PAULISTA FUTEBOL CLUBE

Das dezenas de clubes de várzea que se localizavam na Mooca, poucos sobreviveram até os dias de hoje.

A escassez de locais para a realização dos jogos de futebol, a falta de entusiastas esportistas de outrora que, abnegadamente, se dispunham a dirigir essas agremiações e as dificuldades financeiras para a manutençãode um clube são os principais fatores que conduziram ao encerramento das atividades de muitos deles. Dentre os poucos que persistiram está o Paulista Futebol Clube, que só conseguiu sobreviver porque se transformou de um time de várzea em um clube, com sede social própria, embora abdicando de manter equipes de futebol de campo.

Sede Atual do Paulista F.C.
Fonte: Arquivo Portal da Mooca

Fundação

O “Paulistinha”, como era e é mais conhecido, foi fundado em 14 de fevereiro de 1943, data na qual um grupo de amigos reuniu-se na barbearia do Sr.Henrique Campiero , localizada na ocasião na Rua Madre de Deus nº 992, e resolveram criar um time de futebol, inicialmente com o nome de Extra Paulista. Consta da Ata dessa reunião que dela participaram como fundadores os Srs. .e Deolindo Campiero, sendo este último, irmão do barbeiro, eleito o primeiro Presidente daquela que viria a ser uma das mais famosas agremiações da várzea paulistana.

A primeira providência foi “passar o chapéu” entre os fundadores para levantar recursos visando a aquisição de uma bola e do uniforme, composto por camisa branca e preta com gola vermelha.

A esse grupo de pessoas logo se juntaram outras, inclusive inúmeros lituanos e “hungareses”, colônias que haviam se estabelecido no bairro. Desta forma, em curto espaço de tempo o Paulista já contava com duas equipes – primeiro e segundo time-, conforme denominação usada na várzea com cerca de 35 atletas efetivos .

Como o Paulista nunca teve campo próprio, os jogos eram sempre realizados em campos adversários, para onde os jogadores e alguns torcedores se deslocavam, transportados por um caminhão alugado (muitos anos depois o clube chegou a adquirir um ônibus), sendo que durante o trajeto os atletas entoavam entusiasmadamente o hino do Clube, como se fosse um grito de guerra, como lembra o Sr. Lourival Jesus Campieri, sobrinho do barbeiro e mascote do time, depois ponta direita e ponta esquerda e, hoje, Diretor Financeiro do Paulista.

Sr. Lorival Campielo e Sr. Alberto Augusto com livros históricos do Clube
Fonte: Arquivo Portal da Mooca

Retornando das competições, todos voltavam para os vestiários localizados na sede do Clube, que nada mais era do que o quintal situado nos fundos da casa do barbeiro Henrique Campiero. Após o banho (com água fria), eram tradicionais os bolinhos preparados e servidos pela “tia” Olímpia, esposa do barbeiro, para regozijo dos atletas.
Para custear as despesas todos os diretores e atletas “pagavam o recibo”, como era denominada a contribuição dos associados. Quer dizer, nem todos pagavam, pois alguns davam o calote, como cita, com ironia, o Sr Antonio Luiz Fernandes, o Téio.
A Diretoria que, como nos citou o Sr Domingos Mancini, o popular Mingo, deu o pontapé inicial, permaneceu no cargo por muito tempo, quando o Presidente Deolindo Campiero foi substituído por outros dirigentes até que o cargo máximo foi assumido pelo barbeiro Sr Henrique Campiero, tendo como vice o Sr Pedro Nascimento Fernandes, gestão na qual o Clube teve um grande impulso e consolidou-se.

Nessa gestão o Clube mudou-se para uma nova sede, alugada, também na Rua Madre de Deus, a qual contava com salão de festas, salão de jogos recreativos, enfim locais que permitiam uma maior participação e integração dos sócios e inclusive seus familiares.

Ficaram famosas as grandes festas carnavalescas, juninas, natalinas, etc promovidas pelo Paulista em seu salão ou mesmo na rua, com a participação de centenas de pessoas.

Esse imóvel sediou o Paulista por cerca de 10 anosa, até que a Diretoria, da qual participavam entre outros os Srs. Hilário Battelli, Rafael Rizzo, Luiz Cagnone e João Penteado) iniciou uma grande campanha de arrecadação de fundos através da venda de títulos patrimoniais , empréstimos, etc. e, com os recursos obtidos e contando com a ajuda do Deputado Wadih Helou que intermediou a obtenção de um Financiamento na Caixa Econômica, adquiriu a atual sede localizada na mesma Rua Madre de Deus, mas no número, nº1041.

Sede do Paulista F.C.
Fonte: Arquivo Portal da Mooca
Festa Típica na Sede do Paulista
Fonte: Arquivo Paulista F. C.

Mas, voltemos ao futebol. O Paulista praticamente efetuou todos os seus jogos em campos adversários, uma vez que só nos últimos anos passou a “mandar” seus jogos ora no campo do Democrático, situado próximo a sede social do Juventus, ora no chamado Campo dos Bois localizado no Alto da Mooca ou no Distrital da Mooca, onde se localiza a Administração Regional.

É comum na várzea (assim como no futebol profissional) a existência de clubes com maior rivalidade. No caso do Paulista, os seus maiores rivais eram a Ponte Preta (da rua Padre Raposo), Democrático, Cacau, Mocidade Paulista e o Madrid.

Alguns craques passaram pelo Paulista e vieram a integrar equipes profissionais : Zanetti, que atuou no Juventus, Ecio Pasca, que atuou no Palmeiras e depois se tornou um treinador de considerável sucesso, além de Pedrinho (irmão de Ecio) meia esquerda de destaque do Juventus, Pasquera e Belacosa que também atuaram na equipe principal do Juventus.

Mas, o craque mais renomado que atuou pelo Paulista foi Julio Botelho, famoso ponta direita que passou pelo Juventus, Portuguesa de Desportos, Fiorentina da Itália e Palmeiras, chegando a seleção Brasileira

Uma das formações do Paulista F. C.
Fonte: Arquivo Paulista F. C.
Uma das formações do Paulista F. C.
Fonte: Arquivo Paulista F. C.

A verdadeira história de Julio Botelho

Dizem os antigos dirigentes do Paulista que embora costumeiramente se conta que o Julinho saiu do Penhense ( um clube da Penha-SP) para o futebol, profissional, quando a verdadeira história, que nunca foi contada é a seguinte : “Uma ocasião, o Paulista ia enfrentar os amadores do Juventus.

Nós tínhamos aqui o Pedro Gasparotto, que era o nosso meia direita, mas ele era profissional do Palmeiras e achava que, por essa condição, ele ficaria mal com o pessoal do Palmeiras se jogasse. Então ele prometeu trazer uma pessoa da Penha para substituí-lo e essa pessoa, por acaso, era o Julinho.

O Julinho chegou aqui de tamanco, se trocou em nosso vestiário e jogou na meia direita. Acontece que ele jogou maravilhosamente, marcando dois gols e chutou uma falta onde a bola bateu na trave e voltou para o meio de campo, de tão violento que foi o chute.

Tão boa foi a exibição que os diretores do Juventus não deixaram o Julinho sair do estádio sem assinar contrato, principalmente porque o Niquinho, titular da equipe principal do Juventus, estava machucado e o clube necessitava de um substituto para ele.

Na verdade, tão boa foi a exibição do Paulista, que o Juventus quis ficar, além do Julinho, com mais 5 de seus jogadores : Palito, Pichurim, Jaime, Lito, Iochi e o goleiro Almeida. Aliás, sobre o Iochi temos uma história interessante : ele estreou nos amadores do Juventus num domingo e já no domingo seguinte se apresentou no Paulista para voltar a defender seu clube de origem. Perguntado do porque do retorno, ele disse, pó, lá eles dão guaraná depois dos jogos !!!

Júlio Botelho
Fonte: Arquivo Portal da Mooca

Muitos bons jogadores passaram pelo Paulista, além daqueles já citados, tais como:Bule, Pedro Gasparotto, Vitinho, mas, perguntados sobre o melhor jogador que atuou pelo Paulista em todos os tempos, os dirigentes do Clube são unânimes em afirmar : foi Pichurim. “Esse era craque de verdade – afirmou Lourival Campiero – com grande entusiasmo”.

A camisa e a bola da Grande Conquista
Fonte: Arquivo Portal da Mooca

Mas, sem dúvida nenhuma o grande orgulho e a maior conquista do “Paulistinha” ocorreu no ano de 1956, com a conquista do campeonato promovido pelo Conselho Municipal de Esportes – Distrito Mooca, batendo na finalissima ao sempre aguerrido time do Madrid FC pela expressiva contagem de 4 x 2. A bola dessa partida é guardada até hoje e exibida como um troféu na sede do Clube.

Deve-se reconhecer, porém, que nem essa conquista foi o suficiente para esquecer o ocorrido no mesmo torneio, realizado no ano anterior (1955), quando o Paulista também chegou à final e enfrentou a equipe do Bairro Chinês (também da Mooca). Faltavam apenas 17 minutos para o término da partida, quando ocorreu uma falta nas proximidades da área do Paulista, falta esta marcada pelo arbitro Manuelão. Os jogadores do adversário pleitearam a marcação de um pênalti e, diante da recusa do arbitro, passaram a agredi-lo. Diante disso, Manuelão deu a partida por encerrada. Como de praxe, o assunto foi para o “tapetão” e numa decisão esdrúxula, o Bairro Chinês, defendido pelo então advogado Brasil Vita, foi declarado vencedor da partida e, conseqüentemente, campeão do torneio. E até hoje, os velhos atletas e dirigentes choram essa derrota. Mas várzea sempre foi assim. Jogos que só terminam quando o adversário empata; memoráveis brigas, hoje recordadas até com saudades ; craques que nunca chegaram a times profissionais, grandes amizades e, principalmente, muita paixão em defesa da camisa de seu time.

Infelizmente, pelas dificuldades citadas no início desta matéria, comum a maioria dos clubes, o glorioso Paulista F.C. foi obrigado e extinguir as equipes de futebol de campo.

Hoje, todavia, em sua sede própria o Clube mantém equipes de futebol de salão, nas categorias mirim, infantil, infanto e juvenil, além da escolinha, realizando, concomitantemente, um trabalho social apoiando e incentivando a prática de esportes por parte de crianças pertencentes a famílias carentes. liás, esse papel social tem sido marcante, através da realização de campanhas visando a arrecadação de agasalhos e de mantimentos distribuídos, posteriormente, para famílias carentes da região.

Quadra Futebol de Salão
Fonte: Arquivo Portal da Mooca