RALUCA

Raphael L. Cardamone – Raluca
Arquivo: Portal da Mooca

Sempre que algum órgão da imprensa necessita fazer alguma matéria a respeito da Mooca sabe a quem recorrer. Estamos falando de Raphael Luongo Cardamone, o Raluca, uma das figuras mais conhecidas e representativas da Mooca. Na verdade, um figuraço!

Ele se diz um cidadão brasileiro, paulista e mooquense, mas se considera um imigrante. Isso porque nasceu no Brás e emigrou para a Mooca quando tinha dois anos de idade. E daqui nunca mais saiu.

Um apaixonado pela Mooca e ele explica o porquê :

“A Mooca é diferente de todos os bairros. O mooquense é afável, ele cumprimenta, ele dá a mão, ele beija e esse modo de ser foi herdado de seus antigos habitantes : os guaianas, que na língua tupi significa “aparentado”. É isso que o povo mooquense transmite até hoje.”

E esse amor ele deixa explícito em mensagens inseridas em camisetas por ele usadas habitualmente

Filho do italiano Sr Angelo Cardamone nascido na cidade de Monte San Giaccomo, Província de Salerno, e de uma americana, Sra.Raquel Luongo Cardamone, nascida na cidade de Hoboken, New Jersey ( a cidade natal de Frank Sinatra), Raluca é um jovem com 72 anos de idade.

Seu avô, Domingos Luongo, proprietário de um dos primeiros casarões localizados na Avenida Paes de Barros, foi responsável pela instalação de uma das primeiras e maiores casas lotéricas da cidade de São Paulo: a famosa Casa Lotérica Luongo, localizada inicialmente na Rua XV de Novembro (centro de São Paulo).

Raluca sempre teve uma verdadeira obsessão por ler. Era muito comum passar os fins de semana se divertindo com seus livros.

Talvez em decorrência também sempre gostou muito de escrever (e de falar), daí aflorando desde cedo a sua vocação de poeta. Desde então já escreveu mais de 500 poemas, geralmente falando de amor e de patriotismo, grande parte deles compilados em dois livros já prontos, mas que, segundo ele, serão editados no momento certo.

Inúmeros desses poemas podem ser desfrutados nos jornais e revistas do bairro e em muitas casas comerciais que os afixam em suas vitrines, numa homenagem ao nosso simpático poeta. Tente andar com ele pelas ruas da Mooca. Você não consegue. Ele é parado de loja em loja para um papinho amigável.

Casa da familia Luongo construída em 1930
Av Paes de Barros, nº 4, hoje nº 120
Arquivo: Familia Luongo
Domingos Luongo
Arquivo: Familia Luongo

Se você pensa que essa atividade intelectual não é compatível com atividade física está muito enganado. O nosso irrequieto Raluca também desde cedo dedicou-se com grande entusiasmo para os esportes. Inicialmente criando o grêmio esportivo na Escola de Comércio Dr Veiga Filho, onde estudava. Depois, na ACM – Associação Cristã de Moços, década de 40, conheceu e praticou (jogava bem, segundo ele) um esporte até então muito pouco difundido : o futebol de salão. Mas ele não se contentou só em praticá-lo.

Fez mais : começou a fazer a introdução desse novel esporte no Clube Puris, aqui na Mooca. No começo, como a bola e o campo eram pequenos, alguns diziam, pejorativamente, que era jogo de moças, mas com o tempo se propagou para vários outros lugares da zona leste.Depois disso, foi a vez da capoeira, também muito pouco conhecida à época.

Um dia, Raluca lembrou que havia lido alguma coisa a respeito da existência de uma academia comandada pelo Mestre Paulo Gomes, localizada “na rua dos boys” (rua Augusta) em que se praticava a capoeira.

Resultado : abandonou um curso de alemão que estava fazendo e se inscreveu na academia. Com muito empenho, rapidamente aprendeu essa prática, ensinou os filhos e a família unida passou a divulgar a capoeira em escolas, igrejas, policia militar, clubes…

Tudo isso ainda era muito pouco para o irrequieto Raluca. Soube que o Juventus havia criado uma equipe de luta de box e, não teve dúvida : lá estava ele treinando box na Rua Javari, na Ford onde trabalhava e até no quintal de sua casa.

É claro que o futebol não poderia ficar de fora desse magnífico rol de atividades. O nosso poli-esportista jogou no Santa Cruz, clube formado na Rua Leocádia Cintra.

Raluca (em pé) com seu avô Domingos Luongo
Arquivo: Familia Luongo
Raluca em matéria do jornal
“O Estado de São Paulo”
Raluca durante entrevista ao Portal da Mooca
Arquivo: Portal da Mooca

Mas, sem dúvida alguma, a iniciativa que mais satisfação e orgulho traz ao nosso herói, foi ter sido um dos fundadores da Escuderia Pepe Legal, cuja história será objeto de uma matéria exclusiva no “Portal”. E essa felicidade resulta não só pela importância histórica dessa organização, mas, principalmente, pelos relevantes serviços prestados pela mesma em memoráveis campanhas de arrecadação de alimentos, roupas e medicamentos para distribuição à população necessitada, campanhas essas em que Raluca participou entusiástica e ativamente.

Esta é uma síntese da longa história de vida do poeta, esportista e benfeitor Raphael Luongo Cardamone, um apaixonado pelo Brasil e, acima de tudo, um cidadão mooquense.

Observações :

– Entrevista concedida em novembro de 2002 ;

– Raphael Cardamone, o Raluca, faleceu em 1º de abril de 2008 ;

– Nossos agradecimentos a Sra Márcia, da Moocapricho pelo apoio dado.