FAMÍLIA CASTAGNA

Meu nome é Hercules Caetano Castagna. Minha esposa chama-se Manuela Tarrazo Castagna e nós temos dois filhos: Valéria e Hercules. Com onze anos de idade minha esposa foi trabalhar na alfaiataria Folco, na Rua da Mooca, para aprender o ofício de coleteira, porque naquela época os homens usavam muitos coletes. Acontece que ela não aprendeu nada, pois logo me conheceu, namoramos dez anos e casamos em 1943. Os pais dela eram brasileiros. Sua avó por parte de mãe era italiana de Verona e seu avô português da cidade do Porto. Seus avós paternos eram da Galicia na Espanha. Olha só que mistura.

Meus pais eram da alta Itália. Meu pai, Antonio, era lombardo da província de Treviso, de uma cidade que foi abandonada depois da guerra porque o povo saiu de lá por falta de trabalho. Nós já estivemos lá e hoje é uma vilazinha.

A cidade da minha mãe é mais importante. Ela era de Castel Franco Veneto, perto de Veneza. É uma cidade de arte, de muitas escolas e universidade.

Meu pai veio para o Brasil em 1888, pelo navio Matteo Bruzzo. Ele chegou aqui logo depois da libertação dos escravos e como não entendia português, não conseguia compreender o que estava acontecendo e pensou que era uma revolução.

Família Castagna
Hercules e Manuela
em Castelfranco Veneto (Itália)

Ele conheceu a minha mãe aqui, na Rua Piratininga e se casaram em 1893. Lá criaram seus filhos, treze no total. Como professora, Amália além de ajudar o marido soube cuidar dos filhos, treze no total: Anita Marina casada com Hans Bonaheme, Ferrucio casado com Clara Biscuola, Maria (falecida ainda criança), Margarida casada com Alexandre Formontim, Luiza casada com João Carvalho, Maria casada com Martim Passamonte, Irene casada com Armando Torrezani, Dora casada com Avelino Menegatti, Menotti casado com Júlia Vendramini, Romeu casado com Anita Vendramini, Hugo casado com Ondina Sartori, Alfredo casado com Irene Pasqualetti e eu, o caçula, Hercules, casado com Manoela Tarrazo. Depois do casamento, os pais da minha mãe voltaram para a Itália.

Quando meu pai veio para o Brasil ele tinha sido contratado para trabalhar na fazenda da família Prado, mas eu não lembro a cidade. Lá, o meu pai Antonio e seu irmão Giuseppe se mostraram excelentes carpinteiros. Eram verdadeiros artesões. Meu pai primeiro desenhava e calculava para depois executar. Vendo isso, os Prado os mandaram para a Capital para aqui trabalhar. Meu pai e meu tio, vendo o que era São Paulo, abriram os olhos e começaram a trabalhar por conta própria como carpinteiro e marceneiro e o trabalho deles começou a ser conhecido. Aí eles deixaram os Prado e vieram para a Mooca. Em 1888 compraram um terreno defronte onde é hoje a Igreja de São Rafael, exatamente onde atualmente é um depósito de água mineral.

Família Castagna

Quando meu pai veio para o Brasil ele tinha sido contratado para trabalhar na fazenda da família Prado, mas eu não lembro a cidade. Lá, o meu pai Antonio e seu irmão Giuseppe se mostraram excelentes carpinteiros. Eram verdadeiros artesões. Meu pai primeiro desenhava e calculava para depois executar. Vendo isso, os Prado os mandaram para a Capital para aqui trabalhar. Meu pai e meu tio, vendo o que era São Paulo, abriram os olhos e começaram a trabalhar por conta própria como carpinteiro e marceneiro e o trabalho deles começou a ser conhecido. Aí eles deixaram os Prado e vieram para a Mooca. Em 1888 compraram um terreno defronte onde é hoje a Igreja de São Rafael, exatamente onde atualmente é um depósito de água mineral.

Entre outros lugares, meu pai e meu tio trabalharam no Museu do Ipiranga, no Teatro Municipal e no posto de saúde da Rua Marina Crespi. Vários pertences de meu pai e do meu avô Caetano estão no museu da Biblioteca da Mooca, inclusive a certidão de nascimento de meu avô, escrita em alemão e italiano, porque a região onde ele nasceu era dominada pelos austríacos. Quando os austríacos dominaram aquela região, em 1855, eles fuzilaram o meu bisavô (por parte da minha mãe) em praça pública, na frente de seu filho de 16 anos, porque o meu bisavô não queria ficar do lado dos austríacos. Essa praça, posteriormente, recebeu o nome de meu bisavô e lá foi erguida uma estátua em sua homenagem.

Hercules com pais e irmã
Residência da família Castagna

Eu nasci na casa defronte a Igreja S Rafael no ano de 1919 e sou o mais novo de treze irmãos. Tanto eu como Manuela estudamos no Grupo Escolar Oswaldo Cruz. Eu costumo dizer que a minha atividade profissional sempre foi com agulha, mas hoje estou aposentado. Eu sempre tive alfaiataria própria, primeiro na Rua Guaratinguetá e depois na Rua João Antonio de Oliveira. A máquina de costura ainda tenho. Eu a guardo como troféu, pois ela foi a responsável pela manutenção e criação da minha família e por tudo o que temos hoje.

Eu guardo muitas recordações da velha Mooca. Por exemplo, um fato que eu não me esqueço nunca é que em 1926, eu era criança, estava almoçando e ouvi uma gritaria lá fora. Naquele tempo quase não tinha barulho. Eu saí correndo e de repente eu vi o dirigível Zeppelin, uns 300 metros acima de nós. Eu nem sei explicar o que sentimos. Que euforia!. Num outro dia eu estava no cine Moderno e entre uma fita e outra tinha um intervalo. Eu saí fora do cinema e já era noite e o Zeppelin estava parado sobre a Rua da Mooca todo iluminado.

Da revolução de 1924 eu lembro que esta granada, que eu guardo até hoje, arrombou a parede de minha casa e caiu no nosso quintal.

Aqui defronte minha casa, aos domingos à tarde, minha família, os amigos e os vizinhos punham as cadeiras na porta e ficavam todos conversando. Hoje acabou o diálogo. O diálogo é importante. Você aprende muito. Eu sinto muita falta do calor humano e do respeito que havia entre famílias. Hoje quase ninguém conhece ninguém. Que saudades desse tempo!

Entrevista concedida em julho/06

Hercules e Manuela com a “famosa” máquina de costura
Hercules e Manuela com os filhos, Valéria e Hercules