gols do Estádio da Rua Javari. Em uma dessas ocasiões, ele nos contou que passara a nutrir simpatia pelo clube da Mooca principalmente pelo fato de que o seu uniforme era semelhante ao da Ferroviária de Araraquara, sua terra natal. Além disso, os fatos que lá ocorrem e os personagens que freqüentam a Rua Javari eram sempre uma fonte inspiração para suas crônicas, geralmente baseadas no dia a dia das cidades e das pessoas. Em abril de 1994, ou seja, justamente há dez anos atrás, Loyola escreveu uma crônica para o jornal “O Estado de São Paulo” que transcrevemos abaixo numa homenagem a esse grande escritor e ao Juventus que está completando 80 anos de existência.
“Faz vinte anos que venho à Rua Javari e nunca vi um centroavante marcar quatro gols num jogo só” A frase do torcedor juventino, no sotaque peculiar da Mooca, refletia a surpresa dos que, no sábado, foram ver juventus 5 x 1 São Caetano. Disputando a divisão A-II, o time está em terceiro lugar e luta para voltar ao grupo especial, para jogar contra os grandes. Há anos o “moleque travesso” mantém regularidade de colocação no campeonato. Nem cai, nem fica entre os primeiros. Ë famoso por roubar pontos dos grandes, engrossando jogos que parecem fáceis. É o time do Ferreirinha, uma das mais célebres eminências pardas da Federação de Futebol, uma raposa, conhecedor dos meandros em que devem se mover dirigentes para conseguir seus objetivos.

Ver jogo na Javari é seguir um cerimonial fechado. Não que o acesso seja proibido. A dificuldade, às vezes, está na bilheteria, como aconteceu no sábado. Um monte de gente com notas de CR$ 5 mil na mão, à espera de que chegasse o troco, ou torcedor com dinheiro trocado. Na verdade é quase uma reunião de família. Como se fosse um grupo de amigos reunidos para a macarronada dominical. Tudo é íntimo na Javari. O campo, dos menores de São Paulo, dá a sensação de pertencer a uma chácara. O gramado, atualmente, anda impecável, mas já foi bem ruim. As linhas laterais ficam a um metro do alambrado. Se um jogador vai bater o lateral, o torcedor pode agarra-lo pela camisa, com facilidade. O goleiro fica a dois metros daquela turma que se coloca atrás do alambrado.

Sou um deles. Fico atrás do gol do time da casa, porque no outro lado se posta a torcida, fiel, diminuta, feroz e barulhenta, a atazanar o goleiro. È preciso sangue frio para suportar. Há goleiros que se irritam e então a torcida pega no pé. Um dos poucos que vi levar na esportiva foi Valdir Peres, anos atrás. Ele morria de rir com o que lhe diziam. E pegava tudo, não deixava passar nada, gozava a turma depois de cada defesa difícil.

Em nenhum outro campo se tem tal visão de jogo. Sente-se. Entra na pele. Há os gritos dos jogadores, as pancadas, empurrões, o ruído seco do chute, a violência do impacto da bola na rede ou nos painéis da lata do alambrado. Tem também os cheiros dos linimentos usados nas massagens de aquecimento ou da grama pisada, violentada pelas travas das chuteiras. Na Rua Javari, futebol é em terceira dimensão. Mais que isso, é como se participássemos do jogo.

Quando se consegue descobrir em que dia o Juventus joga, é uma festa.

A imprensa abandonou a divisão A-II. Dão os resultados depois dos jogos. Mas é complicado saber quem joga e em que dia. Os juventinos têm a disposição toda à tabela, afixada num painel, embaixo das tribunas. Os outros só telefonando para o estádio.

Há anos vou a Javari. Há anos vejo os mesmos rostos. Nos conhecemos, nos cumprimentamos.

Há tipos pitorescos. Como aquele velho de chapéu bege que se posta atrás do gol, sabe o nome de todos os jogadores em campo e grita instruções o tempo inteiro, até ficar rouco. Seria um técnico frustrado? Se o bandeirinha marca alguma coisa contra o time de fora e alguém protesta, logo surgem defensores do bandeirinha. Não há brigas. Em 30 anos de Javari nunca presenciei brigas. Discute-se, xinga-se, mas socos nunca vi. Os maiores críticos do time da casa são seus próprios moradores, Se o Juventus vai mal, eles protestam, xingam técnico, diretoria, jogadores. E vão tomar cerveja no intervalo. Tem gente que nem presta atenção ao jogo, passa o tempo conversando. A tarde do sábado é para isso, encontrar amigos e conversar. Nas quartas feiras há gente de terno e gravata, pastas de executivos nas mãos. É uma alteração da rotina, dá-se uma escapada.

Na Javari não jogo à noite. E no inverno, como a luz do sol desaparece mais cedo, o jogo começa às 15 horas. Porque não há refletores. Não há alto-falantes, o que confere uma atmosfera peculiar: ouve-se o som ambiente. Há até pássaros que, no final da tarde, se aninham nas árvores do pátio de uma escola vizinha. Esta é uma São Paulo que se conserva, um futebol que não existe mais.

Ignácio de Loyola Brandão

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Juventus – 80 anos – Raluca” style=”fancy”]

Jubilosos pela afinidade
Unidos sob o mesmo teto
Vivenciamos a felicidade
Entre o avô, o filho e o neto.
Nunca se pôde imaginar
Tanto sucesso sem igual
Uma festa a comemorar
Sobre uma comunidade moral

Onde houver um mooquense
Indômito e orgulhoso,
Tenha a cabeça eloqüente
Ele será vitorioso.
Nos esportes e na recreação
Todos com o mesmo destino
Amigo, até chegar a irmão,

Assim é o juventino.
Nada fecha as portas da amizade
Orgulho de uma grande comunidade
Símbolo maior da felicidade.

Raluca

Vale a pena você conhecer um pouco mais deste Mooquense apaixonado pelo bairro na página “Famílias e Personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Juventus – Guido Piva” style=”fancy”] Lembra da Móca e
s’isquecê do Juventus é come
lembra da Intália e s’isquecê du Papa.
Juventus é o maió clube qui ezisti
im quantidadi di sócios…
E… come sócio, só é qui qué,
senza duvida:
ele é o clube mai querido do Brasil!

Salvi, salvi, o Juventus
Qui nunca fô campion.
O segondo time di tutta Móca,
O primo de mio corazon.
Nó m’importa sua idadi,
Ô, si fô campion, ô nó
Eli é da mia Móca,
Tiene a bandera cor di vino,
Para me, é um bambino,
Quanto mai travesso…melhió!

Juventus e la Móca nó si sipara,
Nó tê come si dividí.
Ela o guarda…e eli mora,
Lá na rua Javari.
Per tutto, salvi o Juventus!
É pra eli qui vô recitá,
Uno versino, qui na Móca,
Desdi bambino sê cantá :

“Qui belo time!
Qui belo esquadron!
Juventus amico,
Du mio coraçon.
Juventus…Juventus…
Gosto di vucê!
Si um dia, io me separa de ti,
Sô capaiz dínloquecê! “

Guido Piva

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Estádio ou rua? Isso é a Javari – Denis Eduardo Serio” style=”fancy”]

Se o futebol não é o mesmo, a tradição do Juventus – se tratada como um fator estritamente temporal – é o que mais aproxima o clube dos grandes times da capital paulista. Mas, a peculiaridade apresentada pelo Moleque Travesso na relação com os seus torcedores difere da mostrada pelas equipes de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Portuguesa.

Apesar de estes times terem suas imagens associadas a diversos bairros da capital, nenhum tem vínculo específico com uma só região como o Juventus tem com a Mooca. Isso faz de cada partida juventina um ponto-de-encontro de pessoas que perseguem objetivos e atrações diferentes.

Obviamente que a paixão ou pelo menos uma afinidade com o Juventus existe em cada torcedor que vai à Rua Javari, como é o caso das 564 pessoas que assistiram ao jogo contra a Ponte Preta nesta quarta-feira. Porém, a diferença na intensidade e na maneira de torcer é vasta.

Os berros que partem da arquibancada coberta do estádio Conde Rodolfo Crespi diferem em muitos aspectos. João Villa Leal, de 74 anos, é sócio do clube há mais de 40 e trabalha como comerciante. Ele prefere um estilo mais recatado e calmo, se relacionado aos seus companheiros de torcida.

“Venho aqui desde criança e sempre que posso vou aos jogos do Juventus”, disse. Quem pensa que ele aprova integralmente a maneira de assistir aos jogos está enganado. A diferença é que os incômodos sentidos por ele são imperceptíveis se comparados à vontade de ver o Moleque Travesso. “O campo é pequeno e o ambiente aqui é meio tumultuado, mas tá bom de qualquer forma”.

“Sou da Mooca e a maioria do pessoal que vem ao estádio acaba se encontrando depois na rua. O ponto ruim é que o time está fraco e o clube perdeu muitos associados”, resmunga.

Torcida de um homem só – A Ju-Metal é uma torcida incomum. Fernando Toro, de 24 anos, é o único integrante. O jovem, formado em publicidade, mas que está desempregado, chegou antes do jogo contra a Macaca e já foi esticando as suas faixas.

À mostra no braço direito uma tatuagem com o símbolo do Juventus. “A torcida só tem eu. Já chegamos a possuir mais caras, mas eles abandonaram (sic). A falta de dinheiro também atrapalhou, pois R$ 20 para comprar um ingresso, no Brasil, é algo inacreditável. Mas o problema é a vontade. Os outros integrantes não tiveram vontade de continuar”, disparou, em tom de profundo ressentimento.

Toro se posiciona atrás do gol adversário, junto a um monte de garotos que fazem um baita barulho com instrumentos de samba. Com as palavras de torcedor, Fernando deixa escapar também um discurso político. “É legal esse som, porque a gente gosta de barulho e canta junto. Pena que, no Brasil, as pessoas não conhecem muito o poder da voz”.
Durante o jogo, o torcedor não consegue esconder o nervosismo, principalmente quando o Juventus está mal. E acaba misturando os assuntos. “Como que temos confiança em um time ruim desses. Uma porcaria também é a Federação Paulista de Futebol, que já escolheu o Oeste para ser rebaixado”, frisou.

Quando o Juventus perdia a partida por 2 a 0, Toro cruzou com a reportagem da Gazeta Esportiva Net e, alterado, gritou: “Põe aí na matéria que só tem picareta nesse time”.

Festa da Macaca com um juventino – Não há alambrados para dividir torcidas adversárias no estádio do Juventus. Com isso, a torcida da Ponte Preta ficou em contato com alguns torcedores juventinos durante o jogo.

Mena, 75, diretor da Ju-Jovem, uma das maiores torcidas do time, assistiu a partida no meio dos ponte-pretanos, que fizeram a festa com o veterano torcedor. “Sou um torcedor-símbolo do Juventus”, diz, sem nenhuma modéstia. “Temos essa torcida há 18 anos e venho sempre neste estádio. Não há mal nenhum aqui em ficar com os torcedores da Ponte”.

Luciano Ferrari, um dos fãs da Macaca, mostra como é um jogo na rua Javari para um visitante. “O estádio é pequeno, mas dá para ver o jogo tranqüilamente. Eu já vim aqui em 1999. O problema, atualmente, é o preço”, lembra.

Os R$ 20 impostos pela Federação para se entrar em um estádio, aliás, foram uma reclamação constante. “Gasta-se hoje aproximadamente R$ 50 reais entre viagem e ingresso para vir de Campinas para cá. O certo era essa soma dar uns R$ 30, no máximo. Só vim porque a torcida da Ponte arranjou ingresso para mim”, disse. Luciano é produtor de banners e outdoors, mas atualmente está desempregado.

Canole – Uma tradição no estádio Conde Rodolfo Crespi é o comércio de Canole, um doce que já virou obrigatório para os torcedores do Juventus. Antônio Pereira Garcia, de 54 anos, vende há pelo menos 30 a guloseima e, atualmente, sustenta três de seus cinco filhos dessa maneira.

“Comecei a fazer canoles com dez anos. Aprendi com os antigos italianos da Mooca e me aperfeiçoei. Graças a Deus hoje eu consigo agradar as pessoas que vêm aos jogos”, disse, com muita dificuldade, em virtude das vendas incessantes.

No meio da conversa com a reportagem da Gazeta Esportiva Net, Roberto Pavão, de 46 anos, compra alguns doces. “Eu venho aqui para comer, não para ver jogo”, brinca. “Não sou um fanático torcedor do Juventus, mas sim meio juventino, meio palmeirense”.

Antônio reassume a palavra e conta como as vendas estão. “O movimento não abaixa nunca, porque aqui sempre vem o mesmo pessoal, com o Moleque (Travesso) bem ou mal. Os antigos preferem um jogo do Juventus a um clássico”, completa, com o seu cesto de isopor se esvaziando a cada minuto que passa, tamanha a popularidade dos seus doces.

Seu Antônio é a cara de um lugar que tirou de uma rua o status de via e deu à Javari a referência de ser um estádio de futebol

Matéria de Denis Eduardo Serio, publicada na GE.net

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Acróstico ao Guido – Beth Candio” style=”fancy”]

Guerreiro menino, da Mooca e do mundo,
Unindo nos versos palavras de irmão;
Irmão que recebe e acolhe no peito
Demais companheiros de igual coração;
Outrora um menino,és agora canção…

Carinho de frases na justa conquista,
Autor de poemas repletos de amor;
Risonha presença na tela e na vida,
Louvando o teu nome, fiel trovador,
Os anjos lá longe te indicam guarida,
Sabendo que és mestre, estando onde for…

Poeta dos grandes, audaz cavalheiro,
Infante de versos bonitos demais…
Valeu cada linha, meu bom companheiro:
Artistas são anjos, não morrem jamais!

Esta é uma homenagem da poeta Beth Candio ao nosso “Poeta da Mooca” já falecido.

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”E quem nunca passou por isso na Mooca! – Luciana Romanato Torello” style=”fancy”]

A posso dizer quantas vezes ou e vi minha mãe, tias e avós falando ….aqui ou se entra para esta família ou sai de vez!!!!
Era assim que funcionava o processo de seleção de um candidato a entrar na família, não só para as mulheres, mas para os homens também.

Foi muito engraçado durante anos acompanhar o vai e vem de pessoas novas entrando e saindo rapidamente da família, eu que era a caçula aprendi rápido, se eu achasse que a família não ia aprovar nem levava para eles conhecerem, se levava e eles não aprovavam ahhh ai sim o papo já era logo casamento, todos em volta, lógico umas 40 pessoas perguntando _ quando você pretende casar, o que você vai fazer, pegavam no pe de tal forma que não sobrava muita opção a não ser correr.. Uhhh e casar era uma obrigação, estou casada ha um ano, tenho 28 agora e lembro-me da minha avo dizer todo dia – rezo para você casar logo!!!!! Agora ela me diz assim – Nunca me de uma ma noticia, noticias só boas , ….

O resto da família foi do mesmo jeito e hoje me divirto ao ver as mães extremamente protetoras, que continuam preparando a comida do filho querido e levando para nora, ou babando atrás dos netos… leoas como só elas essas nonnas são um exemplo de sabedoria e amor, hoje sei o valor de uma família, o valor de um amor, hoje sei como é bom termos famílias grandes, falarmos com as mãos e disputarmos pra ver quem fala mais alto, comer de tudo só pra não ter que deixar no prato.

Hoje sei do valor de nascer na Mooca e dela guardar o que a de melhor a tradição de que as pessoas são boas e que as coisas entre nos ainda são resolvidas na palavra, pois confiança e dignidade é coisa que aprendemos no berço!!!

Obrigada as nossas mamas!!! verdadeiras mulheres !!!!
Luciana Romanato Torello

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Vi a Mooca passar pela janela do meu carro… – Adriano Vieland” style=”fancy”]

Até então, minha relação com a Mooca resumia-se a sua estação ferroviária, a qual era parada obrigatória quando ia de Santo André para o Brás, religiosamente, todas as tardes de segunda a sexta no segundo semestre de 2002, a caminho da Bela Vista, rumo aos últimos meses do bacharelado em Turismo. Hoje posso dizer que sei um pouco mais sobre a terra do Juventos… mais precisamente, posso dizer: Como é agradável a Mooca!

Final de Junho (ou começo de Julho) do ano de 2003, apesar de ter sido outro dia, ainda pipoca na minha cabeça tal questionamento: Que dia foi mesmo??? Bom, era um domingo… o sábado havia sido dia de “balada” – Aniversário da Marjory e despedida da Ana (parte 1).

Meu pai, que estava em São Paulo, tinha viagem marcada para Curitiba, levei-o até o metrô, e de lá tinha rumo certo… a Mooca… para a feijoada de despedida (parte 2) da Ana… Na verdade não fui para a feijoada… tinha almoçado com meus velhos… fui para a despedida…

Ana ia pra Londres, ficar uns anos por lá… estudar, trabalhar… ela é uma amiga de faculdade (os amigos de lá merecem textos enormes, sou muito grato a eles…), gente finíssima e com quem ainda mantenho contato quando ela resolve se aventurar em algum um cybercafé lá pelas bandas da terra da Rainha…

Deixei meu pai no metrô, e rumei para a 23 de Maio… na altura da Liberdade, virei a direita, sentido Radial-Leste… cruzei aquele emaranhado de viadutos e cheguei a grande via… bom, agora buscava a Rua dos Trilhos… Rua dos Trilhos… estava de olho nas placas… bom, ali está… Rua dos Trilhos – novamente à direita…

O celular tocou… era o Alexandre (um dos amigos da faculdade)… ele já estava por lá… queria saber onde o pamonha aqui estava… expliquei “No começo da Rua dos Trilhos”.

“Cara, deixa te passar pra Ana”
“Dri, é fácil… pega a Rua dos Trilhos até o fim, vire a direita e pegue a Rua da Mooca até o fim… pronto… o prédio que você ver, é o meu!”

Fácil… do jeito que ela orientou eu obedeci… roboticamente diga-se de passagem. Segui pela Rua dos Trilhos… mas confesso… não sei se por desantenção não vi trilho algum… vi algumas casinhas antigas, e bem conservadas… vi muitos senhores e senhoras de cabelos brancos e sorriso no rosto… senti naquela tarde de sol na paulicéia, um pouquinho de alegria!

Beleza, acabou a rua, vamos para a Rua da Mooca… cruzei uma praça, ali acredito que esteja a igreja matriz do bairro – chego a incrível conclusão devido sua imponência estética, ok, prometo pesquisar mais sobre o assunto… farol, farol, farol… descidinha, prédio…

Estacionei o carro, abraços no povo, vi umas fotos incríveis que o Alexandre havia tirado, ouvimos um som, a Ana distribuiu uns cd’s que ela só quer ver de volta daqui uns cinco anos – levei 8 novas peças pra casa – tomei uns refrigerantes, comi uns salgadinhos, parti para uma grande disputa de tênis de mesa… ah, brinquei com o sobrinho da Janderli (outra amiga da faculdade)… “ping-pongueiro” em potencial!

Anoiteceu… esfriou… hora de ir embora buscar a Marjory no Aeroporto de Congonhas… me despedi da Ana desejanto toda sorte do mundo nessa nova empreitada… e dali pro Centro era só pegar a Rua da Mooca até o final… farol, farol, farol… povo alegre, povo feliz nas calçadas noturnas… pizzarias, botecos… Ali atrás deve ser a Rua Javari – o Pelé marcou o gol mais bonito da vida dele, segundo ele mesmo, ali – significa algo pra quem gosta de futebol…

Bairro agradável… muito prazer…

Vi a Mooca passar pela janela do meu carro…

Adriano Vieland

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Que saudades do Natal dos velhos tempos da Mooca – Raluca” style=”fancy”]

Quando se respirava tranqüilidade, e só se aspirava o encontro com parentes e amigos mais chegados para compartilhar a felicidade.

Que saudades da segurança da comunidade, quando se podia andar a noite e apreciar as luzes das casas acesas sem o perigo de agressão à nossa integridade.

Quantas lembranças dos dias e horas de ansiedade, aguardando o momentos mágico de desejar prosperidade.

Quantas recordações daqueles rostos serenos de amabilidade a nos sorrir externando uma verdadeira amizade.

Que saudades do Natal dos velhos tempos da Mooca que magicamente ainda tão fundo nos toca.

Que este Natal, que a noite de paz a todos convoca, seja o desejo maior de felicidade de todos os habitantes da Mooca

Raluca

Vale a pena você conhecer um pouco mais deste Mooquense apaixonado pelo bairro na página “Famílias e Personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Jantando com o primo Bastos” style=”fancy”]

Nessa época eu tinha lá meus 6 ou 7 anos de idade. Minha mamma tinha uma prima, a Sandra, que considerava como irmã. Foram criadas na mesma casa, numa vila da Rua Visconde de Parnaíba, no Brás. Tenho saudades dos almoços de domingo na casa da nonna Hilda. Macarronada com um denso e maravilhoso molho al sugo, frango assado muito crocante e um delicioso sorvete de coco feito em forminhas de gelo, com um palito de dentes espetado em cada cubo! Aquilo era para mim um banquete! Lembro-me muito bem de meu avô, um alfaiate de respeito que atendia a famosos e políticos, mas que, por isso mesmo, após o almoço, saía para sua alfaiataria em pleno domingo para acabar os trajes de seus afortunados clientes.

Pois bem, a prima Sandra era uma garota de mais ou menos 19 anos, sempre vestida na “crista da onda”, com suas calças tipo cigarrete, blusinha de banlon, sapatilhas e um penteado que transformava seus cabelos em algo parecido com um enorme pão doce. Mas era moda, fazer o que? Hoje, eu mesmo tenho que ver meus filhos ostentando enormes argolas em suas orelhas…

Voltando à prima Sandra, nunca me esquecerei que meu primeiro e último passeio de lambreta foi com ela e seu namoradinho. Eu, um garotinho magriço, fui adaptado entre o rapaz, que obviamente pilotava o bólido, e minha prima, sentada na garupa. Foi uma grande emoção. O rapaz era um piloto tresloucado, que dirigia como um “imbecille”, sem respeitar sinais de trânsito, semáforos, calçadas, pedestres nem coisa alguma. Saí do experimento com os cabelos arrepiados e as calças molhadas. Mas enfim, essa experiência deve ter contribuído pra a ojeriza que hoje eu trago aos veículos motorizados, com 2 rodas.

Passou-se algum tempo, creio que uns 4 anos, ouvi minha mãe comentar com meu pai:

-Antonio, minha prima Sandra está namorando firme, já faz uns bons meses, com seu chefe.

E meu pai:

-Namorando com o chefe dela? Hummm já entendi.

-Antonio, a coisa é séria. Eles estão até falando em casamento!

-Só espero que eles já não tenham feito uma encomenda dessas que mama, chora muito e molha as fraldas.

-“Tônio”, você só pensa nisso! Parece que o rapaz é super simpático. Tenho certeza que vocês vão se dar muito bem.

-Tá certo, então vamos marcar um jantar e você prepara como entrada aqueles maravilhosos mariscos que só você sabe fazer.

Cabe aqui dizer que, realmente, minha mamma sempre cozinhou muito bem. E essa mariscada que ela fazia (graças a Deus faz até hoje) era um verdadeiro manjar. Todos que a experimentavam acabavam por empanzinar-se até não mais poder. Era algo de lambuzar-se, mas com muita dignidade!

O tal jantar foi marcado pra sexta-feira e meu pai, que tinha alguns clientes no litoral, encarregou-se de descer para a Baixada Santista na quinta-feira e trazer algo como uns 5 kg de mariscos graúdos.

Sexta-feira, quando voltei do colégio (aliás do Grupo Escolar Oswaldo Cruz, na Rua da Mooca), ao entrar em casa já senti o maravilhoso aroma da tal mariscada. Um belo perfume de mar, misturado a tomates, cebola, alho, sal, limão e azeite extra virgem! Só aquele cheirinho já me enchia a boca d’água. Bem lá pelas 6 da tarde, a mamma botou a mim e a mio fratello, o Dopinho, debaixo do chuveiro. Ela queria que estivéssemos prontos, banhados e penteados antes que o casal chegasse.

Agora cabe falar um pouquinho de meu irmão, o Dopo! Nunca imaginei que aquele garoto encapetado acabaria se tornando o profissional renomado que é hoje. Quem conhece essa figura dócil, calma e tranqüila de hoje, não consegue imaginar o pequeno terrorista que ele foi na infância! O guri estava sempre ligado no 220 V. Todo santo dia minha mãe enfrentava um rol de reclamações da vizinhança relacionadas sempre às proezas do Dopinho. Janelas e telhas quebradas, gatos escaldados em água fervente, vizinhas idosas sendo xingadas pelos mais imaginativos adjetivos, enfim, era uma verdadeira ladainha.

E lá estávamos os dois, de banho tomado, com Brill Cream nos cabelos, ouvindo uma verdadeiro sermão da mamma a respeito de como deveríamos nos comportar frente ao novo namorado da Sandra. Dopinho ouvia a tudo com uma cara da santo que não dá pra descrever.

20:00 hs em ponto, toca a campainha de nossa casa (morávamos na Rua São Rafael) e adentram nossa sala Sandra e seu pretendente, que por coincidência, assim como mio babbo, também se chamava Antonio, Antonio Bastos. Meu pai e o Bastos, logo de cara, deram-se muito bem. Aliás, havia até uma certa semelhança física entre eles. Após as apresentações de praxe, minha mamma encaminhou tutti quanti para a mesa da cozinha, onde nos aguardavam os maravilhosos mariscos. Aos adultos foi servido um bello Chanti, e pros “miúdos”, eu e meu irmão, vinho com água e açúcar. Como em todo encontro desse tipo, falou-se um pouquinho de futebol, as mulheres comentaram sobre a roupa da Hebe no último domingo, e o papo não engrenava. De repente, invade o ar um cheiro horroroso! Putrefato, eu diria. Todos na mesa perceberam, mas ninguém falou nada. Cada um olhava para o outro com um rabo de olho, e todos se puseram a disfarçar degustando os mariscos enquanto o odor se dissipava. Dopinho estava ali, com a maior cara de santo, entretido em arrancar seus mariscos das casquinhas.

Eis que, novamente, o ar é tomado por aquele cheiro horrível. Dessa vez a coisa estava pior. Eu chegava a sentir até um certo ardume em minhas narinas. Os adultos emudeceram e um silêncio sepulcral tomou conta daquela cozinha. Nisso, o Bastos, pra tentar “quebrar o gelo”, pega uma casquinha de marisco, com um molusco dentro, mostra pra mim e pergunta:

– Luizinho, o que é que isso parece?

Pego de surpresa, balbuciei:

– Uma pedrinha.

Ainda com a intenção de aliviar a tensão, Bastos vira-se pra prima Sandra e diz:

– Benzinho, me diz o que parece??

E ela:

-Ah, amore, não sei…. parece um casulo de bicho da seda!

E Bastos resolveu continuar sua enquete junto à pessoa menos adequada para tal:

– E você Dopinho, me diz com o que esse bichinho se parece?

Meu irmãozinho ajoelhou-se na cadeira, apoiou as mãozinhas sobre a mesa e começou a olhar atentamente o marisco. Arrancou o bichinho da casca e examinou todos os ângulos possíveis. A essa altura, meus pais já estavam posicionados estrategicamente atrás de mio fratello, preocupados com a resposta do garoto. De repente, com a maior inocência que uma criança pode ter, Dopinho esboçou um:

– Parece c…

Minha mãe tapou de imediato a boca do guri com sua mão. Dopinho começou a chorar e Bastos interpôs-se entre os dois:

– Não faça isso, Dona Magda, deixe o garoto se expressar.

Meio a contra-gosto, minha mãe liberou a boca do Dopo e disse:

-Tá bem, filhinho, fala pro tio o que você acha…mas não diga nome feio, certo?

-Tá bom mamma. Esse bicho se parece com o buraquinho que eu uso pra fazer aqueles puns fedidos que vocês sentiram!

E retirou-se da mesa.

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Soneto Moqueense – Julio Jules Domingues” style=”fancy”] Aprendi ama-la desde cedo,
dentre os amores de minha vida
(disso nunca fiz nenhum segredo)
Foi a grande paixão a preferida!
Seu nome, um dos primeiros
Proferido em alto som no berço.
Enquanto trocavam meus cueiros,
noções hoje rezadas como um terço.

Moleque jogava minhas peladas,
nas ruas inda de terra esburacadas.
(na boca da vizinha uma fofoca)
Na panela de ferro sempre feijão,
Cozinhando com vagar no carvão.
Amo-te eternamente minha Mooca

Julio Jules Domingues.[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Acróstico para Mooca – Raluca” style=”fancy”]

As escolas de Primeiro e Segundo Graus, as Faculdades e Universidades.

Mais de sessenta mil estudantes para nosso orgulho e felicidade.

Indústria de grande, médio e pequeno porte, e comércio pujante e diversificado.

Grande interesse dos seus mais de setenta mil habitantes, pelo progresso de um bairro modernizado.

Associações como a Comercial, Conseg, Rotary, Lions, lutam diuturnamente pelo bem comum.

Mantém os ilustres Cidadãos Mooquenses, intactos e sem distinção, os direitos de todos e de cada um.

Os sentidos voltados para a cultura, com seu Teatro, Bibliotecas e vários e competentes jornais.

Olhos sempre atentos, nas vinte e quatro horas do dia, para a saúde, em suas Clínicas, Laboratórios e Hospitais.

Como todos os povos que têm um honrado passado, e sabendo como ninguém cultuar a sua história.

A Mooca guarda lembranças dos amigos na memória e como uma só família, comemora com orgulho e glória.

Raluca

Vale a pena você conhecer um pouco mais deste Mooquense apaixonado pelo bairro na página “Famílias e Personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Barroca – Richard Mascara” style=”fancy”]

Eu sempre gostei de futebol. Desde os tempos de garoto.Nós morávamos na Rua Rui Martins, na Mooca. Aos sábados à tarde, ficava junto ao portão de minha casa, um tempão, apenas para ver os jogadores do Democrático F.C. passarem; uniformizados, como soldados que se dirigem a uma batalha. As chuteiras com as travas de ferro batendo contra o cimento da calçada se assemelhavam a acordes de um hino marcial. O campo de batalha era ali perto. Na Barroca. Embora, para mim, fosse inacessível. Meu pai não me levava. Talvez não gostasse de futebol ou não tinha paciência, jamais saberei. Mas às vezes ia com meu padrinho. E esse dia era uma festa! Quantos gladiadores, guerreiros que vinham das hostes do Juventude da Mooca, do Flor, do Madrid, do Danúbio Azul. Não os vi ali naquela praça de guerra de chão batido e vermelho a se engalfinharem na disputa da bola. E o verbo é esse mesmo: “engalfinhar-se”. Futebol de várzea é assim mesmo. Coisa séria. Luta-se apenas pela camisa que se defende e pelos louros da vitória. Pela honra: a sublime e inocente satisfação de vencer e mesmo que, às vezes, o seja a qualquer custo… Em verdade meu pai, creio, não me levava à Barroca por causa do receio das brigas que ocorriam em profusão. Afinal, era um campo de batalha.

Meu tio, irmão de minha mãe, era um desses valentes guerreiros. Zagueiro central do glorioso Paulista da Mooca. Ótimo jogador. Conseguia conjugar bem a virilidade, característica vital ao beque que impõe respeito, com uma técnica apurada. Chegou a treinar no Juventus. Mas os tempos eram outros. Dinheiro curto. Não se podia faltar ao trabalho para ir treinar. “Futebol é coisa de vagabundo”, dizia-se na época. Se isso era ou é verdade, não importa. O que vale é que ele trocou uma carreira de zagueiro promissor por um emprego de metalúrgico lá na Willis em São Bernardo e eu adorava ir aos jogos.

Uma vez fomos assistir, eu e meu padrinho, a uma partida do Juventus, na Rua Javari. Jogo de campeonato. Dia especialíssimo. Porque, além do jogo, fui ver o meu ídolo, Luizinho, que estreava no time grená. O espanhol “ esquentado” brigou com a diretoria do Corinthians e foi jogar no Juventus. Meu padrinho Felipe contou-me que o “pequeno polegar”, como ele era chamado, veio do Maria Zélia , um time de várzea do Belém, para o Corinthians, estreando no alvinegro no dia 28 de agosto de l949 em um jogo contra o São Paulo. Perdemos, mas ele fez o seu primeiro gol com a camisa corinthiana. Depois, ganhou a Pequena Taça do Mundo em 53; foi campeão dos Centenários em 54. Foi para a Mooca e lá ficou uns dois anos. Infelizmente, no dia de sua estréia, não fez gol e o moleque travesso perdeu para o Botafogo de Ribeirão Preto por 2X0. O seu lugar era mesmo no Corinthians. Mas ele só voltaria em 64 e lá ficaria até encerrar a sua carreira em 67. No fim de sua vida, a diretoria “de plantão” do clube presenteou-o com um busto de bronze no Parque São Jorge. Eu estava lá. O pequeno Luizinho chorava como uma criança. Não consegui aproximar-me dele. Mas no dia seguinte, fui ao clube e tirei uma foto, que guardo com carinho, abraçado à estátua do velho Luiz Trujilo.

Fiquei arrasado quando ele morreu em 98. Luizinho foi o meu primeiro ídolo no futebol. Posso te-lo visto passeando pela Rua Rui Martins, as “chancas” rangendo na calçada ou mesmo jogando lá na Barroca. Houve outros ídolos, mas poucos. Como deve ser. Os amores verdadeiros; sinceros são raros, quase únicos.

Richard Mascara

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A Festa de San Gennaro – Mino Carta” style=”fancy”]

Os pais de Esvigio Concilio vinham de San Cipriano, aldeia próxima da Salerno, cidade campana situada a 80 quilômetros de Nápoles e enobrecida por catedral antiga que guarda no ventre uma jóia de escultura, púlpito soberbo, Entre a igreja de San Gennaro e a sé de Salerno há uma certa diferença, mas padre Esvigio jamais visitou a terra dos seus pais e, por isso, o seu limite artístico tem de ser o mastodonte gótico que se ergueu na nossa praça da Sé, sem desapreço pelas igrejas que os capomastri, levantaram em vários pontos da Itália paulistana. E os capomastri eram mestres de obras, ou nada mais que pedreiros, e conectavam a fantasia e a memória das igrejas das suas aldeias à ponta de um guarda-chuva, com o qual riscavam o chão, traçando ao vivo e na medida exata e total a planta da construção que se preparavam a erigir. O resto estava nas suas cabeças, e dava-se que já intuíssem, antes mesmo que se fincasse no espaço dos ventos, um templo ou um sobrado, mais ou menos como Michelangelo pressentia figuras dentro dos blocos de mármore de Carrara.

Assim se fizeram muitas igrejas, entre elas a Nossa Senhora Achiropita da Bela Vista, a Nossa Senhora de Casaluce no Brás , San Vito Martire e San Gennaro. Algumas mais ricas, ornamentadas com Festões moldados em gesso, outras nem tanto, ou francamente pobres, como San Gennaro, que foi pouco mais que um barracão por muito tempo. As paredes não tinham revestimento e o telhado lacrimejava a sua precariedade em todo canto, e não bastou, para compensar o acanhamento de tudo o mais, o esplendor de um altar, destinado a uma das capelas, e em fim mor, à vista da sua grandiosidade, doado pela condessa Marina Crespi. Pascoal Cataldi, hoje aos 63 anos, lembra-se do dia em que o altar chegou, importado da Itália, desmontado e acondicionado em caixotes enormes. Pascoal era menino, e recorda momentos de notável alvoroço e até de espanto, ao redor dos caixotes que se abriam para revelar a magnificência dos mármores. Em 1974, no entanto, pouco se avançara para tornar a igreja digna daquele altar, e padre Esvigio remoia uma insuportável melancolia. E então apareceram, para lhe dar luzes, os irmãos Iervolino, Alfonso Junior e Ângelo, e Gilberto Evangelista, homens práticos, católicos fervorosos e mooquenses ferrenhos. E se chegaram as três figuras corpulentas e piedosas, e Alfonso, que era o líder, disse com seu sotaque cantado em que vibram as reminiscências das inflexões do dialeto napolitano: “Padre Esvigio, o senhor vai disculpá, mas rifa dá pé, precisamo inventa outra coisa, grande, bonita, ótima mesmo”. E foi ai que surgiu a idéia da festa, “se non mi sbaglio parecida com aquela que se realiza em Nápoles no dia de San Gennaro”, e essa expressão, se non mi sbaglio, quer dizer se não me engano, e muitos mooquenses a usam, bem como outra, “se Dio vuole”, se Deus quiser, que está sempre na boca de Ângelo. E Deus quis, esta será sempre a versão dos irmãos Iervolino, e de Gilberto Evangelista, que desde então se revesaram na coordenação do evento, enquanto Pascoal Cataldi permanece no posto de tesoureiro, miudinho e aprumado, engolido pela sombra dos seus troncudos amigos.

Para Ângelo, não há dúvidas de que o pai da “idéia feliz” foi mesmo Alfonso, que por isso recebeu da Câmara Municipal a medalha Anchieta, ao passo que a festa era premiada com três estrelas no Calendário da Embratur, como grande atração paulistana no mês de setembro. Atração certamente: por volta de cem mil pessoas em 1981 sentaram-se às mesas armadas ao ar livre na rua San Gennaro, e gastaram, segundo anota Cataldi, 3,2 milhões em comida e 976 mil cruzeiros em rifas. Na venda de espaço para estandes de firmas que fizeram ali sua propaganda, e em outros patrocínios, arrecadaram-se mais 11 milhões. Gastaram-se na organização da festa pouco mais que 6 milhões, e façam as contas para chegar a um lucro de mais ou menos 9, enquanto sete anos antes não fora além de 73 mil cruzeiros. Com isso, as paredes da igreja foram revestidas, o telhado substituído, a instalação elétrica renovada, um bom dinheiro investido em obras assistenciais, e padre Esvigio pode pensar agora em outras reformas.

Autor : Mino Carta, do livro “Histórias da Mooca”

Saiba mais sobre este grande escritor na página de “Famílias e Personalidades

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Comida, suó e vino – Guido Piva” style=”fancy”]

O qui si mangia na festa di San Genaro é coza di outro mondo!

Fala da festa di San Genaro,

é como fala da própria Intália.

Lá si mangia di tutto um pó:

É torrada cum sardela, pizza, mariamole e azetona,

Calabresa cum porpeta e biringela.

Qui imbrulhiada! Qui bruta comedêra!

Si mangia o ispaguéti,

Cum o môlhio dela Neide,

Os canóli da Odete,

Os dolcinho dela Dirce,

Misturato cum alixe,

Tremoço e sfoliatela.

Qui Festa! Qui bruta misturêra!

Qui nó viu…priciza vê.

O povo, tutto im festa,

Cum o vino nela testa,

Vá dançando a tarantela

Até a matina acuntecê.

Orra meu! Io nem ti conto!

Qui nó cunhéce, preciza cunhecê!
Carlos Guido Piva

Poema extraído do livro “Orra Meu! O canto da Mooca”
Escrito por Carlos Guido Piva

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Estão morrendo os velhos italianos – Rubens Ricupero” style=”fancy”]

Há alguns dias atrás o Jornal “Folha de São Paulo” publicou um maravilhoso artigo assinado pelo ilustre Embaixador Rubens Ricupero, intitulado “Estão morrendo os velhos italianos”. Esse artigo aborda basicamente pessoas e fatos ocorridos no nosso vizinho bairro do Brás. Embora faça apenas uma citação ao Bairro da Mooca, uma grande parte dos fatos e das situações relatadas retratam também com grande fidelidade os hábitos, os costumes, as pessoas e os lugares de nosso Bairro, razão pela qual, mesmo levando em conta que, por definição editorial, a página “Crônicas, poesias e etc” é reservada para assuntos que abordem exclusivamente a Mooca, resolvemos, em caráter excepcional, inserir este magnífico artigo, inclusive como forma de uma singela homenagem ao seu autor que enaltece e prestigia a nossa região, a região em que nasceu.

Para tanto, mantivemos contato com o Embaixador Ricupero, que atualmente é secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) com sede na Suiça, pedindo sua autorização para a reprodução do artigo, tendo o mesmo amavelmente respondido conforme abaixo :

“Peço-lhe desculpas por só agora poder agradecer sua bela mensagem. Fiquei muito sensibilizado de ver como partilhamos da mesma reação à nossa comum herança. Gostei de saber do trabalho que estão desenvolvendo na Mooca, bairro que conheço bem desde menino. Minha mãe nasceu na rua da Alegria e suas irmãs viveram muito tempo na rua Paraná, depois na Visconde de Parnaíba. Acostumei-me, desde cedo, a andar pelas ruas da Mooca e sinto alegria de ver como está vivo o espírito do bairro.
Abraço forte do amigo,
Rubens Ricupero”

Eis o artigo :

Estão morrendo os velhos italianos

RUBENS RICUPERO

“Por toda a América”, diz um poema de Lawrence Ferlinghetti, “os velhos italianos vêm morrendo, ano após ano.” Com seus chapéus de feltro desbotados, as antiquadas botinas pretas, piemonteses, genoveses, sicilianos esperam sua vez, sentados nos bancos dos jardins, tomando um pouco de sol, e vão morrendo, um a um… Os meus velhos, da primeira geração nascida no Brasil, desapareceram há muito tempo. Meu tio Natale Pelosi, por exemplo, dono de açougue na rua E do Mercado Municipal. Apesar do ofício sanguinolento, tio Natale era a mais mansa das criaturas; como nos Salmos, a alegria do Senhor era sua força. Em paz com a vida e com o “sette e mezzo”, que jogava à noite, sorvendo goles de sambuca e café, só perdia a calma quando o Palestra Itália, já desvirtuado em banal Palmeiras, dava vexames. Na época -Deus seja louvado pela misericórdia de tê-lo poupado das humilhações atuais- isso apenas sucedia de raro em raro e de forma moderada.

Perto do Mercado, do outro lado do Tamanduateí, ficava a rua Santa Rosa, feudo dos atacadistas de cereais. Eram quase todos “bareses”, na realidade originários de Polignano a Mare, na Província de Bari. Gente do mar e da pesca na terra natal, converteram-se no Brasil em cerealistas ou dedicaram-se à distribuição e venda de jornais, ramo dominado também no Rio de Janeiro por meridionais, mas da Calábria. Os bareses de Polignano inauguraram uma das mais antigas quermesses e festas de igreja de São Paulo, a de São Vito Mártir, complementada por outra celebração de dois santos de sua localidade, Cosme e Damião, também mártires. Menino ainda, nos anos 40, comecei a ir à festa com meu pai, cuja família era também da Apúlia e da Província de Bari, mas de cidade diversa, Barletta, o que faz toda diferença em país conhecido pelo particularismo.

É curioso, paradoxal até, que os italianos do sul, censurados na Itália por falta de espírito associativo ou comunitário, tenham sido os únicos imigrantes peninsulares a conservar um mínimo de identidade, da personalidade cultural originária, não se dissolvendo de todo na geléia geral de São Paulo. Sem exceção, as comunidades de igreja que conheci no Brás de minha infância subsistem até hoje e são de meridionais, defendidos pela vizinhança do bairro. As quermesses, as festas, as vendas de pratos típicos, os jogos com brindes foram organizados, a princípio, a fim de levantar fundos para edificar e sustentar a igreja e acabaram ficando. Os de Polignano com a igreja de São Vito, os calabreses do Bexiga com Nossa Senhora da Achiropita, os napolitanos de Caserta ou Pozzuoli com a capela da Virgem de Casaluce, da rua Caetano Pinto, os igualmente napolitanos da rua da Mooca, igreja de San Gennaro. Mesmo no Rio, a igreja de São Francisco de Paula, que visitei em companhia do presidente Scalfaro, é ligada à comunidade calabresa.

Deixei São Paulo e o Brás há 45 anos e tudo praticamente desapareceu do meu tempo de menino. Menos as comunidades e festas de igreja. Vão morrendo os velhos, tal como na São Francisco de Ferlinghetti, os italianos de mãos nodosas e sobrancelhas cabeludas, esfarinhando o pão duro com os dedos para dar de comer aos pombos, os que gostavam de Mussolini, os que amavam Garibaldi, os velhos anarquistas leitores de “L’Umanità Nuova” e fiéis a Sacco e Vanzetti, cheirando a alho, pimentão, a grapa, quase todos já partiram. Ficaram poucos e, antes que esses se apaguem, é preciso recolher-lhes a memória.

É o que tenciona fazer Angela Di Sessa e seus companheiros, que se esforçam por meio dos depoimentos da história oral, da pesquisa de fotos amarelecidas e velhos jornais, a dar visibilidade, nas comemorações dos 450 anos de São Paulo, à “memória pulverizada” dos pugliesi e seus descendentes. Angela é fotógrafa de olho capaz de surpreender o encontro inesperado de cor e forma, de revelar a beleza do cotidiano pobre. Em 1994, fez uma exposição memorável, mostrando, lado a lado, como as imagens visuais da velha Polignano renasciam no coração de São Paulo. Oriunda da comunidade, ela conta com o apoio da Associação São Vito Mártir e da Associação Pugliesa de São Paulo para o projeto Santu Paulu. O nome vem do dialeto greco-salentino. A Apúlia saiu da pré-história quando os espartanos fundaram Taranto no 8º século antes de Cristo. Foi um dos principais esteios da Magna Grécia, quando Roma não passava de covil de salteadores. Ainda se fala grego em Gallipoli e em sete lugares de nomes sonoros -Castrignano dei Greci, Calimera, Melpignano-, onde se servem favas secas com queijo fresco de ovelha e se come a pasta de farinha rústica, a “incannulata”.

Taranto é uma das cinco Províncias da Apúlia, a região que, a partir do sul, se estende por todo o calcanhar da bota itálica para o norte, passando por Brindisi, Lecce, a terra de Aldo Moro, Bari e Foggia. Campo de guerra milenar, foi nos arredores de Barletta, em Canna della Battaglia, que Aníbal esmagou as legiões romanas. Da Apúlia partiu a Primeira Cruzada, com o agigantado guerreiro normando Boemundo, Príncipe de Antioquia. Gregos, cartagineses e romanos, árabes, longobardos e bizantinos, normandos e suábios se sucederam nas terras férteis do Tavoliere della Puglia. Minha “nonna” Mariangela era a prova viva da herança normanda: porte de escandinava, os cabelos louros e finos, os olhos do azul lavado do extremo norte.

Passada a repressão fascistóide do Estado Novo, quando se proibiu falar italiano e se apagaram os nomes da pátria de origem, não faria mal a São Paulo uma pitada multicultural que ponha em evidência, no 450º aniversário da cidade, a riqueza e diversidade de origens e contribuições, de toda parte do Brasil e do mundo, das mulheres e homens que a construíram. Entre esses, os pugliesi figuram nas estatísticas como um dos contingentes menos numerosos dos italianos chegados ao Brasil, pouco mais de 30 mil, longe do meio milhão de vênetos. Deixaram, não obstante, sua marca inconfundível, guardaram um resto de identidade no meio do anonimato da metrópole. Num dia como hoje, 15 de junho, festa de São Vito Mártir, continuam a “re-cordar”, isto é, a reviver no coração a imagem dos velhos ancestrais que nos deixaram, lutando contra a morte com a recusa do esquecimento.

A memória é nossa única arma para inverter o sentido do processo natural e dar vida a nossos pais e avós, aos que ainda recordavam o perfume dos frutos natais e falavam os estranhos dialetos que desaprendemos. É o último e comovido tributo que podemos render aos nossos velhos italianos, agarrando-nos a essas queridas sombras pela lembrança, impedindo pela memória que o esquecimento os condene a morrer de novo.

Nota: quem se interessar pelo projeto poderá entrar em contacto com a coordenadora pelo e-mail: angeladisessa@uol.com.br.

Rubens Ricupero, 66, é secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. Foi ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A turma da Mooca na Festa de casamento – Luiz Antonio Caopreso” style=”fancy”]

Como já tive a oportunidade de comentar, a Mooca adotou gente de todas as partes do mundo como seus cidadãos. Uma comunidade bastante representativa entre nossos habitantes é a lituana.
Se você for convidado a comparecer em uma festa organizada pelos lituanos, não titubeie. Com certeza, nunca mais se esquecerá. Muita música, danças típicas, muita bebida e gente bonita. Quem vê aquelas pessoas se divertindo, cantando, dançando e bebendo, não consegue imaginar o quanto esse povo sofreu em sua terra natal, oprimido por outras nações e por governos tiranos.
Bem, um certo primo meu, o Gennaro (Rino entre os íntimos) era muito amigo de uma turma de lituanos que participava de um grupo de danças folclóricas. Eu nunca vi um povo beber tanto! Entornavam vodka como eu bebo cerveja, e bebiam cerveja como a gente bebe água. Mas havia uma bebida, parece que originária da Lituânia chamada “krupnikas” (não sei se é assim que se escreve, mas com certeza, o som é esse). Parecia ser um destilado cítrico, adocicado e forte, muito forte. Quando experimentei, fiquei meio tonto com apenas um cálice desses de licor!
Mas voltemos ao primo Rino. Ele estava namorando havia uns 2 meses com uma espanholinha linda, a Isabel, que conhecera na Faculdade São Judas Tadeu. A garota era uma graça. Morena, bonitinha, gostosinha e super discreta! Tudo o que um rapaz de 18 anos deseja!
Um belo dia, Rino recebe um convite de casamento. Uma de suas amigas lituanas, a Sonia Patrouskas, resolveu casar-se de uma hora pra outra. E com um carioca surfista bem moreno; como se diz hoje, um negão! A grande maioria dos lituanos é constituida de gente com a pele bem clara e cabelos loiros. Soninha e o carioca, que se não me engano chamava-se Ricardo, contrastavam feito marfim e ébano (só pra parodiar o Paul).
É evidente que o Gennarino iria ao casamento, e aproveitaria a ocasião para apresentar sua linda Isabel para os amigos lituanos. Combinou com a namorada que, após a festa, esticariam a noite em um motel. Ele mal podia esperar pelo dia em que iria conhecer, no sentido bíblico, aquela gostosura de garota.
No dia do casamento, meu primo foi buscar a namorada. Ela estava deslumbrante, dentro de um lindo e sensual vestido. Quando trocaram um beijinho, ela cochichou no ouvido dele:
-Hoje a noite vai ser maravilhosa! Praparei uma surpresa pra você!
-Surpresa? Me conte!!!
-Estou sem calcinha!!!
Imaginem vocês o estado em que ele ficou! Não conseguia pensar em outra coisa:
-É hoje…é hoje!!!
Pois bem, foi um lindo casamento na igreja de São Pedro na Vila Zelina e, na seqüência, o mais esperado: A Festa.
Os lituanos mantinham um salão de festas (que existe até hoje) na Rua Lithuânia, uma travessa da rua do Oratório, na Mooca. Quando havia qualquer comemoração ali, a Antártica (cervejaria que tinha suas instalações em nosso querido bairro) providenciava um tipo de chopp muito especial, com sabor um pouco mais forte ao que estamos acostumados, de uma linda cor dourada, espuma muito firme e (essa era a parte que realmente interessava aos lituanos) com o teor alcoólico bem maior.
Ao chegar à porta do salão de festas, Rino e sua namorada foram recepcionados pelo amigo Baltazar com duas canecas daquele maravilhoso chopp. Isabel, que não gostava de cerveja, adorou a bebida e tomou em um só gole! Os dois estavam adentrando o salão quando Irena, outra amiga, oferece uma vodka da Lituânia ao casal. Meu primo já conhecia aquele forte destilado e recusou; no entanto Isabel, embalada pelo chopp, resolveu “encarar”. Na realidade, Rino só pensava nos momentos de prazer que iria passar com sua linda namoradinha espanhola.
Em pouco tempo, formou-se uma roda de amigos junto ao Rino. Enquanto todos riam, bebiam e contavam piadas, meu primo percebeu que Isabel havia desaparecido. Pelo salão, circulavam várias bandejas com aquela bebida que citei no início: a famigerada “krupnikas”. E não é que Isabel apaixonou-se pelo destilado!!! Deve ter tomado umas cinco ou seis doses!
Enquanto meu primo procurava desesperado por sua namorada, a “lituanada” começou a dançar ao som de músicas folclóricas lituanas, russas e até polcas. E foi justamente na hora da polca que um dos amigos, o Balta, cutucou Gennarino e falou:
-Rino, aquela ali no palco não é sua namorada?
Ele olhou para o palco e lá estava Isabel, descalça, ladeada por umas 10 loiras tentando dançar a tal da polca.
Todas as garotas, exceto Isabel, pertenciam ao grupo de danças folclóricas e estavam mais do que habituadas àqueles passos. A espanholinha, no entanto, estava completamente perdida, além de bastante embriagada. Resolveu adaptar uns passos que mais pareciam os de uma bailarina do Moulin Rouge dançando “cancan”! E não é que a mocinha incorporou a dançarina de “cancan” e ameaçou levantar o vestido para dar aqueles tradicionais “chutes” no ar!!! Rino ficou pasmo, pálido e partiu ao encontro dela gritando:
-Não Isabel! Catso, esqueceu que você está sem calcinha!
Tarde demais! Na empolgação aditivada pelas vodkas e krupnikas, Isabel expôs à comunidade lituana inteira aquilo que nem meu primo havia visto ainda!
Como um bom italiano, Rino subiu rapidamente no palco e arrancou sua namorada de lá. A espanholinha embriagada dizia:
-Massh amorzhszhinho…eu eshshtou me djivertchindo tanto!
-Vamos embora daqui que você ainda tem que fazer um “showzinho” particular só pra mim!
Dito isso, Gennarino despediu-se dos amigos com um aceno de mão e literalmente carregou Isabel para o carro. Colocou a jovenzinha ao seu lado e partiu para um motel, conforme haviam combinado!
Enquanto o carro serpenteava pelas ruas da Mooca, ele percebeu que Isabel estava ficando muito pálida. Não, ela estava ficando é verde!!! Rino virou-se pra ela e disse:
-Amore, você está se sentindo bem:
Ela acenou a cabeça negativamente e disse apenas:
-Hum…hum!
-Quer que eu encoste o carro?
E ela acenando com a cabeça, agora concordando:
-Hum…hum!!!
Rino encostou seu carro no meio fio e falou:
-Principesa, você quer vomitar?
A resposta foi um novo aceno concordando.
Como não havia nenhum banheiro acessível nas proximidades, meu primo achou que seria melhor resolver aquela situação ali mesmo. Desceu do carro, dirigiu-se para o lado de Isabel e, gentilmente, abriu a porta para que ela pudesse chegar às vias de fato. Isso feito, a garota vira-se para fora do carro, começa a se abaixar e…cai de cara no chão abrindo uma belo rasgo no queixo! Rino não sabia o que fazer. Ela estava bêbada e desmaiada! Decidiu, sabiamente, esquecer o Motel, colocou Isabel dentro do carro e voou para a casa dos pais de sua amada. Quando explicou o ocorrido para a futura sogra, Dona Assuncion, esta entrou no carro e disse:
-Vamos para a clínica do Dr. Gimenez.
Dr. Gimenez era médico da família há pelo menos 15 anos e tinha uma clínica muito bem equipada no alto da Mooca, razoavelmente próxima da casa de Isabel.
Ao chegar, Rino providenciou uma pequena maca, onde acomodou Isabelita, e todos entraram juntos numa das salas de primeiros socorros onde uma enfermeira, dessas que tem cara de enfermeira de filme de terror, aguardava com uma seringa na mão. Meu primo não acreditava naquela situação. Parecia que ele estava protagonizando a última versão de Sexta-feira 13. E o pior é que ele sabia que iria ficar na mão! A maravilhosa noite de amor tinha se diluído em algumas doses de Krupnikas!
Além do corte no queixo, Isabel apresentava algumas escoriações nos joelhos e braços. A enfermeira olhou para a garota e deu seu diagnóstico:
-Isso é pura bebedeira! Vamos aplicar glicose na veia e verificar se ela machucou-se em algum outro lugar. Após a aplicação intra-venosa, partiu pra examinar o que restava da garota. Tentou inutilmente desamarrar um lindo cinto dourado que dava acabamento ao vestido de Isabel. Não teve dúvidas em sacar de uma tesoura cirúrgica e cortar o belo adereço. Sem pedir licença a ninguém, fez menção de levantar o vestido da espanholinha para examiná-la. Novamente Rino empalideceu: ” a calcinha…ou melhor, a falta dela”!!!
Meu primo tentou sair daquela sala, mas não houve tempo. A bruxa de branco (era assim que ele estava vendo aquela enfermeira) foi mais ágil e, num gesto súbito levantou o vestido de Isabel. A mãe da garota, ao ver “aquilo” sem a devida veste, fuzilou Rino com os olhos e disse:
-Usted “estrupô” minha niña!!! Perro desgraçado, cabrón!
-No, io voglio bene Isabel. Ma ela ficou bêbada antes que eu conseguisse levá-la pro Motel!
A emenda ficou pior que o soneto. Dona Assuncion pegou o sapato de Isabel e sentou na cabeça de Genarinno, abrindo um rasgo em sua testa!
Foi uma recuperação solitária. Depois daquele dia, o casal só conseguia se falar por telefone. Isabel ficou proibida de voltar a ver o pobre Rino que, além de não ter conseguido levar sua namorada pro Motel, acabou ficando com fama de estuprador!
Mas isso não durou muito tempo. Voltaram a namorar após algumas semanas e hoje estão noivos, de casamento marcado. E para que tudo termine bem, Isabel fez Rino prometer que na festa ninguém vai servir krupnikas, nem tocar polca.

Luiz Antonio Caropreso

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Tempo di Bambino – Guido Piva” style=”fancy”] Alora… vamo giunto lembra dus tempi di bambino.
Auuuu!… dexa io fala outra coza: nó adianta tenta
quere, naqueli tempino, non si dá mai pra vortá!

Come me lembro!
Da Móca e di mia rua,
do tempo di manamula,
tempo di capuxeta,
tempo di mãe di rua…

Come me lembro!
do tempo do pique-pique,
do tempo di iscondi-iscondi…
da bola… da bicicréta,
do bafo na figurinha…

Come me lembro!
Do tempo di roda pione,
do tempo di giugá bulinha.
Tempo de istilingue,
tempo de marelinha.

Acho qui nessuno isquéci,
do tempo qui si fô bambino,
di zuá… come chicréti,
virá Zorro, sê mocino.
Tempo do patinete,
do carrinho di rolemã,
tempo qui, sem quere,
si batia im uma irmã.

Qui pena: os bambini di oggi,
nó brinca… non gióga mai.
Fica só nas máquina di faze loco:
no vídeo-queime, ô computado…
Crianza nó é mai crianza,
elas alora viro robô.
###
GUIDO PIVA
MAI CUNHECIDO COME
PIMPINELLO RIZONI

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Um grande amor na juventude : Rosa Serrano Galera – Walter Silva” style=”fancy”]

Não. Não se trata de ninguém importante.Apenas meu primeiro amor. Ela tinha entre 20 e 21 anos, eu, entre 16 e 17. Sua família imigrou da Espanha para o Brasil, fugindo da Guerra Civil e daquele assassino, facínora e genocida , Generalíssimo Francisco Franco, por la grácia de Diós, como gostava de ser chamado. Responsável pela morte de milhares de libertários, inclusive Federico Garcia Lorca, poeta maior.

Fixaram-se no meu bairro, Mooca, como tantos outros espanhóis que para aqui vieram morando numa casa enorme, mas, habitação coletiva, na rua Madre de Deus, Alto da Moóca, um pouco acima do Cine Aliança. Ele, o pai, era um grande músico. Um grande violonista de guitarra flamenca. Quando o conheci, já beirava os oitenta anos. Era alto, magro, cabelos brancos sempre revoltos e de um grande bom humor. Quando tocava, parecia que dormia sobre o instrumento, que ficava encostado com seu bojo junto ao seu peito, que era para ouvir melhor com os ouvidos e com o coração, parecia. Dedos finos e alongados, que se repetiram em sua filha mais nova, Rosa. Tinha um filho, que se chamava Pedro e outra filha mais velha, que agora me foge o nome. Tinha sido muito famoso em sua terra, onde era apelidado de “El Niño Socato”. Em Sevilha e região, é comum chamar-se os ídolos de Niño. Vide “Niño de Utrera” e outros. Quantas noites fiquei ouvindo aquele grande artista, segurando na mão de sua filha.

Naquele tempo, dançava-se muito. Não se tinha carro, não havia motéis, os hotéis não permitiam a entrada de casais, portanto a única maneira de se ter uma mulher nos braços e vice-versa, era dançando. Pois foi num baile que conheci Rosa. Era um baile de formatura que fui não sei convidado por quem e ela dançava só com um cara que parecia muito com o hoje conhecido ator Marcos Palmeira, só que com um cabelo que parecia abotoado atrás, cheio de “Gumex”, que se usava para fixar bem o cabelo, deixando no alto,um topetinho despenteado e atrás aquele cabelo cruzado. Não fui muito com a cara dele, mas, a dela foi na hora uma mistura química que nos atacou aos dois. Amor à primeira vista, se dizia.

Não sei quem dos amigos que estavam comigo, disse a ela onde costumávamos dançar aos domingos à tarde. Era sábado à noite, esqueci-me de dizer. Todos os domingos à tarde, dançávamos no GGPTB, um clube de futebol amador, do qual eu era diretor social, que fazia de tudo, inclusive varrer e encerar o salão, passar parafina, cuidar das carteirinhas dos sócios arrumar músicos para os bailes de fim de semana etc. O clube ficava na rua da Mooca, altura do número 2.300, quase em frente à rua dos Donatários. A matinê, como era chamada, ia das três da tarde, às sete da noite. O salão ficava no primeiro andar. Havia muitas escadas para se chegar a ele. Ficava na horizontal, onde havia muitas janelas, dois banheiros (um para eles e outro para elas) um pequeno escritório numa das pontas que era utilizado como secretaria. Naquele domingo à tarde choveu muito. De repente, salão quase vazio por causa da chuva, ouço passos subindo apressadamente as escadas. Vou olhar pela mureta e quem vejo? Ela, num vestido azul claro, rosto e cabelos molhados, vestido colado ao corpo que lhe acentuava ainda mais suas lindas formas, que ao me ver deu aquele lindo sorriso como quem tivesse achado um tesouro. Fui logo ao seu encontro e , quase sem falar nada, abracei-a e no seu ouvido disse :

– agora,não vou querer mais perder você de vista.

– …eu também, disse ela.

Dançamos a tarde toda. Rosto colado, cantávamos, um no ouvido do outro, todos os sucessos de Gregório Barrios, o ídolo de nosso tempo : …Final, de um sueño que fué triste realidad/quando despertamos/”Somos” dos seres que em uno que amando quedamos/Um algo se interpone/ para poder amarnos/no se no lo comprendo/pero es la realidad/me quieres y te quiero/me adoras y te adoro/pero apesar de todo/me deves de olvidar/,,, E por aí ia, nosso idílio, ao ritmo dos boleros do Gregório.Dançamos tanto tempo juntos, que já parecíamos um só . “Samba –quadradinho”, ”Miudinho”, “Gafieira “ e tudo mais. Ainda não haviam inventado o rock, mas, se já tivessem, não seria problema .

Não ficávamos nem um dia sem nos ver. À noite, dia de semana, íamos para o nosso lugarzinho de costume: sentar-nos na mureta da Maternidade da Mooca, que ficava num lugar bem escurinho de avenida Paes de Barros, próximo à casa dela. Lá, todas as noites experimentávamos os prazeres do sexo, livre e descontraídos , mas irresponsavelmente descontraídos. Até que um dia, e que dia, ela me disse que estava grávida.Vamos dar um jeito, disse-lhe eu. Minha avó, vai querer que a gente se case, seus pais também. E como vamos viver se com dezessete anos não tenho nem como me sustentar, imagine uma família. A solução partiu dela. Um fã do pai dela era médico e poderia dar um jeito. E deu. Dias depois, num hospital em que ele trabalhava e que ficava na Av. Angélica, eis-nos lá. Ela e eu, para cometer a bobagem maior, um aborto. Foi rápido,já no fim da tarde tudo estava resolvido. Ele chamou-me de lado e pegando no meu braço, levou-me até um pequeno laboratório do próprio hospital. E disse mostrando-me um grande frasco com éter, ou coisa parecida. Eis seu filho. Olhei meio que enojado,e disse : isso é meu filho? Parece um sapinho. Tinha pouco mais de um palmo e segundo ele, seria homem e agora estava ali num vidro de formol, éter, sei lá. Peguei Rosa pelo braço e fomos de volta para a Mooca.

Continuamos nos vendo, cada vez mais. Agora até na hora do almoço, ela passava lá em casa e conversava com minha avó Marianna. Rosa me havia dito que um tal de Joãozinho, empregado da farmácia do bairro, vivia dando em cima dela. Como eu estava precisando tomar umas injeções de “Biocalcino”, que ninguém é de ferro, fui até a farmácia e aproveitei para tirar satisfações com aquele projeto de gente.Era um baixinho que aplicava injeções à domicilio e atendia no balcão, sempre com um sorriso de plástico, muito próprio das pessoas simpáticas”.

Não sabia quanta maldade morava naquele animalzinho tão pequeno. Vítima de uma leve infecção, tive que me servir daquela farmácia.Tinha que tomar, segundo o médico, três injeções, pela ordem: a mais fraca, a intermediária e por fim a mais forte . Sabem o que fez o tal de Joãozinho que vivia dando em cima da minha Rosa ? Inverteu a ordem e foi logo me dando de cara a mais forte. Tive muita febre. Mais de 40 gráus. Até delirei. Minha avó chamou o médico, que me disse que poderia até ter morrido, não fosse socorrido à tempo. Rosa ficou ao meu lado o tempo todo.

Quando fiquei bom,fui atrás dele e cobri-o de porradas.Ele só dizia,foi sem querer,foi sem querer.Sumiu da Mooca.

Outro acidente médico me aguardava. Agora,eu já estava trabalhando na Vasp, na Rua Líbero Badaró. Um colega de trabalho, a quem contei sobre a tal infecção, me disse que tinha tudo para ser uma doença venérea. Mas como ? disse pra mim mesmo. Eu só tenho relações com a Rosa, será que peguei dela ? À noite conversamos seriamente. Ela chorou muito eu muito nervoso, parece até ameacei bater nela.

Foi aí que, imaturos, nos separamos de vez. Procurei o Dr. Modesro Pinotti, que tinha consultório na rua José Bonifácio, perto da Vasp, onde eu trabalhava. Ele me disse : menino, você não teve recentemente nenhuma doença venérea.O que você teve, foi um tipo de Herpes, que , com este remédinho, vai passar logo. Animado, fui logo procurar pela Rosa. Ela não morava mais lá. Havia se mudado não se sabia para onde. Passou-se um ano, mais ou menos e nunca mais a vi. Disseram-me que até tinha se casado, coisa que eu também estava prestes a fazer com uma também freqüentadora do mesmo baile, que, por ter engravidado, tive que casar, segundo a vontade de minha avó e da mãe dela, minha primeira mulher, que estava esperando uma filha minha.

Depois de casado, prestes a me mudar para o Rio de Janeiro, onde sabia ficaria por muito tempo, uma amiga comum me deu o endereço da Rosa, que havia sim se casado. Não sei bem onde era. Lá pelos lados da Água Rasa. Cheguei lá, uma cerquinha de ripas, um recuo enorme e lá no fundo uma casinha confortável. Abri o portãozinho, fui entrando terreno adentro e eis que surge na porta da cozinha, aquele mesmo sorriso que vi de rosto molhado na escada do salão de baile. Continuava linda e sem que eu dissesse nada, foi dizendo: Eu sabia que você viria. Eu estava te esperando. Ela me disse que havia se casado com o Julinho, que conheceu na infância, tinha três filhos. Perguntei dos seus pais, me disse que morreram, seu irmão era barbeiro na cidade e eu disse que tinha vindo apenas me despedir e que iria morar no Rio de Janeiro. Desejou-me boa sorte. O menino mais velho dela brincava com uma bola no meio do terreno.

Como é o nome dele ? – perguntei eu…

– Walter,disse-me ela. Nunca mais a vi.

Foi a mulher que mais amei, depois de Déa com quem casei e vivo há 43 anos.

########

Walter Silva

Conheça mais sobre este mooquense, na página de “Famílias e Personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”As polpetas da nonna Carmella – Luiz Antonio Caropreso” style=”fancy”]

Todo descendente de italianos aprecia uma boa mesa. O alimento, para os “oriundi” tem até um aspecto religioso. Me lembro, por exemplo, que quando eu não queria comer a ponta mais endurecida de um pãozinho, minha nonna me fazia pedir desculpas a Jesus e beijar aquele “toco” de farinha assada, antes de depositá-lo no lixo. Mas, na realidade, somos mesmo é apaixonados pela arte da culinária! Eu particularmente considero mágica o que alquimistas do fogão conseguem fazer partindo de ingredientes simples como, por exemplo, transformar carne moída, pão amanhecido e temperos em deliciosas polpetas, que aqui na nossa República da Mooca são conhecidas como “porpetas”. E, em se falando de porpetas, tenho que citar uma pessoa: mio zio Domenico. Eu poderia dizer que ele é viciado nessas pelotinhas de carne. Come porpetas com arroz, com “pasta”, com feijão branco, com favas, com polenta, com pão e, principalmente, fritinhas acompanhando cervejas muito geladas.
Pois bem, as melhores porpetas da República da Mooca eram perpetradas pela queridíssima nonna Carmella, uma santa “signora” que veio para nosso bairro juntamente com seus pais, em 1912 quando tinha seus 5 anos, direto da cidade de “Napoli”, na velha e querida Itália. Não sei direito qual era o segredo da nonna, mas nunca comi uma porpetinha como aquelas que ela preparava.
Como eu já disse, zio Domenico era fã de carteirinha dessas iguarias. Vivia arrumando pretexto para visitar nonna Carmella, com a única intenção de devorar várias delas. Certa vez, chegou para a velha senhora com a seguinte história:
-Nonna, a signora num imagina quem quer experimentar suas porpetinhas. O Bispo Almário Bernardetti!
Nonna Carmela era uma senhora católica beatíssima, dessas que acordam uma hora antes para fazer suas orações diárias, freqüentadora da missa das sete e que, após a morte de seu marido, tornou-se senhora de um único homem: Jesus Cristo. Pois, imaginem a honra que seria para ela, receber em sua humilde casa, na rua Guaratinguetá, o Bispo da região?
É óbvio que tudo não passava de uma armação de zio Domenico. Bispo coisa alguma. O ilustre clérigo seria interpretado por Jair Fumaça, um franzino e pardo rapaz, nascido e criado no Rio de Janeiro, mecânico de automóveis por profissão, e um verdadeiro azougue jogando pelo Parque da Mooca no Desafio ao Galo.
Uma das qualidades de Domenico era sua popularidade. Meu tio transitava em qualquer esfera com uma naturalidade de fazer inveja. Era amigo de jornaleiros (nunca comprou um jornal na vida), donos de botecos, donos de pizzarias, políticos e…do sacristão da igreja. E não é que ele conseguiu arranjar um traje que caiu como uma luva? Após pequenas adaptações, como por exemplo um pedaço de cortina escarlate cortado grosseiramente para se passar por uma estola, parecia mesmo ser a batina de um bispo. Com um tanto de talco nos cabelos e uma câmera de bola de futebol cortada para se passar por um barrete, o bispo estava pronto. Domenico havia marcado a visita para as 4 da tarde de domingo, pois nesse dia nosso glorioso Juventus estaria disputando o primeiro lugar da segunda divisão do Paulistão, com transmissão ao vivo pela Record.
Por volta de 15:30, Carmellina começou fritar as pelotinhas. O aroma se espalhava pela rua. Quando Domenico e Jair chegaram, já havia bem umas 3 dúzias de porpetas muito bem fritinhas. Bateram palmas à porta e a querida nonna veio recebê-los esbaforida, trajando seu melhor avental. Ao ver o suposto bispo, emudeceu. Sem poder pronunciar uma palavra, curvou-se e beijou sua mâo. Para sua surpresa, a mão do clérigo tinha um “aroma” esquisito..
– Ma, signore bispo, perche sua mano astá cherando gasolina?
E o Fumaça, com um arrastado sotaque das areias de Copacabana:
– Sabe o que é, coroa, andei dando uns trato na pintura das “estáutas” da igreja, e limpei minhas “mão” com gasosa!
Nonna Carmella chama zio Domenico de lado e diz:
– Domenico, má che sutaque mais isquésito .
E ele:
– Calma, nonna, é que antes de virar bispo, Dom Almário trabalhou durante muito tempo como padre no Rio de Janeiro.
– Va via, iammo mangiare!!!
Dito isso, nonna Carmela volta à cozinha para concluir o preparo das porpetinhas. Enquanto isso, Domenico liga a TV e vai à geladeira buscar uma Antárctica geladinha, dizendo:
– Signori bispo, aceita una birra?
E o clérigo:
– Todassssssss…
Nona Carmela , já meio desconfiada, grita da cozinha:
– Don Almário, venha experimentá una porpeta fritinha na hora!
Muito a contra gosto, Jair Fumaça vai até a cozinha (ele estava bem ao lado da Antarctica geladíssima). Nonna Carmela espeta uma porpeta com um garfo e entrega pra ele. O rapaz sente seus dedos queimando e instintivamente, pra se livrar da “pelota em brasa”, enfia tudo na boca de uma vez. Na primeira mordida, aquele singelo manjar transformou-se num verdadeiro cometa incandescente. Parecia que o falso bispo tinha um bocado de lava quente na boca. Nosso amigo começou a pular feito saci. O talco em seus cabelos formou uma verdadeira nuvem, fazendo com que ele espirrasse como louco. Num desses espasmos, o barrete de câmara de futebol voa de sua cabeça direto para a frigideira. Quando a borracha começa derreter, nonna Carmella grita:
– Ma, chi é questo allora?
E Domenico rapidamente diz:
– Até a Igreja tem que se modernizar. Agora os barretes são feitos de material biodegradável…
– Ma che cosa de genti mundanna… Isso num’né cosa di Christo. I qüela nuvem de poeira branca qui saiu da cabeça dele?
– Nada não, nonna, foi uma nuvem de angellini que desceu do céu para abençoar suas porpetas!
– Salve Dio mio… Io non mereço tanto!
O clima voltava ao normal e Domenico já salivando disse:
– Primo mangiare, dopo parlare!
Estavam retornando todos para a sala quando minha prima Gioconda entra pela porta da frente. Pode-se dizer que ela era uma garota “cheia de predicados”. Foi abençoada por Deus no quesito boa forma. E nessa tarde Gioconda havia caprichado. Vestia uma minissaia cor-de rosa que deixava à mostra suas pernas bem torneadas e, para coroar aquela escultura, um “top” branco semi transparente.
O “bispo” Jair vinha andando meio absorto, ainda convalescendo da queimadura na boca, quando de repente dá de cara com aquele monumento. Gioconda, por sua vez, ajoelha-se e pede a benção do padre. No entanto, ao fazer isso, um anel que usava se enrosca na batina, puxando-a para baixo. Zio Domenico corre em direção ao falso bispo para tentar evitar uma desgraça maior e, numa manobra estabanada, tentando preservar os trajes do clérigo, acabou arrancando a batina inteira. E, para completar a cena dantesca com chave de ouro, Jair estava peladão. Uma coisa horrorosa aquele mulato magrelo, quase sem pelos, nu e de meias e sapatos pretos.
Nonna Carmella gritou apavorada:

– Santa Madre, il padre é “nudo”! Disgraciatto! Farabutto!

Zio Doménico, antes de se escangalhar de tanto rir diz:
– Ma, bello, o que é que você tem na cabeça? Ma nem um “shorts” ‘ce botou meu?
E o Fumaça:
– Po, “merr…mão”, eu tava no maior abafo com esse vestidão preto e resolvi ficar à vontade.
Enquanto Gioconda olhava estarrecida para aquele sujeito horroroso e pelado, nonna Carmela decidiu acabar com a festa. Com uma pontaria tão certeira como jamais eu vira, de fazer inveja ao saudoso Oberdã Catani, ela começou a atirar as porpetas contra o “disgraciatto” do Fumaça, sem errar uma única. O pobre coitado saiu correndo pela Rua Guaratinguetá, pelado, trajando apenas meias e sapatos, com porpetas voando contra sua cabeça, numa velocidade tal que, em questão de segundos, já alcançava a Rua da Mooca. Desde esse dia, ele desistiu da mecânica e tornou-se atleta velocista no Clube Atlético Juventus! Ganhou até uma São Silvestre, acreditem!

Se você ficou curioso para provar as porpetas, aí vai a receita:

1 kg de carne moída, de preferência carne magra
3 pãezinhos amanhecidos, picados grosseiramente (se você usar pão italiano, vai ficar muito melhor)
Uma gema de ovo pra dar liga
2 dentes de alho amassados
Uma cebola pequena picadinha
Umas 12 azeitonas verdes descaroçadas e picadas
Cheiro verde também muito bem picado
3 pires de chá, cheios de um bom queijo parmesão, peccorino ou mesmo provolone ralado
Sal a gosto (não use muito sal pois o queijo já é salgado)

Como fazer:
Em uma vasilha, deixe o pão de molho em água, por mais ou menos meia hora.
Retire o pão, jogue a água fora, esprema muito bem e devolva para a vasilha juntamente com a carne moída e a gema.
Acrescente os outros temperos, misturando tudo vigososamente como se fosse massa de pão.
Cubra a vasilha e coloque na geladeira por mais ou menos uma hora.
Retire, faça pequenas pelotinhas (2 a 3 cm de diâmetro) enroladas nas palmas das mãos e frite até dourar em uma frigideira funda, com bastante óleo quente.
Deverão ficar deliciosas, mas garanto que não chegarão aos pés daquelas feitas pela nonna Carmella.

Luiz Antonio Caropreso

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Uma linda mulher
(da rua do Oratório) – Eduardo Galdrisi” style=”fancy”]

Achei muito estranho aquele ônibus amarelinho parando fora do ponto na rua do Oratório, quase em frente da rua Juvenal Parada, para aquela moça descer. Não lembro precisamente, mas isso ocorreu nos primeiros anos da década de 60 e eu era um adolescente voltando do colégio.

Quem morava na Mooca nesse período certamente vai lembrar que existiam três linhas de ônibus “amarelinho” que subiam a rua do Oratório : o 27 – Oratório, o também 27 – José Higino e o 28 – Bertioga, todos com ponto inicial (ou final ?) na Praça Clóvis Bevilacqua . Tinha também o 26 – Parque da Mooca, mas este não subia a Oratório e, portanto, não tem nada a ver com esta história.

Bem, mas voltando ao ônibus parando fora do ponto. Esse tipo de concessão não era nada comum, mas naquele dia isso aconteceu. E o mistério ficou mais ainda ampliado pelo fato de que, quando o ônibus voltou a retomar seu itinerário, não mais vi a misteriosa moça. Ela sumira de repente, tendo possivelmente entrado em alguma casa, despertando mais ainda minha curiosidade. Quem era aquela moça? Por que era obsequiada com uma parada especial?

No dia seguinte, voltava eu do colégio em torno do mesmo horário e, quando estava me aproximando do local da ocorrência do dia anterior, reduzi os passos procurando “fazer um pouco de hora” na esperança de presenciar a repetição do fato. Para minha imensa felicidade realmente vi um ônibus subindo a rua do Oratório, passando de seu ponto de parada normal e parando no mesmo local do dia anterior.

Embora esperasse por esse momento, lembro-me que, mesmo que possa parecer incoerência, fiquei surpreso e estático, mas logo me recobrei e atravessei a rua para tentar ver mais de perto quem era a moça que havia sido contemplada com aquela gentileza, mas, infelizmente pude vê-la apenas de relance, pois rapidamente ela ingressou em uma casa. Pelo menos parte do mistério havia sido desvendado. Pensei comigo: amanhã continuo a minha investigação.

Mas, o dia seguinte era um sábado. Eu não tinha aula e acreditava que a “moça do ônibus” também estaria de folga, o que me fez adiar meus planos para a segunda feira.

E como demorou para passar as horas daquele fim de semana e as aulas da segunda feira!

Já era tradicional, após as aulas da segunda feira, um bate-papo com os amigos, no barzinho do Colégio São Judas Tadeu, para analisar os jogos de futebol do domingo. Mas, naquela segunda eu tinha assunto mais importante. Por isso, mesmo diante dos protestos dos companheiros de debate eu rapidamente me dirigi para o meu local de observação.

Não demorou muito e lá vem um amarelinho subindo a Oratório mas, para minha surpresa, parou no seu ponto normal. Cheguei a ficar desiludido. Mas a desilusão foi-se embora rapidamente, pois o coletivo andou mais alguns metros e fez a habitual parada defronte a possível residência da misteriosa moça.

Desta vez não perdi tempo. Tão logo percebi que o “amarelinho” diminuía sua velocidade atravessei rapidamente a rua e coloquei-me estrategicamente numa posição de onde eu pudesse observar melhor.

Nunca mais esqueci essa imagem : a moça descendo elegantemente as escadas do ônibus, com um sorriso encantador agradece ao motorista, caminha em direção a porta daquela casa e nela penetra, fechando a porta atrás de si e diante de um atônito adolescente.

Depois disso, tive a felicidade de presenciar essa cena por mais algumas vezes até que, alguns dias depois, nenhum ônibus lá parou. Nem no dia seguinte. E nem no outro. Armei-me de coragem e indaguei para um vizinho. Eles mudaram – disse-me ele. Com um misto de decepção e frustração, limitei-me a agradecer pela informação e ir para casa.

Ao longo dos muitos anos aquela imagem nunca me saiu da cabeça. Eu jamais soube mais nada a seu respeito. Hoje, recordando aqueles misteriosos momentos, eu percebo que nem ao menos eu sei o nome daquela linda moça da rua do Oratório.

Eduardo Galgrisi

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Mooca – Raluca” style=”fancy”]

Esta Mooca que já ultrapassou
Seus quatrocentos anos de fundação,
Cujos filhos dela se ufanam,
Que tem bandeira, hino e brasão.

Esta Mooca de bravos filhos,
Que dela só admitem verdades,
Com delegacias e corporações militares
E uma das maiores universidades.

Esta Mooca do trabalho e dos estudantes
Que não esmorecem sequer um momento,
Que tem jornais e grandes associações civis,
Esta Mooca também tem movimento.

Esta Mooca das três igrejas de Deus,
Onde o povo se encontra em oração,
Se fosse uma parte do corpo do Brasil
Com certeza seria o coração.

Raluca

Vale a pena você conhecer um pouco mais deste Mooquense apaixonado pelo bairro na página “Famílias e Personalidades”

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A turma da Mooca na maior vula – Luiz Antonio Caropreso” style=”fancy”]

Nos idos de 60-70, a garotada da Mooca usava uma gíria pra dizer que alguém ou algo estava muito veloz:

– Meu, ele passou por aqui na “maior vula”!

Tínhamos um amigo literalmente viciado em velocidade. E mais, velocidade sobre duas rodas, em possantes motocicletas. Seu nome era Luiz Colombo, um exímio motociclista, que arrasava corações de gatinhas com sua moto roncando alto pelas ruas da nossa República Federativa da Mooca. Apenas um detalhe depunha contra o exímio motoqueiro: Ele não enxergava bem. Aliás, enxergava bem sim…bem mal. Se não me engano, por um acidente desses da vida, Colombo teve suas retinas queimadas. Se estou falando alguma grande bobagem, que me desculpem os senhores doutores em medicina, mas era assim que a gente se referia ao problema dele: retinas queimadas! Colombo não conseguia diferenciar uma árvore de um ser humano a mais de 3 metros de distância. Parece que só enxergava vultos.

Ainda assim, nosso amigo Luiz voava em duas rodas pra todo o canto. E sempre arranjava um maluco maior do que ele para ser seu garupa…e seu “cão guia’, cá entre nós!!!

Um desses doidos de plantão era meu grande amigo Afonsinho, dono da famosíssima Pipi Burger, uma lanchonete que servia de base pra todos nós. Luiz pilotava e Afonsinho o guiava:

– Colombo, vai aparecer uma esquina em 3 segundos, vire pra esquerda!

ou:

– Uma senhora está atravessando a rua, reduza!

ou ainda:

-Tem um bueiro bem na nossa frente, desvie um pouco pra direita!

Era uma parceria de fazer inveja. Apesar de todos os riscos, nunca haviam sofrido um acidente!

Numa bela tarde de domingo, Colombo decide “dar umas bandas” pela Mooca e convida Afonsinho, que aceita de imediato. Após algumas voltas, Luiz resolveu descer a Rua da Mooca “na maior vula” pra testar a potência da moto:

-Vamos ver até qual velocidade esta geringonça vai!

Sempre existiu uma linha de trem que cruza a Rua da Mooca, mais ou menos na altura da famosa Cervejaria Antártica. Hoje um viaduto sobrepassa o obstáculo férreo, mas naquela época havia uma cancela, com dois braços que bloqueavam a rua quando da passagem dos trens.

Eles deviam estar a uns 150 km por hora quando se aproximavam das porteiras e estas começaram a se fechar. Colombo vira pro Afonsinho e pergunta:

-Você acha que vai dar pra passar??

E ele:

– Vai, pode ir que vai dar sim! Mas acelera!!! Acelera pô!!!!!

– Não dá mais meu! Já tá no limite da moto!

– Então mira no meio e vai fundo!!!

Colombo seguiu as instruções do Afonsinho e acelerou tudo o que pode. Afonsinho gritava:

– Vai, vai que dá, vai que dá…

E…”pow”! Colombo acerta a cancela com o capacete e arranca sua ponta. A moto serpenteia pra todos os lados, mas o motoqueiro consegue restabelecer o equilíbrio e os dois voltam ilesos para o Pipi Burger. Além da cancela, o único avariado foi o capacete de Luiz.

Se vocês acham que com esse susto meus amicelli Luiz e Afonsinho desistiram de suas aventuras, ledo engano! Ficaram mais ousados e atrevidos. Além do que, Colombo adaptou a ponta da cancela (que ele recuperou) na frente de sua moto e a ostentava como um troféu.

Após algum tempo, Colombo sumiu. Deve ter-se mudado da Mooca, pois nunca mais o encontrei. Já Afonsinho, pegou gosto pela coisa. Hoje é ele que circula pela Mooca em possantes motocicletas. E, curiosamente, também perdeu o acuro visual…coisas da idade. No entanto tantos anos como co-piloto de Colombo serviram pra alguma coisa. Afonsinho consegue pilotar seu bólido “na maior vula” até com os olhos vendados! Mas, com certeza ele está precisando de um bom co-piloto pra ser seu garupa. Que tal, meu amigo leitor, você não quer se habilitar? Gosta de emoções fortes? A vaga está aberta!!!

Luiz Caropreso

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Histórias da Mooca – Parte I – Mino Carta” style=”fancy”]

Quando passou o tempo de escola, a rapaziada deu para fazer footing, nas noites de sábado e domingo, entre a rua João Antonio de Oliveira e a avenida Paes de Barros, ou para jogar futebol na várzea, possivelmente no time de Salvador Sprovieri, que o chamara pelo o nome de uma dança da moda, Black Botton, com isso ganhando muito em reputação.

Na disputa do campeonato paulista, a Mooca já entrava com o Juventus, mas o pessoal era de paixão palestrina, que permaneceu, intocada, até os dias de hoje.

Poderosos quadros varzeanos eram o Mem de Sá e o Meu Clube, enfim fundidos no Mooca Atlético clube, o Xingu, em que militavam os irmão Iervolino, e o Madri, com sede social instalada no próprio bar Madri, na esquina da rua Xingu, mais tarde Dom Bosco com Ana Neri. Dali saíam para os embates domingueiros os seus craques do primeiro e do segundo time, vestindo os seus esplendorosos uniformes, tingidos com as cores da Espanha, roxo, amarelo e vermelho. Partiam a pé, no rumo do seu campo de terra vermelha a esperá-los nas cercanias do Balão de Gás, à Margem da Avenida do Estado, e o povo surgia emocionado nas calçadas e os moleques corriam atrás daquele majestoso desfile com as camisas cheias de vento. Durante a guerra, o Madri mudaria de nome, viraria Tigre Varzeano, e nas suas fileira militaria um  mito, Mario Pescoço Torto, gênio da cabeçada para contrariar a natureza que lhe colocara a cabeça sobre os ombros de forma, digamos assim, irregular, como se Mario estivesse constantemente interessado na conversa de quem se postasse à sua esquerda.

O bar Madri e seu fogoso time tinham razão de ser, já que a rua Dom Bosco era terreno dividido entre espanhóis e Italianos, sem contar que desaguava bem defronte à Vila da Merda, cortiço de cem ou mais moradias, na Ana Neri, quase todo habitado por espanhóis, lá pelas tantas empenhados em mudar-lhe o nome para vila das Flores. Em vão. No último trecho da Dom Bosco, entre rua Lins e a Ana Neri, a repartição do espaço era perfeita: os espanhóis moravam de um lado, com a única infiltração dos Tottaro, donos de vendas de bilhete da loteria,e do carroceiro Muschitiello, e os italianos do outro. Estes levavam vantagem na língua, talvez porque possuíssem vozes mais volumosas, e o dialeto napolitano era o verbo oficial.

Os espanhóis, porém, restabeleciam o equilíbrio por obra do Madri, reconhecido como time de toda a rua, e da Zambomba, espécie de folia de reis organizada por um certo Campana ao som de pandeiro ciganos e barricas forradas de couro, cuícas gigantes de ronco grosso. A Zambomba, em ocasiões aprazadas, vinham cantando “abre la puerta, abre la puerta, que já quiero entrar”, e todas as portas se abriam, espanholas ou italianas tanto faz, e a cantoria invadia as casas e só se calava para que o pessoal tomasse vinho.

A Dom Bosco era uma aldeia encravada dentro da Mooca, nem mais nem menos que outras ruas, cada uma com vida própria e seus tipos característicos, como a Mariuccia Loca, que andava em andrajos e pedia às mulheres que faziam bordados para as lojas da rua Oriente: “Nanni”, me dá uma striscia? “ Queria dizer, uma tira de pano, e, sendo fita colorida, melhor ainda, e a mim me encanta que chamasse as bordadeiras pelo mesmo nome como se todas fossem Giovana, ou Giannina, cujo diminutivo há de ser, justamente, Nanní. Já na década de quarenta, Mariuccia esticava até a esquina da Barão de Jaguara com a rua da Mooca, onde a Destilaria Bandieri colocara um balcão para servir a sua última invenção, a passarella, mistura de pinga com uva passa, e copos de groselha, a inolvidável groselha Bandieri. O que movia Mariuccia era a esperança de ganhar um copo cheio, e tendo a crer que, sem subestimar a qualidade do refresco, ela tivesse  maior consideração por um aperitivo que inebriou toda uma época.

Um dia, um japonesinho apareceu na rua Dom Bosco. Acabava de mudar-se para rua  Ana Neri e seus pais eram fabricantes de bonequinhos de olhos puxados, destinados a habitar as cristaleiras da sala de jantar, entre miniaturas da Cinzano e flores de plásticos. Foi um dia de indescritível surpresa, mas logo o japonesinho entraria nas peladas da rua, sem que os seus novos amigos se dessem conta de que a Mooca não era mais aquela.

Autor : Mino Carta, do livro “Histórias da Mooca”

Saiba mais sobre este grande escritor na página de “Famílias e Personalidades

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Cozas da Móca! – Guido Piva” style=”fancy”]

Antigamenti si dizia qui afazê uma paródia, era isculachá cum a obra litarária qui fô feita. Oggi é deferente. Acho io, qui é a maió omenagi qui si pódi afazê prá alembrá da obra imortali qui, sei lá perquê, s’isquéce, ô qui giamais si tevi a opurtunidadi di conhecerla! Qüesta paródia e di uma poesia chiamada ‘ Cancione do Ezílio’ do grandi poeta Gonçarvis Diaqui nó era moquensi… ma era uno bruta di uno poeta.

Aqüi mi  faço questa poesia prá omenagiá eli e la Móca atuá.

Mia  Móca  tê  Parmêra…

o  Curintia  e  mai  sei lá!

Tutti  elis  é  di  fóra

só  o  Juventus  é  di  la!

 Nostro  ciello  é  d’istrela

tutto  cheinho  di  fumaça

delas  pizza  das  cantina

qui  tutto  dia  lá  si  ássa!

Quando tô  suzinho  a  nótte

e  uno  chopinho  bebo  lá

só  iscúito  as  buzina

e  os  guardinha  apitá…

 Mia  Móca  tê  valoris

qui  nó  dá  prá  creditá

di  pensá  suzinho  a nótte

molta  istória  vô  contá:

dos amici… das isquina

di  tutto  qui mi passê por lá!

 Nó permita  Dio quio mi morra

sem qui io nó istêgia lá

senza vê os meo amore…

o Juventus… meos amici

as pizza das cantina

o chopinho gieladinho

e as arcachôfra di mangiá

###

GUIDO PIVA

[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Mooca
446 anos – Raluca” style=”fancy”]

Quando qualquer forasteiro
Chega sem prévio aviso,
É atendido por inteiro,
Sempre com um largo sorriso.

ralucaPor isso quem aqui reside,
Ou freqüenta o pedaço,
Sabe que aqui se progride,
E o cumprimento é o abraço.

A mulher deste recanto,
Todos sabem de sobejo,
É lindo, é um encanto,
saudada sempre com beijo.

É consenso que na Mooca,
Venha alguém de onde for,
O mooquense se desloca
E o recebe com amor.

Raluca

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[/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”Quero ricordá do tanta cosa…
Qui nem sê… – Guido Piva” style=”fancy”] Io quero ricordá, im libro, dos tempo di lá do trais,
Do tempino da vécchia Móca… do tempo do Parqui Shangai…

Io quero lembra im verso, o culégio M.M.D.C.
das coza daquele tempo, qui nunca mai vó m’ isquecê…

cronicaIo quero ricordá du churro, que si mangiava na churraria,
da fera lá na Dom Bosco… do paste qui si cumia,

Io quero lembrá du tempo… du tempo di rapazzola,
du tempo do cine Roma… do paste da ragazzeta…

Io quero lembrá da Móca, du Clube Real Madri,
du tempo di giogá bola… cum o Airto e cu’ o Giquirí…

Io quero recordá du tempo que nó m’ isquecí
Das dumingas de las cervegias … co Vitório e Laduí…

Io quero mi lembra xuxando, o pani im sardela fria,
da festa di San Genaro, du vino e d’alegria…

Io quero ricordá du lanche qui lá no Dorazio cumia,
daqüela mortadela quente… du Bauru qüeli fazia…

Io quero lembra alegro, du tempo qui só si ria,
Du Pepe Lega chigando… na frenti das scuderia…

Io quero ricordá da Móca, du tempo qui si vivia,
du tempo que era felice … era felice e nem sabia…

Carlos Guido Piva

Poema extraído do livro “Orra Meu! O canto da Mooca”
Escrito por Carlos Guido Piva

Conheça mais sobre este poeta Mooquense, na página de “Famílias e personalidades” [/su_spoiler] [su_accordion] [su_spoiler title=”A turma da Mooca na pizzaria – Luiz Antonio Caropreso” style=”fancy”]

Apesar de muita gente pensar o contrário, nossa querida República da Mooca não é povoada apenas por “oriundi”: italianos e seus descendentes. Temos alguns portugueses, principalmente nas maravilhosas padarias que vendem do singelo pãozinho francês até frango com farofa (franguinho de televisão de cachorro como é conhecido em nossas províncias), roscas doces fantásticas, brioches e croissants dos deuses e uma decepcionante pizza. Quem um dia teve o sublime prazer de saborear as maravilhosas pizzas elaboradas na Pizzaria São Pedro, na Rua Javari, e da não tão famosa mas insuperável (essa é minha modesta opinião), Pizzaria do Ângelo, na Rua Sapucaia, sabe do que estou falando.

Aos que não conhecem esses dois produtores de prazeres gustativos em forma de massa redonda coberta por divinos recheios, meus sentimentos. Se você é daqueles que se satisfaz com massa fina, muitas vezes torrada, borrifada com molho pronto e certos absurdos como catchup, frango desfiado, milho e etecétera, me avise que vou retirar seu nome de minha agenda. Você não merece constar de minha lista de amici. Me atrevo dizer que sua vida poderia ter sido no mínimo muito mais feliz. Mas sempre há uma salvação. Basta me avisar que iremos juntos a uma delas. Você paga a conta, certo?

Voltando às nossas redondas:

-Dá pra imaginar um mundo mais perfeito do que aquele que tem pizza, sexo, futebol e cerveja (não necessariamente nessa ordem)?!?

Bem, nossa turma tinha por hábito devorar pizzas quase todos os sábados à noite. Éramos dez, quinze, vinte comensais. Verdadeiros gurmês da pizza (se é que isso possa existir). Como vinha dizendo, todos os sábados, sorteávamos uma das famosas pizzarias e passávamos bons momentos saboreando aqueles manjares triangulares, regados com um belo azeite, e acompanhados, evidentemente de muita cerveja e cantoria.

Certa feita, um certo José Sayeg, o Zé Turquinho, descendente de legítimos libaneses resolveu abrir uma pizzaria. Ficamos todos atônitos mas, como o Zé Turquinho era amigo, demos nosso apoio!

Ficou combinado que antes da inauguração, nossa turma seria convidada para provar as pizzas elaboradas na nova casa.

Sayeg alugou uma bela casa pertinho da Pizzaria São Pedro e da famosa Rua Javari onde se encontra o campo de futebol do glorioso Juventus.

Após uma reforma de três meses, num belo dia recebo um telefonema do Turquinho:

Uma das equipes do Parque da Mooca Arquivo: C.A. Parque da Mooca

-Alô, brimo?

-Fala Turquinho, o que você manda!

-Prepare o bucho. Vou fazer a pré-inauguração da pizzaria nesse próximo sábado! Avise a turma!!! Tudo free!!!

Imediatamente liguei pra todos e nos preparamos para a boca livre.

Sábado, oito da noite, a italianada toda na porta da pizzaria do Sayeg. A porta de metal se levanta e…Primeira surpresa da noite. A casa se chamava Pizzaria Cedro do Líbano, e entre aspas o slogan: “aqui é tudo bahani”.

A entrada parecia uma tenda árabe, com direito a treliças, véus e iluminação de lamparinas. Pra ajudar o clima, um forte cheiro de incenso invadia o ambiente.

Entramos meio desconfiados e dirigimo-nos para uma mesa baixinha (devia ficar a 40 cm do chão). Ao redor dela, ao invés de cadeiras, almofadas. Meu primo Gaetano muito desconfiado disse:

-Dio Cristo, ma isso é uma pizzeria ou uma casa de massagens?

Nisso, ouve-se uma música árabe e adentra o salão, rebolando feito doida, uma senhora de uns 160 kg, vestida com véus e um tipo de biquíni dourado. Turquinho olhou pra gente com muito orgulho e disse:

-Minha tia Ione vai dançar pra vocês. Essa é a dança do ventre!

Haja ventre! Aquela senhora balançava suas carnes envoltas em muita celulite com um entusiasmo que eu nunca havia visto. Numa manobra mais ousada, começou a tirar os véus. Aproximou-se de nossa mesa e arrancou o sutiã. Seus seios enormes caíram sobre a cabeça do nonno Gennaro. O velhinho aplaudia e tentava beijar aquele verdadeiro úbere com um só bico.

Nisso Zé Turquinho grita:

-Adesso, iamo mangiare!!

A primeira pizza que trouxe, era feita com um queijo esquisito, muito mole e meio azedo, salpicado de pistaches. Zio Domênico logo reclamou:

-Ma que catso é questo?

Ao que o Turquinho respondeu:

-Pizza de coalhada seca!

-Coalhada? Ma isso é coisa de por em pizza?

A essa altura, a dançarina do ventre rolava aos beijos  e semi-nua com Nonno Gennaro. Aliás, ele havia sumido debaixo daquela opulenta espécie feminina. Eu só ouvia Tia Ione gritando:

-Da moheaanni, da moheaanni!

E o nonno:

-Eu também, to quase, to quase.

Bom, o Turquinho que havia sumido aparece com outra pizza e novamente Zio Domênico:

-Io non credo! Cadê o molho, cadê a mussarela?  Que pizza é questa, de verdura e sem molho?

E o Sayeg:

-É de folha de uva com zátar!

-Mas essa porcaria é seca! como vou engolir isso?

-Prepare-se para a próxima. A estrela da casa! disse o Turquinho todo orgulhoso.

E não é que ele vem com outra pizza esquisita! Aí quem reclamou fui eu:

-Orra Turquinho, agora você se superou! Pizza de carne moída????De boi ralado!?!?

-Claro, é a melhor de todas. Na minha terra só se come dessas!

-Então enrola essa pizza e enfia lá que eu vou embora!

-Mas você não vai nem esperar a de chanklish?

-Vai se catar. Monta uma casa de esfiha, pô!!!

Arranquei o nonno Gennaro debaixo daquelas carnes da Tia Ione. Ele estava vermelho como um peru, resfolegando e dizendo:

-Deixei a turca maluquinha! Mas, Turquinho, me explica o que é que quer dizer “da moheaanni” que ela tanto gritava? É tá bom? Tá gostoso? Vou desmaiar?

Ao que o Sayeg responde:

-Em nosso dialeto quer dizer “TÁ FORA”!!!

Saímos todos, muito decepcionados e fomos até a Pizzaria do Ângelo mangiare una vera Pizza, pra esquecer de vez aquela palhaçada que o Sayeg aprontara.

Na semana seguinte, passei em frente a pizzaria do Turco e vi que ele mudara o letreiro da fachada. Onde antes se lia Pizzaria Cedro do Líbano, agora era Casa de Esfihas!

Está lá até hoje. E posso dizer de carteirinha que é a melhor esfiha de São Paulo!

Luiz Antonio Caropreso

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