NATALINO DA SILVA – O NATAL

Um esportista que jogou futebol por ininterruptos sessenta anos certamente mereceria estar no Livro dos Recordes. Concorda ? Pois bem, esse esportista é um mooquense típico : Natalino da Silva, mais conhecido no mundo do futebol de várzea por Natal.

Natal, casado há 45 anos com Elza Augusta Mondini da Silva com quem tem dois filhos : Reinaldo e Julia, nasceu na Mooca na Rua Frei Gaspar e completará 75 anos no próximo 25 de dezembro, dia de Natal.

Ao longo desses sessenta anos de carreira, o nosso craque atuou em dezenas de clubes de várzea, fato este que, aliado à qualidade de seu futebol, o tornou um dos jogadores mais conhecidos e respeitados no mundo da várzea. O início da carreira ocorreu aos nove anos de idade jogando no Almirantinho, uma espécie de equipe infantil do Almirante, um time de várzea da Rua Almirante Brasil.

Um pouco mais “mocinho”, Natal passou a jogar no Imparcial F.C., equipe que mandava os seus jogos no campo do E.C. Cinco de Outubro, no local onde hoje está localizada a Praça Kennedy. Durante os três anos em que atuou no Imparcial, Natal não viu a sua equipe perder, pois o seu time permaneceu invicto durante todo esse período.

Depois disso, Natal atuou pelo EC XII de Outubro do Pari, pelo qual disputou o campeonato amador da Capital. Logo em seguida, estudando no Colégio Rui Barbosa, onde formou-se contador, Natal presidiu o Grêmio Estudantil desse Colégio, passando a jogar pela equipe do Grêmio.

Em algumas agremiações, Natal atuou apenas algumas poucas vezes, mas em outras teve uma passagem bem mais longa. É o caso da Associação Bairro Chinês de Desportes e da Associação Recreativa Portuguesa da Mooca, onde Natal jogava concomitantemente: no Bairro Chinês aos domingos pela manhã e na Portuguesa à tarde. E, para não perder o costume, aos sábados defendia outras agremiações.

O Bairro Chinês, nessa época mandava seus jogos no campo localizado no antigo Hipódromo da Mooca (onde hoje está sediada a Subprefeitura Mooca), quando no local ainda existia a majestosa arquibancada que anteriormente pertencia ao Jóquei Clube, a qual, lamentavelmente, foi posteriormente demolida.

Natal com a esposa Elza e os filhos Reinaldo e Julia
Arquivo:Natalino da Silva
Natal na equipe do Imparcial FC em 1948
Em pé : Orlando, Zé, Gabardo, Mario Gordo, Orlando e Nelson;
agachados: Biás, Natal, Pedrinho, Canivete e Leitão
arquivo : Natalino da Silva

Foi jogando pelo Bairro Chinês, onde foi campeão em diversos festivais varzeanos, que Natal alcançou a sua melhor fase técnica, quando foi convocado para atuar pela Seleção da Mooca, ocasião em que a sua equipe conquistou o título de campeã da Cidade de São Paulo. A finalíssima, disputada no sistema “melhor de três partidas” foi contra a Seleção da Vila Prudente.

Nos dois primeiros jogos, disputados nos estádios do Juventus e do Nacional, ocorreram empates,ambos pela contagem de 1 x 1. A grande ”negra” foi disputada na Rua Javari, na preliminar de um jogo Juventus x Ipiranga, quando foram inaugurados os refletores do Estádio Conde Rodoldo Crespi e a seleção da Mooca goleou a sua adversária por 4 x 1, conquistando o ambicionado título.

Depois disso, a Seleção da Mooca foi convidada a jogar contra uma seleção amadora do Rio de Janeiro que voltava invicta de uma excursão à Europa, mas a seleção da Mooca não respeitou esse cartel dos visitantes e venceu a partida pela contagem de 2 x 1, na presença do Dr. Adhemar de Barros, então Governador do Estado de São Paulo.

Uma outra partida memorável lembrada pelo Natal, dentre tantas que participou, foi jogando pela Portuguesa da Mooca contra o Sampaio Moreira do Tatuapé, um dos grandes expoentes da várzea paulistana. A partida terminara empatada e a decisão foi para disputa em pênaltis. Nessa época, um jogador de cada time cobrava três penalidades. Após essa seqüência continuou havendo empate e a partir daí esses mesmos jogadores foram cobrando penalidades alternadas até que um deles levasse vantagem. Diante da qualidade dos cobradores a partida só se encerrou na 21ª cobrança, quando o defensor do Sampaio Moreira errou a cobrança permitindo a vitória do time do Natal por 21 a 20.

Aliás, o nosso homenageado destacou-se também pela perfeição na cobrança dos pênaltis, pois dificilmente errava o alvo. Embora atuando sempre como “centro médio” posição que, à época, se situava quase que exclusivamente no campo de defesa, Natal marcou muitos gols em sua carreira, não só de pênaltis e de faltas, onde também era um exímio cobrador, mas também de jogadas combinadas com os atacantes.

Natal na equipe do XII de Outubro em 1949
arquivo : Natalino da Silva
Natal na equipe de amadores do C.A Juventus em 1951
arquivo : Natalino da Silva

Foi justamente assistindo as cobranças de pênaltis em um festival varzeano que o treinador do Nacional AC, o italiano Caetano de Domenico, convidou Natal para treinar naquela agremiação da Capital. E, logo no primeiro treino, jogando pela equipe de aspirantes, Natal foi chamado a cobrar uma penalidade máxima contra Furlan goleiro titular, que pouco tempo depois foi vendido para o Palmeiras. Natal não se fez de rogado, foi lá, cobrou o pênalti: goleiro num canto, bola no outro. Mas o treinador não se contentou e fez Natal efetuar mais duas cobranças que, igualmente, redundaram em gols, daí surgindo o convite para assinar contrato com o Nacional. Mas o sangue mooquense falou mais alto e Natal preferiu continuar atuando pelo Juventus.

No Juventus, Natal disputou toda a temporada do ano de 1951, atuando na equipe de aspirantes. Convidado pelo técnico Garro para ascender à equipe principal, Natal, em uma decisão difícil, optou por continuar com o emprego na São Paulo Alpargatas, pois o salário que receberia como jogador de futebol profissional era bem inferior àquele que recebia na Alpargatas e a família não poderia prescindir da ajuda financeira que ele lhes proporcionava. No aspirantes, o técnico Alfredo Raucci o autorizava a treinar só uma vez por semana, mas na equipe principal haveria uma exigência muito maior de dedicação, o que tornaria inviável a manutenção do emprego.

Além de ter sido campeão em vários torneios internos de associados do Juventus, a última grande conquista de Natal foi em 1981quando a Equipe de Veteranos do CA Juventus sagrou-se campeã do Torneio Internacional de Veteranos Dr Antonio L. M. Galvão, promovido pelo São Paulo FC.

Durante a sua brilhante carreira futebolística, Natal recebeu vários outros convites de times do Interior, chegando a jogar no Laranjal Paulista, da cidade do mesmo nome e no Monte Alegre, do Paraná, aproveitando períodos de férias. Juntamente com seus companheiros Nicolau e Rubinho também foi convidado pelo famoso Waldemar de Brito para jogar no Santos FC, mas pelo mesmo motivo que o levou a desistir do Juventus, se viu obrigado a declinar desse convite.

Assim, a exemplo de tantos outros casos semelhantes de grandes craques da várzea que deixaram de seguir carreira para poder sustentar a família, o futebol profissional perdeu a oportunidade de admirar o futebol desse mooquense Natalino da Silva, famoso o Natal.

Natal na equipe do Bairro Chinês em 1960
Em pé : Paulo, Vadô, Pádua, Natal, Ernani e Pinheiro; agachados : Aroldo, João, Yvo, Stélio e Nélo
arquivo : Natalino da Silva
Natal na Seleção da Mooca em 1957
Em pé : A.Salgueiro, Peru, Mauro, Natal, Antoninho, De Sordi, Tite e Aldo;
agachados : massagista, Marinho, Rato, Gabriel, Stélio e Jonas
arquivo : Natalino da Silva