PORTUGUESA DA MOOCA

Para contar a história da Portuguesa da Mooca, tivemos a felicidade de conseguir reunir quatro de seus mais importantes defensores: Gilberto Panighel (o famoso Nino), Washington Machado, Valter Gaspar Branco (Espingarda) e Antonio Azevedo (Toninho).

E são eles que nos relembram com emoção que, por volta de 1922 já existia na Mooca um clube de várzea denominado Floresta, nome esse inspirado em um clube homônimo que disputava o campeonato oficial de São Paulo. Como a Diretoria do Floresta era composta por elementos da colônia portuguesa, em um dado momento, acharam por bem mudar o nome do clube para uma nomenclatura relacionada ao seu país de origem.

De imediato, duas hipóteses se sobressaíram : Portuguesa e Vasco da Gama. Parte dos dirigentes se mostrou mais simpático a um dos nomes e a outra parte ao outro. Resultado : não chegaram a um acordo e foram criados dois clubes : o Vasco da Gama e a Portuguesa da Mooca, esta fundada em 1922, daí gerando uma extrema rivalidade para o resto da vida.

Por ironia, ambos escolheram locais muito próximos para estabelecer o campo de futebol, em uma região onde havia muitas chácaras. O Vasco da Gama se instalou na esquina da Rua Tobias Barreto com a Rua dos Trilhos, onde hoje se situa o Posto do INSS e a Portuguesa do outro lado da rua, à direita da Rua Tobias Barreto no sentido da Quarta Parada, em local onde existiam os chamados tanques dos Penteado, família proprietária dessa área e assim chamado porque em época de chuvas se formavam vários lagos.

A primeira sede da Portuguesa localizou-se na parte superior de um sobrado onde funcionava a Cantina do Chichilo. Alguns anos mais tarde a sede foi transferida para a Rua da Mooca esquina com a Rua Antunes Maciel, junto à Padaria Rocha e o salão de festas na Rua Pires de Campos.

Giovanna Fegaroglio e Giovanni Rolino – 1914
Arquivo: Roberto Dal Medico
Brasão da Portuguesa
Arquivo: Portal da Mooca

Por volta de 1940, ambos os times tiveram que desocupar os terrenos onde se situavam seus campos e, mais uma vez por ironia do destino, a Portuguesa mudou-se para área cedida pela família Paniguel na Rua do Oratório, defronte a Rua Juvenal Parada e o Vasco da Gama…. bem, o Vasco instalou-se do outro lado da rua, em terreno que ia da Rua da Mooca até quase a Rua do Oratório, com lateral para a Rua Juvenal Parada (onde hoje se encontra o Colégio Armando Araújo.

Pelo que se sabe, desde quando fundados, a Portuguesa e o Vasco só se enfrentaram poucas vezes e em nenhuma dessas ocasiões o jogo chegou ao fim. E nem é necessário dizer a razão ! Além disso, principalmente após a derrota de um desses times para qualquer adversário que fosse, os aficionados do outro promoviam um enterro do rival, passando desafiadoramente defronte a sua sede. Não é necessário dizer que essa “brincadeira” sempre terminava em confusão.

Além do Vasco da Gama, outros times também tornaram-se os grandes rivais da Portuguesa : o Madrid, o Parque da Mooca, o Sampaio Moreira. Dificilmente nos confrontos com esses clubes não ocorriam os famosos “quebra-paus”.

A família Paniguel sempre teve um papel vital para a Portuguesa, quer cedendo  sua propriedade, quer tendo vários representantes entre os dirigentes e atletas do clube. Por iniciativa desses benfeitores, construiu-se dois “barracões” ao lado do campo, onde os seus membros – homens e mulheres – e convidados se reuniam para assistir os jogos. Na verdade, esse local virou um ponto de encontro familiar. Os domingos não eram a mesma coisa se a “Lusa da Mooca” não jogasse e se aquele pessoal não se reunisse. Até os atletas e torcida das equipes que lá vinham jogar se entusiasmavam com a alegria daqueles torcedores e, principalmente, torcedoras.

Não podemos, pois, deixar de citar algumas pessoas importantes para a gloriosa carreira da Portuguesinha : Manuel, Raul, Pedro, Silvio e Pedro Filho, todos da família Paniguel, Abel Mesquita, Antonio Silva, Ezio Sertório, Dante Tamburo, Antonio Gatto, Gregório, Emilio, Antonio “Pintor”, Abel, Luiz “Bóia” e vários outros.

Raul Paniguel
Arquivo: Família Paniguel
Torcida feminina na “arquibancada”
Arquivo: Família Machado

Mas a Portuguesa não se limitava a atividade futebolística. Grandes festas também eram promovidas reunindo toda a vizinhança : carnaval, festa junina, bailes. E quando falaram dos bailes, os nossos entrevistados nos pediram para não deixarmos de citar o Conjunto Serenade que abrilhantava esses encontros dançantes.

Naturalmente, ao longo de sua longa existência, muitas partidas e fatos memoráveis ocorreram com o Clube, citados saudosa e entusiasticamente pelos nossos entrevistados. Como seria impossível, neste espaço, relatar todos, selecionamos alguns.

Era comum a Portuguesa ficar grande número de partidas sem perder e numa dessas ocasiões já havia atingido a marca recorde de 39 partidas invictas. Com isso preparou-se uma festa para quando atingisse a 40a. partida, ocasião em que os jogadores seriam homenageados com uma medalha comemorativa. O adversário seria um time do bairro do Pari que, algumas semanas antes, havia perdido do time que a Portuguesa havia enfrentado na semana anterior e aplicado uma sonora goleada de 6 x 0.

Grande público acorreu ao campo da rua do Oratório, já antevendo, uma nova e expressiva vitória. Mas, reconhecem os nossos entrevistados que inclusive participaram daquela partida, o time entrou de “salto alto”. Resultado : perderam o jogo por 3 x 1. E não houve a esperada festa.

Um outro fato interessante muito lembrado foi uma homenagem prestada ao grande craque do Palmeiras, Santos e Seleção Brasileira, Jair da Rosa Pinto, trazido que foi pelo alfaiate Cármino. Elegantemente trajado, Jajá foi homenageado com uma medalha de puro ouro, antecedendo a uma partida entre a Portuguesa e o Pró Pátria, um time da colônia italiana.

Uma das equipes da Portuguesa
Arquivo: Família Paniguel
Jair da Rosa Pinto ( de terno) sendo homenageado
Arquivo: Família Paniguel

E mais uma história de briga, esta contada pelo Sr Antonio Azevedo : “em uma ocasião, veio jogar em nosso campo um time chamado Itaim Bibi. O time era composto por dez negros e um branco e vieram acompanhados de uma torcida que lotou dois caminhões e com muitas garrafas de pinga. Acontece que era um time de jogo muito viril, desleal. Eu estava jogando na lateral esquerda e já estava cansado de levar “botinadas” até que revidei uma dessas entradas faltosas e joguei o adversário contra a grade que circundava o campo. Pra que ? A torcida toda, com garrafas de cachaça na mão, saiu correndo atrás de mim. Felizmente eu era ligeirinho e consegui atravessar o campo e me amoitar na casa da família Paniguel , onde me safei”.

A Portuguesinha jogou em seu campo até 1958, quando o local foi destinado a construção de mais de uma centena de casas. Por mais um ano o clube conseguiu sobreviver jogando nas dependência do “Prado”, onde hoje se situa a Subprefeitura da Mooca, com um time juvenil reforçado pelos “veteranos” Washington e Nenê, mas jamais conseguiria manter aquela união e aquele ambiente familiar proporcionado pelo tradicional campo da Rua do Oratório, encerrando definitivamente as suas atividades em 1959 e deixando saudades de seus componentes, suas histórias e de suas glórias.

* Entrevista concedida em fevereiro/2003

Outra formação da Portuguesa
Arquivo: Família Paniguel
Em pé: Mario Careca (técnico), Padeirão, Agostinho, Nenê, Cerveja, Antoninho e Araújo
Agachados: Zezinho, Machado, Tiãozinho, Zé Coco e Antenor
Arquivo: Família Machado

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