WASHINGTON – O CRAQUE DA CAMISA 10

Washington, o eterno 10 da Portuguesa
Fonte: Família Machado

Muita gente já “jogou bola” no quintal de sua casa. O Washington Machado também. Só que o quintal da casa do Washington era um campo de futebol tamanho oficial : o campo da Portuguesa da Mooca, que ficava bem atrás da sua casa, na Rua do Oratório.
Mas não foi só esse aspecto que diferenciou Washington (ou Ostim como era apelidado) de tantos outros jogadores da várzea, tornando-se um dos craques varzeanos mais conhecidos. O nosso homenageado jogou por 18 anos na A.R. Portuguesa da Mooca.

Durante esse período, a Portuguesa contou com inúmeros atletas em cada uma das posições do time (em alguns casos até mais de uma dezena). Menos na posição de “meia esquerda”. Durante esses 18 anos só o Washington usou a camisa 10.

Na verdade, ele abriu mão dessa posição algumas vezes : quando não tinha nenhum destro para jogar na meia direita, ele era para lá deslocado, já que chutava com os dois pés (um de cada vez, é claro!), dando lugar a um canhoto na meia esquerda. Mas, a camisa 10 ficava com o Washington. E olhe que, nessa época, a tradição mandava que o número da camisa obedecesse a posição.Mas, houve uma única ocasião em que  a sua camisa foi usada por um outro jogador.

É que a fama desse Camisa 10 da Portuguesa já se espalhara pela várzea e, com isso, passou a ser alvo de marcação especial por parte dos adversários. Numa determinada partida, quando os atletas ainda estavam no vestiário vestindo seus uniformes e a equipe contrária fazia o mesmo no vestiário ao lado, separados por uma parede de madeira, o Washington ouviu o técnico adversário dar a ordem : “marquem o 10 e não deixem ele fazer nada” . Como era para o bem do time, Washington não titubeou em abrir mão da posse da camisa 10 e trocou-a pela camisa 8…..Mas, só nessa ocasião!

Equipe da Portuguesa, com Washington na “meia esquerda” (1954)
Fonte: Família Machado
Washington defendendo o Brasil da Mooca (1943)
Fonte: Família Machado

Além de um artilheiro aguerrido, mas sem deixar de ser habilidoso, Washington foi um exímio batedor de pênaltis. Em uma ocasião, desta feita jogando pela equipe do Brasil da Mooca (além da Portuguesa, este foi o único time onde atuou algumas vezes) disputou um torneio contra quatro outros grandes times da várzea e, confiando mais no seu cobrador de pênaltis do que na própria equipe, o técnico do Brasil resolveu adotar como estratégia a famosa “retranca” e garantir o empate para tentar decidir as partidas nos pênaltis.

E, assim, de fato empatou as três primeiras em 0 x 0 e Washington concretizou em gol as 9 cobranças. Uma explicação : nessa época, na decisão em pênaltis, o mesmo jogador efetuava três cobranças seguidas.

No quarto jogo, contra a equipe do Cairú, o placar de 0x0 se repetiu e para o time adversário foi destacado para cobrar as penalidades máximas ninguém menos que o jogador Pinga, que depois se tornou profissional, defendendo a Portuguesa de Desportos e o Vasco da Gama e chegando a Seleção Brasileira. Pois bem, não é que o Pinga errou dois dos três pênaltis! E aí, sob grande pressão, Washington foi para sua missão e, embora errando a primeira das cobranças, concretizou em gol as outras duas, dando o título para o Brasil.

De tão alegres pela emocionante vitória, os torcedores carregaram o grande herói nos ombros até a sede do Clube.

Washington recebendo medalha de artilheiro da temporada das mãos do Deputado Arual e esposa
Fonte: Família Machado
Washington na “meia esquerda” da Seleção da Mooca
Fonte: Família Machado

Sua carreira futebolística foi de muito prestígio e de muitas alegrias. Uma das que mais marcaram a sua vida foi a de ter sido convocado para a seleção da Mooca em 1947. Isso, à época, era uma grande honra pois a concorrência era muito grande, face a enorme quantidade de craques que desfilavam nos times de várzea.

E quase tornou-se um profissional do futebol, onde temos certeza teria se consagrado.

Foi quando teve uma oportunidade de treinar no Corinthians juntamente com o seu amigo Belacosa. Este acabou contratado, mas Washington, como já aconteceu com muitos craques da várzea, desistiu de seguir em frente pois não podia abandonar o emprego que lhe dava sustento.

Casado com a Sra Filomena, a “Dona Nena”, tem duas filhas (Ângela e Ariete, esta casada com Oscar), dois netos (Eloisa e Eduardo), Machado, como hoje é chamado, além do papo diário com os muitos amigos, vive inventando coisas. Nos últimos anos, seu principal hobby tem sido produzir objetos artesanais, principalmente para as crianças. É comum vê-lo distribuindo pipas e cata-ventos para a criançada da vizinhança e das escolas das proximidades.

Sensibilizou-nos a emoção e o entusiasmo do nosso entrevistado enquanto nos contava a sua história. Seu costumeiro bom-humor só o traiu uma única vez, quando a sua esposa interrompeu a entrevista para dizer que ele só jogava na Portuguesa porque o seu sogro, Sr Raul Paniguel era Diretor do Clube. Mas logo percebeu que se tratava de uma brincadeira da Dona Nena, sua maior admiradora, e voltou a sorrir e a continuar sua história.

Família de Washington em suas bodas de ouro
Fonte: Família Machado
Washington durante entrevista p/ o Portal da Mooca
Fonte: Portal da Mooca

obs : Washington Machado faleceu em 05/08/2006 às vésperas de completar 85 anos de idade