O MITO ZÉ ÍNDIO

Zé Índio pouco tempo depois de ter se mudado para a Mooca, na década de 60

Alguém já citou que “quando fala-se em Mooca, lembra-se de Zé Índio, quando fala-se em Zé Índio, lembra-se da Mooca”. De fato, não há quem, pelo menos até a geração de mooquenses dos anos 80, que não tenha, ao menos, ouvido falar de Zé Índio.

O que pouca gente sabe é que seu nome de batismo é José Ferreira do Nascimento, nascido em Recife em 19/10/1937, filho de Otávio Ramos do Nascimento e de Maria Ferreira do Nascimento, tendo vindo para São Paulo com 14 anos de idade, aqui ficando até os 19 quando se mudou para o Rio de Janeiro. Dois anos depois tomou uma atitude que iria mudar sua vida: veio residir na Mooca, “convocado” que foi por um amigo proprietário da casa de Calçados Ternura na rua Terezina. Pouco tempo depois, Zé Índio já começou sua vida profissional como vendedor e posteriormente proprietário de loja de calçados e de roupas.

O apelido veio desde cedo em função de seu tipo físico e cor de pele que lembravam realmente a raça indígena.

Ainda jovem, o nosso herói começou a participar da famosa Escuderia Pepe Legal, onde teve intensa participação principalmente nas gincanas, destacando-se por sua valentia e força, usadas quando necessárias, em eventuais confrontos com escuderias adversárias. Falando a respeito, o conhecido radialista e empresário Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tita, diretor da Rádio Panamericana e da TV Record que organizavam as gincanas, afirmou que “quem fazia parte dessa turma (do Pepe Legal) era o Zé Índio. O que essa escuderia nos deu de trabalho não está no gibi”.

Zé Índio com companheiros da Pepe Legal em 2010
Equipe do C.A. Parque da Mooca com Zé Índio (terceiro em pé da direita para a esquerda) e seu irmão Mauricio (terceiro em pé da esquerda para a direita)

Paralelamente, Zé Índio foi criando fama também em outro segmento : o futebol varzeano, sendo constantemente requisitado por vários clubes, destacando-se principalmente o Parque da Mooca, Apea, Flor do Az, Democrático e Paschoal Moreira. Aqui, também, a valentia era um fator preponderante para essas convocações e necessária para, juntamente com seu irmão Mauricio, impor um pouco de respeito aos adversários e juízes. Prova disso é retratada num comentário feito por um ex-colega do Parque da Mooca:

“Enfrentávamos a equipe do Guapira, do Jaçanã. Um belo jogo, vencíamos por 2×1 quando em uma jogada normal o juiz expulsou o Zé Índio. Este então disse que não iria sair, pois a jogada não era para expulsão. Até os jogadores adversários pediram para que o juiz revogasse a decisão. Mas o mesmo não cedia. Diante disso, os jogadores optaram pela retirada do juiz, substituindo-o por um da várzea, já acostumado a atuar como juiz neste tipo de partida.O jogo terminou com a vitória para o Parque da Mooca.”

Histórias como essa começaram a se espalhar não só pela Mooca mas por toda a cidade, muitas delas, naturalmente, aumentadas no boca a boca, tornando Zé Índio um ídolo de muitos e até um mito.

Zé Índio, na ocasião defendendo o Apea, “resolvendo um assunto com o bandeirinha”

Essa fama, naturalmente, chamou a atenção do meio político passando a receber insistentes pedidos para se candidatar a um cargo eletivo, o que, de fato, veio a acontecer em 1988 quando foi eleito vereador pela legenda do Partido Democrático Social (PDS), reelegendo-se em 1992 na legenda do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e em 1996 na legenda do Partido Progressista Brasileiro (PPB).

Em 1998 foi eleito deputado federal na legenda do PPB com 107.381 votos, provenientes em sua maioria do bairro paulistano da Mooca, uma de suas principais bases eleitorais. No pleito de 2002 tentou a reeleição, agora na legenda do PMDB, e obteve uma suplência, Deixou a Câmara ao final da legislatura, em janeiro de 2003, e em 2004 candidatou-se vereador em São Paulo, dessa vez na legenda do Partido Democrático (PDT), mas novamente obteve uma suplência, provavelmente desgastado por seu distanciamento da Mooca durante o mandato em que esteve em Brasília. Diante disso, optou por afastar-se da política.

Hoje, o prestígio de Zé Índio junto aos seus amigos e ao mundo da várzea ainda é muito grande, sendo constantemente convidado por clubes ainda existentes, para suas festas e para homenagens.

José Ferreira do Nascimento, o Zé Índio, é casado com Rosemary do Nascimento e o casal possui dois filhos: Danilo e Luciana e cinco netos.

Esta matéria é um reconhecimento do Portal da Mooca a esse mooquense que muito contribuiu e ainda contribui para a divulgação do nome da Mooca, por ocasião de seu 80º aniversário.

Publicado em 19/10/2017

Zé Índio (no fundo à esquerda) em um evento no C.A. Parque das Mooca
Zé Índio, em 1988, assinando sua filiação ao PDS para candidatar-se a vereador, tendo ao fundo Dr Paulo Maluf e ao seu lado os ilustres mooqueses do Juventus e C.A.Parque da Mooca Roberto Archiná, Sebastião Ubson, Áureo Marcelino e outros
Faixas de algumas das conquistas em que Zé Índio esteve presente defendendo o C.A. Parque da Mooca
Homenagem prestada a Zé Índio pela Câmara Municipal de São Paulo em 2011
Zé Índio, em foto recente, ao lado de sua esposa e do amigo Chiquinho Romanucci
Zé Índio defendendo a camisa do C.A. Parque da Mooca em partida realizada no estádio do Juventus
Zé Índio, em foto recente, mostrando a camisa do C.A. Parque da Mooca que vestiu conquistando muitas glórias